Ailton Magioli |
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Um blog para discussão de temas pertinentes a Cena do Hip Hop em toda a sua abrangência como forma de Cultura e instrumento de luta e afirmação.
Ailton Magioli |
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Ailton Magioli |
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Perto de completar três décadas de existência, e mais de dois decênios após o fim da ditadura militar, a controvérsia em torno da Lei de Anistia de 1979 - que já era grande naquela época - pode crescer. O motivo: da mesma forma como há trinta anos trás, hoje questiona-se a ''anistia recíproca'' proclamada pelos generais que governavam o Brasil e que, sob o rótulo de ''crimes conexos'' (como diz a lei) acoberta torturadores e assassínos de presos políticos e deixa-os livres des processos judiciais e de punição.
Mas a exigência de punição dos agentes públicos que cometeram aqueles crimes tenebrosos nunca foi posta de lado nestes anos todos. A polêmica esquentou nos últimos meses, principalmente depois do início de uma ação judicial, cujo principal alvo é o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, para responsabilizar os acusados pelo sequestro, tortura e morte de presos políticos, numa ação iniciada por duas famílias, a Silva Telles (cujos membros, inclusive crianças pequenas, foram sequestrados e torturados no DOI Codi de São Paulo em 1972) e a do jornalista Luiz Eduardo Merlino (assassinado sob tortura em 1971).
A ação pede o reconhecimento da responsbilidade daqueles torturadores. E, a partir da tese de que a lei de anistia não acoberta torturadores, eles também podem ser condenados a indenizar a União pelos valores pagos às famílias das vítimas. Há também ações apurando os sequestros, em 1980, do ítalo-argentino Lorenzo I. Viñas (em Uruguaiana, RS) e do casal argentino Horácio D. Campiglia e Monica S. P. Binstock (no Rio de Janeiro), no contexto da Operação Condor, que articulava a repressão política dos países do Cone Sul.
A ação também questiona diretamente a ''anistia recíproca' da ditadura militar. Nesse sentido, no dia 26, os procuradores Marlon A. Weichert e Eugênia G. Fávero, de São Paulo, protocolaram representações nas Procuradorias da República do Rio e de São Paulo, e também em Uruguaiana (RS) pedindo a abertura de ação judicial contra agentes públicos acusados de assassinato e seqüestro durante a ditadura. São ações judiciais que podem desembocar em um pronunciamento do STF sobre a legalidade - questionada pelos procuradores - da cobertura daqueles crimes pela Lei de Anistia.
Outro elemento que pode fermentar a controvérsia é o anúncio, feito pelo coronel Ustra, de que, em sua defesa, vai arrolar como testemunhas autoridades da República (como o senador Romeu Tuma, que foi delegado do DOPS paulista sob a ditadura) e generais (como o comandante do Exército, Enzo Peri). Seu argumento é o de que, hoje, eles ''são os substitutos legais dos chefes, que, na época do meu comando do DOI/II Ex, deram-me as ordens cumpridas por mim, rigorosamente''. Isto é, Ustra usa o velho argumento, alegado por criminosos nazistas no Tribunal de Nuremberg, em 1945-1946, de que apenas cumpriam ordens...
O Brasil está atrasado nesta questão. Torturadores e responsáveis pela violência política nas ditaduras da Argentina, Uruguai e mesmo no Chile de Pinochet já tiveram que comparecer aos tribunais, para responder por crimes contra a humanidade. Entre eles generais, alguns que exerceram a presidência da República durante aquelas ditaduras.
Este atraso, tudo indica, pode começar a ser superado. A procuradora Eugênia G. Fávero considera fundamental que o Estado investigue, processe e julgue os crimes contra a humanidade cometidos durante a ditadura, e argumenta que a Lei de Anistia não protege os responsáveis por sequestro, tortura e assassinato políticos. São crimes que, disse, “não se apagam com o tempo, são imprescritíveis e há esse dever de justiça e de memória”, destaca. Ela tem razão.
Darwin Santiago Amaral, Professor de história |
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Por Lucas Machado e Fabiana Ferrara |
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Hélio Lauar, Psiquiatra, mestre em psicologia social (UFMG), professor da PUC Minas, presidente da Ata Cidadania |
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Hoje, Ubirajara Gomes da Silva deve começar a fazer os testes exigidos para ser contratado como escriturário pelo Banco do Brasil. São testes de saúde e uma entrevista que funciona como teste psicológico. Nele, Ubirajara terá que contar a sua vida. Até a madrugada de ontem, ele não sabia que história contaria. Tinha medo de contar a verdade. Uma verdade que ele mesmo considera inacreditável.
Há um ano, Ubirajara foi aprovado no concurso do Banco do Brasil. Ficou na 136ª colocação no Recife. Eram mais de 19 mil candidatos. Na última semana, finalmente, foi convocado para assumir o cargo. Porém, Ubirajara sequer tinha um documento. Nem a certidão de nascimento. Este homem praticamente não existia para a sociedade. Ele mesmo se sentia “invisível”, talvez até “irreal”. Isso explica porque durante a entrevista para esta reportagem, Ubiarajara perguntou várias vezes que impressão estava causando. “O que será que as pessoas vão pensar de mim?”, questinava, com a insegurança de quem está se sentindo real pela primeira vez na vida.
Há 12 anos, Ubirajara da Silva mora pelas ruas do Recife.
A mentira
Ubirajara nunca conheceu seus pais. Foi abandonado dias depois do seu nascimento e cresceu em um orfanato. Lá, dormia com dezenas de outras crianças com histórias parecidas com a sua. Com sonhos iguais aos seus. Esperavam pelo milagre da adoção, talvez pelo arrependimento dos pais; por dias melhores. Até crescerem. Até descobrirem que esses tais dias melhores não viriam. Aos 18 anos era hora de deixar o orfanato e tentar a vida nas ruas. Na rua por onde todos passam, Ubirajara ficou. Uma história que se repete pelas esquinas, pelos bancos de praça, pelos viadutos de qualquer grande cidade. Uma história que - dentro da realidade social do país - poderia ser até considerada comum. Poderia,se não fosse a história de Ubirajara. Poderia, se fosse verdade.
A esquina
00h10. O jogo da seleção brasileira acabara havia poucos minutos e o fluxo de carros era um pouco maior do que o habitual paraum início de madrugada em uma das esquinas mais nobres do Recife, entre as rua das Pernambucanas e da Amizade, no bairro das Graças. Naquele horário, o único movimento era o dos carros. Dificilmente passaria alguém caminhando pela calçada. E era justamente por isso que Ubirajara estava ali. Naquela esquina, ele passaria a noite. Dormiria. Era o seu endereço. Sua casa. Há 12 anos, ele vive na rua. Era uma criança de 15 anos, perdida. Hoje é um homem de 27 que, finalmente, parece ter encontrado os tais “dias melhores”.
Sentando no pequeno batente de uma farmácia que fica fechada entre as 22h e às 6h30, ele começa a contar a sua vida. “Minha história é inacreditável”, adianta. Com razão. É tão inacreditável que ele costuma mentir sobre sua origem. Prefere contar para as pessoas a versão que abriu essa reportagem. O drama comum do menino abandonado que cresceu em um orfanato. “Conto isso porque sei que é uma versão mais fácil de ser aceita”, confessa Ubiaraja.
Por quase duas horas, ele continuaria contando a sua verdadeira história. Uma espécie de conto de fadas moderno. Aparentemente uma das muitas histórias sobre a miséria de um país e as suas conseqüências trágicas na vida de uma pessoa, na desestruturação de famílias, nas distorções das formas de relacionamento.
O pedaço de papel
Um rato passou a alguns metros e logo desapareceu. Dois meninos vieram pela calçada com garrafas de cola em uma mão e um pedaço de madeira afiado em outra. Sumiram no escuro. A chuva começou a cair. Ubirajara encolheu as pernas e protegeu sua pasta entupida de papéis e suas duas sacolas de plástico. Numa delas, um pouco de comida. Na outra, alguns itens de higiene pessoal. Ele não tem sequer uma escova de dentes. Da pasta, tira um pedaço de papel com marcas de dobras. No alto da página branca, a marca do Banco do Brasil. Um pouco abaixo, o nome completo de Ubirajara e alguns números. Um deles era 136. A quele morador de rua encolhido no batente de uma farmácia havia sido o 136º colocado no concurso do Banco do Brasil.
A família
“Quem diria que aquele retardado seria funcionário do Banco do Brasil?”, pergunta Ubirajara, em tom de orgulho. Realmente, ninguém jamais diria que um jovem que viveu 12 anos na rua conseguisse ser aprovado em um concurso público tão disputado. Concursos que se tornaram uma espécie de projeto de futuro para parte significativa da sociedade - alimentando uma verdadeira indústria de cursos preparatórios. Mas o “quem diria” de Ubirajara, na verdade, não era uma pergunta. Era uma resposta para alguns dos seus familiares. Pessoas que sumiram da sua vida desde o dia em que ele resolveu sair de casa. “Essa é a parte da minha história que eu queria esquecer”.
00h40. Ubirajara está chorando. Pela primeira e única vez naquela madrugada. “O que eu realmente queria era ter tido minha mãe perto”, diz enquanto passa a mão nos olhos vermelhos. O desabafo aconteceu enquanto ele contava a sua infância. Filho de uma garçonete com um PM exonerado, foi deixado de lado pelos dois. Mas não totalmente abandonado - como na história queescolheu contar. Na verdade, o menino foi criado na casa da sua avó materna, junto com mais quatro irmãos, em Paulista. Tinha uma condição de vida precária, mas digna. Pobre, não miserável. “Quando as pessoas sabem que eu tenho pai e mãe ficam revoltadas comigo por eu estar na rua. Me culpam. Ficam me julgando como se eu fosse um maluco ou um rebelde. Como se eu tivesse escolhido isso. Mas não é uma escolha. Você acha que eu não queria estar em uma cama agora?”
As primeiras noites na rua
Ubirajara relata constantes agressões físicas e psicológicas que sofria na casa da avó. De lá veio o termo “retardado”, que ele não esquece. Aos 15 anos, costumava fugir de casa. Aos poucos, as fugas eram cada vez mais longas. Cada vez mais sem rumo. Longe de casa, sem dinheiro, começou a dormir pelos cantos. Primeiro, na Avenida Guararapes. Depois, na rampa do Hospital da Restauração. Ele resume essas noites em dois sentimentos: “medo e solidão”. Sentimentos que parecem capazes de resumir as piores noites da vida de qualquer pessoa. No caso dele, não eram as piores. Eram todas.
A virada
Ubirajara estava na 6ª série quando saiu de casa. E, nos primeiros anos sem teto, o seu único objetivo era sobreviver. E não há exagero ou qualquer tom heróico nessa afirmação. A vida na rua tem suas regras. Suas leis. O cotidiano das calçadas não permite escolhas. Não permite pudores. Nem princípios. Não podemos esquecer que esta é, antes de mais nada, a história de um morador de rua. E, nesse ponto, por muito tempo, Ubirajara foi só mais um.
Um dos que pediam esmola, um dos que não cortavam o cabelo, dos que vestiam trapos, dos que sentiam fome, dos que precisavam fazer qualquer coisa para comer (neste caso, não se faz necessário detalhar o “qualquer coisa”). Violentado de todas as formas. Noites de culpa. Noites de dor.
Em 2001, o garoto decidiu voltar a estudar. Foi quando iniciou a reaproximação com os livros, as revistas e os jornais: “Tudo que parava na minha mão, eu sempre lia. Acho que esse foi o meu grande diferencial inclusive nos concursos”. Estudando nas ruas, Ubirajara passou nas duas provas de supletivo e recebeu o diploma do ensino médio. Ainda assim, continuou freqüentando os colégios. Continua, aliás. Por um só motivo: as merendas.
Preguiçoso?
A reaproximação com os pais ou com a avó nunca aconteceu. Ubirajara manteve contato apenas com os irmãos. Todos tiveram uma vida mais digna. Casaram, formaram família, conseguiram emprego. Em mais de uma década de rua, Ubirajara se acostumou a ser chamado de “preguiçoso” e de “teimoso”. “Minha teimosia é que fez com que eu não desistisse dos meus sonhos. Por mais que todo mundo me criticasse, eu continuei fazendo aquilo que eu acreditava”, resume.
No ponto de táxi do Mercado da Madalena, onde Ubirajara “morou” por um bom tempo, os taxistas o definem como um “rapaz honesto, que vivia estudando, não gostava de trabalhar e tinha um jeito de abestalhado”. Os dias de Ubirajara se resumiam a estudar. Às vezes, nas praças. Às vezes, em bibliotecas públicas. “Não tinha todos os livros, aí ia para a biblioteca, fazia rascunhos, copiava tudo e levava comigo esses papéis para todos os cantos”, conta. Ainda leva, na verdade. A tal pasta dele é repleta de anotações. Todos os tipos. Desde a sua mínima contabilidade (vive com algo entre R$ 2 R$ 5 por dia) até um projeto completo para abrir um negócio próprio. “Quero ser nanoempresário. Menor do que micro”, diverte-se.
O futuro
A prova do concurso para escriturário do Banco do Brasil tinha 150 questões. Ubirajara acertou 116. Foi o quinto concurso que fez. Havia passado em outros quatro, mas nunca havia sido chamado. No início da semana passada, soube da convocação pela internet - onde vive quase que uma “vida paralela”. Tem perfil no Ortkut e participa de dezenas de fóruns “habitados” pelos “concurseiros”. É conhecido nesse meio pelo apelido de “Maior Abandonado”. Usa uma foto de Charles Chaplin. “Sou viciado. Procuro sempre lugares que tenham computadores públicos. Na internet, as diferenças diminuem, não me sinto distante de ninguém”, conta, fazendouma analogia com a sua “invisibilidade” como morador de rua. “Estou aqui nessa esquina todas as noites? Ninguém vem aqui falar comigo. Você veio para me entrevistar. Mas você já tinha sequer me visto aqui?”, questiona. A resposta, constrangida, foi “não”.
E foi na internet, em um fórum de discussão para “concurseiros”, que Ubirajara resolveu expor um drama que vinha lhe consumindo em silêncio desde o dia que soube da convocação. Tinha uma dívida de quase R$ 8 mil por empréstimos que fez há anos. E a regra em órgãos públicos é clara: para a contratação ser efetivada, o candidato não pode ter o nome no SPC ou Serasa. Bastou o relato triste para estimular uma verdadeira corrente de ajuda. Uma mobilização virtual que não demoraria para se tornar real. Um amigo que fez na internet se dispôs a pagar parte da sua dívida. Algo em torno de R$ 3 mil. O restante, o próprio Ubirajara pagará em 60 meses com o seu salário (R$ 954, mas que somando outros benefícios pode chegar quase a R$2.000). Dinheiro suficiente para revolucionar sua vida. Para que os seus sonhos, pela primeira vez, possam ser chamados de “planos”.
“Minha vida é como a música de Cazuza: Dias sim, dias não… Vou sobrevivendo sem um arranhão. Da caridade de quem me detesta”.
A proposta de redução da jornada de trabalho é uma reivindicação histórica do movimento sindical. No início do mês foi entregue ao presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), um abaixo-assinado com 1,5 milhão de assinaturas reivindicando a medida. Inúmeras mobilizações em todo país também.
Bandeira unitária
Os dirigentes das principais centrais sindicais do país são unânimes na avaliação de que o Brasil atravessa um momento que propicia a redução da jornada máxima de trabalho de 44 para 40 horas semanais.
Para justificar sua posição favorável á proposta, o deputado petista destacou que “a utilização excessiva do trabalho extraordinário, além de causar evidentes prejuízos à sociedade, ante o aumento do desemprego, causa também graves danos à saúde do trabalhador”.
Ele cita trechos da publicação “Proteção Jurídica à saúde do trabalhador” em que é relatado que “um processo prolongado de fadiga induz à instalação da fadiga crônica, que não cede nem mesmo com o repouso diário. Esse quadro de fadiga patológica compromete o sistema imunológico, deixando o trabalhador muito mais vulnerável às doenças, além de produzir insatisfação com o serviço, absenteísmo, baixa produtividade e maior número de acidentes do trabalho”.
Restrição à hora extra
Em seu parecer, Vicentinho também lembra que estudos aprofundados dos fisiologistas, ergonomistas, psicólogos, médicos do trabalho e outros têm servido para respaldar os fundamentos científicos da tendência mundial de redução da jornada de trabalho, acrescentando que “não adianta limitar a duração da jornada, sem controlar, com rigor, o trabalho extraordinário”.
Ele enfatiza a necessidade de “restringir ao máximo a possibilidade de utilização do trabalho extraordinário. A simples oneração do valor da hora extra não tem sido suficiente para desestimular a sua prática”, destacou.
Para Vicentinho, são adequadas as mudanças propostas no projeto que aumenta o adicional de hora extra em relação ao trabalho perigoso e insalubre. Ele sugere um avanço na proposta original, garantindo adicional de 150% para ambas situações, e não 100% e 150% para o trabalho perigoso e insalubre, respectivamente. Ele alega os sérios danos potenciais que o trabalho extraordinário em condições perigosas ou insalubres pode trazer aos trabalhadores.
O relatório favorável de Vicentinho tem grande importância, mas não significa o fim da batalha no Congresso Nacional. A luta maior ocorrerá em plenário. Nesta quarta-feira (25) representantes das centrais se reunirão em São Paulo, com a assessoria do Dieese, para definir os novos passos da campanha nacional pela redução da jornada sem redução de salários.
Gilberto Gil, Ministro da Cultura |
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Haroldo Vinagre Brasil, Engenheiro, professor universitário |
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Luciana Melo |
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RIO DE JANEIRO – O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Rio embargou, na manhã desta terça-feira, as obras do projeto Cimento Social, que reformava cerca de 70 casas do Morro da Providência, no Centro do Rio. De acordo com o chefe de fiscalização eleitoral do TRE, Luis Fernando Santa Brígida, os autos do processo - aberto pelo órgão na semana passada para investigar a legalidade do programa, fruto de uma emenda do senador e candidato a prefeito Marcelo Crivella (PRB) – apontam que não pode haver obra social nova em ano eleitoral.
“As obras foram paralisadas, pois a fiscalização de propaganda eleitoral do TRE observou que o Cimento Social é considerado irregular. O projeto fere a legislação eleitoral, pois se trata de um programa social inaugurado em ano de eleições”, explicou o Santa Brígida, que estava no Morro da Providência, garantindo o fechamento do canteiro de obras. O embargo foi pedido pelo juiz Fábio Uchoa, em parceria com o Ministério Público Eleitoral.
Segundo o chefe de fiscalização eleitoral, apesar de o projeto ter sido iniciado em dezembro de 2007 em uma parceria com o Exército, o convênio entre os ministérios da Defesa e Cidades, que garantiu os trabalhos, foi firmado somente no dia 31 de janeiro deste ano.
Pegos de surpresa, os trabalhadores do Cimento Social – moradores da comunidade, em sua maioria – ficaram revoltados com a medida e iniciam uma manifestação no local. Foi reforçado o efetivo de segurança nas imediações do canteiro de obras da comunidade, de onde três jovens foram seqüestrados por 11 militares e levados para o Morro da Mineira, local onde foram torturados assassinados por traficantes.
Presença injustificável
Em meio ainda a um clima de consternação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou na segunda-feira de uma reunião de quase uma hora, no Palácio da Guanabara, com cinco familiares dos rapazes mortos pelo tráfico.
AE |
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Familiares deixam o encontro com Lula |
Lula chegou a desabafar que considera “injustificável” a presença de homens do Exército em “uma obra terceirizada”, já que os trabalhadores ali empregados são da comunidade e os únicos militares seriam dois engenheiros. O presidente decidiu receber os familiares dos rapazes para ouvir o outro lado da história, já que tomou conhecimento da maior parte do caso apenas pelo Ministério da Defesa.
Na avaliação do presidente, “são muito diferentes as versões” sobre a forma como os jovens foram abordados, presos e entregues para as facções rivais. Lula defendeu que o julgamento dos 11 envolvidos na morte dos jovens seja feito pela Justiça Civil, e não na Justiça Militar. O ministro Nelson Jobim endossa a mesma tese, o que é contrário ao entendimento dos militares.
Militares devem culpar tenente
Os advogados de 10 dos 11 militares presos devem divulgar, nesta terça-feira, um manifesto com um pedido de desculpas à população. No texto, eles acusam o segundo-tenente Vinicius Ghidetti de ser o único responsável pelo crime. A defesa do oficial rebate essa versão, alegando que pelo menos outros fatores o levaram a deixar os rapazes dentro do Morro da Mineira, na zona norte.
Além de culparem Ghidetti, os militares pedem à população que não faça “julgamentos precipitados”. Dizem que o “sofrimento no cárcere é grande”, mas que não se compara à dor das famílias dos três rapazes, “que naquele fatídico dia tiveram suas vidas ceifadas por uma atitude inconcebível”. Os militares concluem o terceiro parágrafo do manifesto com uma crítica ao tenente: “não é o que se espera de um oficial, que naquele momento equiparou-se àqueles que torturaram e mataram estes jovens”.
Os militares concluem o texto de uma página dizendo terem certeza de que a Justiça está sendo feita e, ao final, o único responsável pelo crime e pela prisão deles será responsabilizado na forma da lei - “dos homens e de Deus”. Pedem, por fim, a compreensão de todos e que acreditem “em nossa inocência, na Justiça e no Exército Brasileiro”.
Jobim no Rio
Nesta terça-feira, Jobim despacha na sede do Comando Militar do Leste, no Rio de Janeiro, onde terá reuniões com o Comandante do Exército, General Enzo Peri, e com oficiais responsáveis pelas obras no Morro da Providência.
O objetivo, segundo informações da assessoria do ministro, é continuar os estudos para a elaboração de uma proposta para a continuidade das obras a ser apresentada à Justiça até o dia 26 de junho. As reuniões, segundo a assessoria, não serão conclusivas, e não haverá entrevista à imprensa.
O caso
Marcos Paulo da Silva, de 17 anos, Wellington Gonzaga Costa, 19, e David Wilson Florença da Silva, 24, moradores do Morro da Providência, na Zona Portuária do Rio, teriam sido entregues no sábado, dia 14, e mortos, menos de 12 horas depois, por traficantes do Morro da Mineira, no Catumbi.
Em depoimento ao titular da 4ª Delegacia de Polícia, delegado Ricardo Dominguez, alguns dos suspeitos teriam confessado o crime. Os jovens foram detidos pelos militares às 7h30 do sábado, quando voltavam de táxi de um baile funk, por desacato. Porém, o comandante da tropa determinou que eles fossem liberados após serem ouvidos.
AE/Marcos DPaula |
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Policiais do Exército e moradores em confronto |
Testemunhas afirmam que os rapazes ficaram sob o poder dos militares até as 11h30 e depois foram entregues a traficantes de uma facção rival a do Morro da Providência, onde os rapazes moravam, no Morro da Mineira, onde foram executados. Há denúncias de que as vítimas teriam sido vendidas por R$ 60 mil.
De acordo com o laudo do Instituto Médico Legal (IML), Wellington teve as mãos amarradas e o corpo perfurado por vários tiros. David teve um dos braços quase decepado e também foi baleado. Marcos Paulo morreu com um tiro no peito e foi arrastado pela favela com as pernas amarradas. Os corpos foram encontrados no lixão de Gramacho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Na segunda-feira, após o enterro dos três jovens, moradores do Morro da Providência protestaram em frente à sede do Comando Militar do Leste (CML). Durante a manifestação, policiais do Exército entraram em confronto com os moradores, atirando bombas de efeito moral.
* André Freire
O jornalista e o jornalismo entraram no ar. A personagem de um jornalista protagoniza uma novela do horário nobre da TV. Conquista, beija, achincalha suas fontes, grita contra o político, no comício que está cobrindo, faz o diabo, é bonito e “do bem”, em A Favorita. O “mocinho” encarna a posição denuncista e pretensamente justiceira da imprensa brasileira. Trocando os sinais, a faz parecer positiva, escondendo o que ela realmente é, enquanto pretende revelá-la pelo que ela não é. Mas vamos digredir para aspecto da relação da personagem com o exercício da profissão.
A novela, como criação, é uma construção com hora, local, data e muitas intenções, para existir. Uma construção em releitura de uma construção maior que é a vida, reinventando-a. Mas como convém ao “establishement”, a quem a TV serve, servindo-se, também, essa construção/releitura, que há anos freqüenta os lares brasileiros, via de regra não coincide com a construção verdadeira da realidade. Desta vez, estão na mira os jornalistas e o jornalismo, mostrados do jeito que interessa às empresas jornalísticas e a ficção permite.
Como para o grande público, as novelas reproduzem a verdade, o essencial, milhões de pessoas são induzidas a ter uma imagem falsa do jornalista e da sua atividade, ambas descaracterizadas e banalizadas.
Comento somente até o sexto capítulo do folhetim das oito, da Globo, mas o que se mostrou até então já é assustador para quem conhece a profissão de jornalista, observa seus códigos deontológicos, convive com a estrutura de mando das redações e para quem suporta a exploração do seu trabalho pelo patronato truculento dos jornais, revistas e das TVs.
Essa novela é mais uma artimanha que distorce o caráter da profissão de jornalista para a opinião pública, mostrando nada de verdadeiro e escondendo muito dela, sobretudo, os aspectos perversos da sua precarização promovida pelos patrões, maquiada pela glamurização e pelo comportamento profissional impróprio e olímpico da personagem.
A profissão é popularizada por um herói imbecil, desligado da realidade dos jornalistas, sem escrúpulos, que só se justifica perante o público, na razão maniqueísta das novelas, por se contrapor aos vilões da trama, gerando empatia. Sua independência é inverossímil, sua rebeldia é de nenhuma causa, seus diálogos com a bela colega de redação são infantilizados, seus contatos com suas fontes são extravagantes e invasivos, a atividade profissional é uma aventura. Tudo o que é preciso para se praticar o não jornalismo, apresentado, sem restrições, como exemplos de prática e coragem profissional.
Mas o herói impertinente, irritadiço e quixotesco, é na verdade um disfarçado bajulador alienado, que usa o próprio automóvel para fazer reportagens – que pelo menos receba por isso - dirige o veículo roubando o posto de trabalho dos motoristas profissionais e fotografa enquanto entrevista, ocupando o lugar do repórter-fotográfico, ou do repórter de texto, não se sabe, na mais cínica demonstração da prática de desvio e duplicidade de função que os patrões impõem e os sindicatos e federação combatem.
Apresenta precária concepção de jornalista na pele de uma personagem, meio James Bond - meio Zorro, que, sem qualquer óbice, cobre e escreve o que quer para a editoria que quer. A ficção quer vender ao público uma liberdade que não existe na vida real do jornalista de hoje, ainda mais quando essa liberdade contraria interesses. Suas matérias, certamente, não seriam publicadas em nenhum impresso brasileiro financiado e submetido à publicidade das empresas e à boa relação com os ricos.
Se a pauta e o script da personagem continuarem como chegou ao sexto capítulo, será preciso que a Fenaj se manifeste em nome dos jornalistas, mas para alertar os noveleiros do engodo que, mais uma vez, a ficção prega aos telespectadores.
Entretanto, uma provocação do tamanho do Ibope do horário nobre deve nos animar para reiniciarmos perante o grande público a discussão sobre a importância do Conselho Federal dos Jornalistas, tão necessário para nos defender quando brincarem com a nossa profissão, como brincam agora. Novela não é só novela!
* Jornalista, diretor regional do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo no Vale do Paraíba, Litoral Norte e Mantiqueira
Ratos em celas de presídios, refeições sendo servidas em sacos plásticos e esgoto a céu aberto foram algumas das situações encontradas pelos integrantes da CPI. As visitas foram realizadas em 60 estabelecimentos prisionais do país ao longo de oito meses. Segundo o relator da comissão, o deputado Domingo Dutra (PT-MA), “grande parte dos presídios visitados não serve nem para bichos''.
A Comissão optou, no entanto, por não responsabilizar os secretários estaduais responsáveis pela área prisional. O motivo foi porque muitos haviam assumido o cargo pouco tempo antes da visita dos membros Comissão.
Os novos números do Ministério da Justiça atestam a precariedade do sistema carcerário. Segundo o órgão, a cada dia entram aproximadamente 200 presos a mais do que os que saem das mais de 1.1 mil prisões espalhadas pelo Brasil. Ao todo, faltam aproximadamente 185 mil vagas.
O próprio diretor Departamento Penitenciário Nacional (Depen), Maurício Kuehne, admitiu que é necessário uma mudança radical no modelo de segurança pública.
30% de detentos presos indevidamente
Problemas como falta de recursos e assistência jurídica, superlotação e até mesmo detentos mantidos sob cárcere irregularmente são alguns dos itens que estarão descritos no relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do sistema carcerário. A expectativa é a de que o documento seja apresentado nesta terça-feira (24).
Durante a investigação da CPI foram visitados 18 estados e 60 unidades prisionais em todo o país. Segundo o relator da CPI, deputado Domingos Dutra (PT-MA) cerca de 30% dos 440 mil detentos de todo o país estão presos em situação indevida, ou seja, sem sentença. O relator aponta que a falta de assistência jurídica, muitas vezes é reflexo da situação financeira dos detentos e gera outro problema identificado no documento - a superlotação dos presídios. O déficit de vagas é superior a 40%. O estado de Pernambuco é apontado pela CPI como o mais problemático.
São 18 mil presos e um déficit de cerca de 10 mil vagas. A CPI identificou também um não cumprimento da lei em quase todos os presídios visitados. O parlamentar maranhense, Domingos Dutra, aponta que a CPI poderia finalizar os trabalhos com um Projeto de Lei divido em dois artigos. Um deles obrigaria “todas as autoridades a cumprir as leis existentes para o sistema carcerário”, o outro “que se decretasse a prisão de todas as autoridades que não cumprirem essas leis”.
O relatório recomendará ações como a elaboração de um estudo que determine o índice de desenvolvimento humano do sistema carcerário, para desenvolver políticas públicas e um censo penitenciário em um prazo de seis meses. Segundo o relator, estes mecanismos poderiam auxiliar principalmente a retirada dos detentos encarcerados ilegalmente.
Segundo o atual presidente da associação, Amaro Henrique Pessoa Lins, a “determinação prevista por meio de um Projeto de Lei contraria as metas de trabalho da atual gestão que são de luta por autonomia [universitária]”. Coordenadores de vestibulares de cerca de 30 instituições públicas do país também compartilham da mesma opinião.
Nesse mês eles enviaram ao presidente da câmara Arlindo Chinaglia (PT-SP) um manifesto contrário ao projeto de cotas. O documento aponta que “cada universidade deve debater seus projetos de inclusão para adotá-los de acordo com sua realidade.
Entidades como o Movimento dos Sem Universidade (MSU) apontam que “o atual sistema hegemônico de vestibular para o acesso ao ensino superior, nas principais carreiras e cursos, como medicina, chega a reservar mais de 80% das vagas públicas para populações sempre privilegiadas como os alunos de escolas particulares”. O PL já foi incluído na pauta de votações da Câmara, mas ainda não tem data definida para ser votado.
A Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) também defende as cotas. "Ao compararmos o desempenho de cotistas e não cotistas em universidades públicas que já adotaram a reserva de vagas para estudantes de escolas públicas e negros, percebe-se que o desempenho dos cotistas é maior ou igual aos dos não cotistas. Então por quê manter a exclusão que o vestibular impõe à esses estudantes?", defende Ismael Cardoso, presidente da entidade.
Da redação, com informações da Radioagência NP
Um belo dia, um músico com cara de Dom Quixote decidiu se insurgir contra sua própria família, a dos compositores brasileiros reunidos sob o guarda-chuva do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição, o Ecad. Com outros sete autores especializados em trilhas sonoras para televisão, Tim Rescala abriu um processo contra a instituição, que centraliza o recolhimento de direitos autorais, da qual ele é um dos 260 mil associados.
Por Pedro Alexandre Sanches, na CartaCapital
A família contra-atacou. A assembléia que compõe o Ecad, integrada em tese por compositores (mas na prática também por representantes de gravadoras e editoras de música), indignou-se com um artigo publicado no jornal O Globo, no qual Rescala classificava a instituição-mãe como “caixa-preta”. Deliberou-se que o Ecad moveria uma ação por difamação contra o filhote rebelado.
Havia ainda outro personagem, oculto e de atuação controversa na trama. “O que motiva Tim Rescala é uma coisa chamada Rede Globo”, afirma um membro ativo da assembléia do Ecad, o editor José Antonio Perdomo. “Por trás dele, está o interesse da Globo de asfixiar o Ecad.”
De fato, outra disputa, bem mais feroz, se desenrola na Justiça, entre a maior rede de tevê do país e a instituição mais poderosa da atual música brasileira (em 2007, o Ecad declarou ter arrecadado R$ 302 milhões, mais que todas as grandes gravadoras reunidas). Para ter autorização de usar suas músicas, a Globo (bem como as demais emissoras, quase todas “rebeldes” ao Ecad) tem de pagar uma taxa mensal ao escritório.
O Ecad reivindica na Justiça 2,5% de todo o faturamento da Globo (o que equivaleria, hoje, a cerca de R$ 16 milhões mensais, R$ 192 milhões por ano) em pagamento pelas músicas executadas na programação. A rede contesta esse valor e deposita, em juízo, 4,1 milhões de reais mensais.
A Globo nega qualquer vínculo entre a disputa maior e a menor, movida pelos compositores Rescala, Sérgio Saraceni, Mu Carvalho, Guilherme Dias Gomes, Armando Sousa, Márcio Pereira, Ricardo Ottoboni e Rodolpho Rebuzzi. “A TV Globo não tem nada a ver com a ação dos produtores musicais. Este é um assunto entre eles e o Ecad”, manifesta-se a Central Globo de Comunicação (CGC).
Rescala, além de ter usado O Globo como veículo de protesto, trabalha para a tevê do grupo desde 1989. Prestador de serviços terceirizado à Globo, é autor de temas incidentais usados em programas como Zorra Total, A Escolinha do Professor Raimundo e Hoje É Dia de Maria.
“Não agimos motivados pela Globo, apenas temos um inimigo em comum”, ele afirma. E diz que o levante sobre o Ecad é resultado de uma tomada de consciência: “A nossa ignorância como classe é responsável por isso. Eu era relapso. A maioria dos músicos é assim, e vão sendo engambelados. Não sabem nem o que é o Ecad. Fui assim, não sou mais”.
Luta de classes
Complexas são as circunstâncias que fazem um grupo de músicos encarar como “inimiga” a entidade que existe supostamente para protegê-los. Na ação, eles reivindicam do Ecad um ressarcimento de cerca de R$ 140 milhões. “Como oito titulares de direitos autorais querem receber 140 milhões de atrasados, se a Globo não pagou isso para a gente?”, indaga a superintendente do Ecad, Glória Braga. “Arrecadamos ano passado R$ 302 milhões, para quase 100 mil autores, e eles querem 140 milhões para oito, o que é isso? Se perderem, vão pedir 140 milhões à Globo? Não vão.”
Rescala tem argumentos para legitimar as queixas de seu grupo. De 2001 para cá, os autores de músicas incidentais, ou de background, para produtos audiovisuais viram o Ecad reduzir seus rendimentos sucessivamente para um terço, um sexto e 1/12 do valor original. “Para eles, a música preexistente vale 12 vezes mais que a música feita especificamente para uma novela, por exemplo. Deveria ser o contrário”, queixa-se Rescala.
Glória Braga retruca de modo indireto: “Pergunte para os autores das músicas de abertura de novela o que acham disso”. Não diz mais, mas dá a entender que a “redistribuição” é demanda dos próprios autores, os colegas mais famosos (e poderosos) dos fazedores de trilhas. “Quando o processamos, muitos titulares nos mandaram cartas dizendo ‘é isso mesmo’.”
Entre os temas de abertura de novelas recentes contam-se composições (quase sempre antigas) de Dorival Caymmi, Tom Jobim, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Luiz Gonzaga Jr., Fábio Jr. e Leonardo. “Não se quis levar a coisa para o lado da luta de classes”, afirma Glória.
Mas que a luta existe, existe. É o que afirma Roberto Ferigato, um músico de Jundiaí, autor de trilhas de esporte radical e fornecedor de fundos musicais para o SBT e a Record. Com outros 24 autores, ele move ação semelhante contra o Ecad, a partir de São Paulo, e descreve uma situação hipotética: “Eles acham que a gente estava ganhando mais que os compositores em evidência. Não querem que conste no boletim do Ecad que ‘a música mais tocada do ano é de Roberto Ferigato’. Quem é Roberto Ferigato? Uma parte da classe autoral que está pendurada mamando na teta não quer isso”.
Ele justifica o processo contra o Ecad: “Não aceitamos a redução de valores, feita sem nossa autorização. Foi desleal. Não publicam as pautas das assembléias. Não tem como a gente participar, não é um processo democrático. Processaram o Tim para intimidar a gente”.
A composição
A assembléia do Ecad, hoje, é integrada por dez sociedades arrecadadoras de direitos autorais, das quais só seis têm poder de voto. O peso de cada voto é proporcional ao montante recolhido por sociedade. Atualmente, as decisões no Ecad são lideradas pela União Brasileira de Compositores (UBC) e pela Associação Brasileira de Música e Artes (Abramus), com cerca de 38% do recolhimento total para cada uma.
À UBC estão filiadas editoras poderosas e autores como Gilberto Gil, Chico Buarque, Erasmo Carlos, Milton Nascimento, Rita Lee, Djavan, Leonardo, Marisa Monte, Racionais MC’s e Ana Carolina. A Abramus é tida como a sociedade das gravadoras, e abriga nomes como Caetano Veloso, Tom Zé, Zé Ramalho, Fábio Jr., Marina Lima, Titãs, Nando Reis, Chitãozinho & Xororó, Seu Jorge e Pitty. E Tim Rescala.
Segundo o compositor, a redução dos valores devidos a autores de trilhas começou quando vários deles ingressaram na Abramus. Sua entrada, diz, colocaria essa sociedade na liderança da assembléia, o que teria provocado a reação da UBC e a mudança das regras. Para ele, José Antonio Perdomo é “o Eurico Miranda do Ecad”. Ex-presidente da editora multinacional EMI Publishing, Perdomo tem sido reeleito sucessivamente na UBC desde 1989.
“Nosso plano era ficar quatro anos e cair fora, mas as coisas não são assim. Eu sempre fui eleito pelos compositores, com mais de 80% dos votos”, defende-se. “A gente troca a diretoria para não dizerem que é sempre a mesma.”
Mesmo sob um verniz de maior civilidade e modernidade, o Ecad faz lembrar, sob esses aspectos, a cartorial Ordem dos Músicos do Brasil (OMB), controlada por Wilson Sandoli desde 1964, e onde membros rebelados costumam ser ameaçados de processos ou expulsão. Rescala acusa o escritório de inicialmente ter se utilizado da controversa Lei de Imprensa para processá-lo, o que o departamento jurídico do Ecad nega.
Glória Braga sustenta que o processo não se deve à represália. “A assembléia entendeu que o artigo dele era difamatório, calunioso. Decidimos procurar remédio no Judiciário. Isso é a democracia”, diz. É ela, de resto elegante e gentil, quem profere uma frase como a seguinte: “Ato de ditadura seria contratar alguém para dar uma surra no Tim Rescala”.
Nas sombras da trama, permanece a Rede Globo, contrária aos 2,5% exigidos pelo Ecad. “Tem de pagar 2,5%, sim”, retruca Perdomo. “O preço de seus anúncios quem estipula é ela. Eu dou o preço, se não quiser pagar, então não usa as músicas. A Globo alega que o Ecad está querendo ser sócio dela. Mas, se tirar a música, acabou a Rede Globo.”
Nas sombras vive também a elite dos autores brasileiros, de quem raramente se ouvem queixas contra o Ecad. Perdomo dá a entender de que lado eles estão: “Como o artista pode ir contra uma TV Globo? Eles podem nos dar força, mas no nível da diretoria, não em público. Se um artista médio defender o Ecad, acabou”.
É desse contexto que emerge, das entranhas da Rede Globo, um quixote como Tim Rescala.
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