Tony Bellotto
Músico e escritor
De acordo com o censo de 2008, 400 menores abandonados vagam pelas ruas do Rio de Janeiro. Nove entre dez deles são usuários de crack, o letal composto químico quatro vezes mais potente que a cocaína. Muitos desses menores viciados usam como ponto de encontro e consumo da droga a rua Sá Ferreira, em Copacabana. A esquina da Sá Ferreira com a avenida Nossa Senhora de Copacabana é um dos lugares mais agitados da cidade. Trânsito intenso, pedestres apressados. Turistas, camelôs, moradores e cachorrinhos disputam a tapa cada centímetro quadrado de calçada. Lojas, pontos comerciais, fumaça e barulho compõem o cenário da outrora idílica Copacabana. Há policiais militares rondando a região.
Nada disso, entretanto, consegue impedir que ali floresça uma cracolândia. Crianças letárgicas, consumidas pela droga, acendem em paz suas pedras de crack. Depois ficam por ali, prostradas no chão, experimentando o que deve ser o "barato" da droga. Quem as vê, supõe que estão mergulhadas numa espécie de inferno.
O secretário municipal de Assistência Social, Fernando Wiliam, alerta que há uma epidemia de consumo de crack na cidade. Ainda este mês ele entregará ao prefeito Eduardo Paes um conjunto de propostas para tentar, se não solucionar, pelo menos amenizar o problema. A prefeitura tem uma rede de abrigos com 2.146 vagas para usuários de crack.
As crianças, quando vão para lá, recebem assistência, são alimentadas, dormem em camas e cortam os cabelos. Depois vão embora. Se são impedidas de sair durante uma crise de abstinência, arrebentam o portão ou pulam o muro. É sabido que a prisão pura e simples não resolve esse tipo de problema. Mas o que resolve então? Imagino que a resposta seja bastante complexa e a questão impossível de ser solucionada com uma ou duas medidas paliativas. Enquanto isso, vamos aprendendo a conviver com essas crianças-zumbi, que nos assombram e assustam com sua desilusão. A desilusão delas é nossa também. Estamos todos letárgicos no meio de uma cracolândia gigante
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