André: Hip-Hop, para o alto e avante



Salve, salve!
Meu nome é André Ebner Silva, tenho 23 anos e venho hoje contar a história da minha vida e minha ligação com o hip-hop, se é que dava para contar separado. Bom, vou contar do fim para o princípio, segura.


Hoje moro em Ribeirão Preto interior de São Paulo, tenho vinte e três anos. Procuro estar cercado das pessoas que amo, é o que eu considero de meu império.

Trabalho profissionalmente como engenheiro aeronáutico, na parte de manutenção de aeronaves. Bem diferente do meu outro trabalho, não-profissional, o trabalho hip-hopiano, que eu jamais abrirei mão.

Escrevo poemas, textos e o que chamamos de literatura periférica ou marginal ou simplesmente nossa literatura. Escrevo para jornais, blogs, e o que mais pintar.

Escrevo bastante como se fosse um treino, para que com vinte e sete anos eu consiga fazer bons textos. Este pensamento me ajuda a superar a minha desconfiança e autocrítica daquilo tudo que escrevia.

Sempre gostei de rap, mas o envolvimento com o movimento hip-hop veio de uns dois anos para cá, quando comecei a participar, promover palestras, buscar conhecimentos, contatos, enfim, tentar ajudar a carregar o piano do hip-hop. Fizemos um evento em Ribeirão Preto com Toni C., bem massa, com apresentação do seu filme no cinema e tal, e durante a palestra me bateu um insight muito forte que eu jamais seria feliz se ficasse de fora do movimento.

Neste meio tempo, venho escrevendo poesia periférica, traduzi para legendagem o DVD do GOG, o Buzzo me chamou para escrever poesia pro site dele, mantenho o meu blog, escrevo pro jornal, e assim estou, sempre aprendendo...

Além de escritor, procuro ser um bom leitor. Hoje leio Literatura Marginal, Machado de Assis, filosofias mais tateável como Sartre, adoro Dostoiévisk, e estou tentando ler mais poesia, pra eu poder melhorar as minhas. Conheci há pouco tempo Solano Trindade, que é a literatura periférica que fazemos hoje, mas feita há 60 anos atrás. Tem uma frase que deve ser minha que não me sai da cabeça: A poesia é incompleta, mas infinita.

Durante meus anos de faculdade, na USP em São Carlos, em meio aos cálculos do curso, participei do movimento estudantil, fundamos secretaria acadêmica, fui representante de aluno, participamos de greves, passeatas e ocupações. Note que o termo é ocupação, e não invasões, como a imprensa chama, pois apenas ocupamos o que é nosso por direito. É na luta que nos encontramos.

Eu morava no alojamento estudantil da USP, e toda manifestação estudantil veio de um esforço para contrapor a política desassistencial do governo do PSDB. Vagas só para ricos. Dormimos três meses na sala de aula, até conseguirmos conquistas importantes. Essa ocupação é que deu a partida na engrenagem para todo o processo de mobilização dos estudantes em 2007, de movimento estudantil que até então estava adormecido.

Entrei na faculdade em 2003 e passar não foi fácil. Eu vim de escola pública, e consegui fazer o ensino médio em uma boa escola, graças à bolsa de estudos. Sem a bolsa, não chegaria ou teria demorado um tempo a mais, já que o curso de engenharia aeronáutica é bem concorrido.

Minha paixão pela literatura vem desde pequeno, sempre lí muito. No começo, Agatha Christie, os livros infanto-juvenis (série Vagalume), Oliver Twist e As viagens de Gulliver me marcaram bastante. E depois, a partir do ensino médio, lí muita filosofia, Platão, Nietzsche, Kant, Dom Quixote, Machado de Assis, ... Meus avós gostavam de ler, e por eu ter ido morar com eles em Ribeirão Preto, tinha um arsenal de livros à disposição.

Passei toda minha infância na cidade de Cravinhos, próximo a Ribeirão. Por ser uma cidade pequena, sem muita criminalidade, tinha uma boa liberdade para ficar na rua, brincando e aprendendo. Lembro agora de uma frase do Aliado G: “Não temos que tirar os jovens da rua, mas devolver as ruas aos jovens”. É isso mesmo, temos que dar condições, oficinas e espaço para o desenvolvimento dos talentos que surgem todos os dias nas ruas.

Bom, resumidamente é isso. Sou agradecido a todos que passaram na minha vida, me considero um pedaço de cada pessoa que conheci arranjados do meu jeito. Se hoje estou bem, com um bom emprego, sei que sou uma pequeníssima parte e tenho a obrigação de lutar para a possibilidade de sucesso de toda a grande parte.

Tenho uma vida a contribuir para o hip-hop e para o movimento social, em busca de alternativas para o grau de miséria de oportunidades que enfrentamos. É isso que me locomove todos os dias. E liga nóis.

André Ebner Silva é adepto da cultura hip-hop e da literatura periférica, é engenheiro aeronáutico.

www.literaturaperiferica.blogger.com.br
www.andreebnersilva.blogspot.com

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