Em um só dia, quatro casos de polícia em escolas. Na Serra, em Belo Horizonte, um adolescente de 16 anos foi flagrado com um revólver calibre 38. No Bairro Laranjeiras, em Betim, um de 13 anos assistia à aula armado com uma pistola PT 380. E no Bairro Santa Maria, em Contagem, a menina Jennifer, de 8, no pátio da escola, foi atingida no ombro e na coluna cervical por uma bala vinda sabe-se lá de onde.
O quarto caso de polícia não envolvia armas e balas, mas as flores e o violão com que Fernando Macedo Tinoco, de 19 anos, armou-se para invadir o Colégio Arnaldo e declarar-se a uma menina de 15. Está tudo errado, mas é preciso admitir que em qualquer lugar do mundo flores e violão, mesmo clandestinos, são muito melhores do que armas e tiros. Pular muro e invadir propriedade alheia não é aconselhável, mas há diferença quando isso é feito para furtar mangas no quintal ou para assaltar a casa. As três primeiras histórias não têm graça nenhuma, mas a última remete a outras intenções, palavras e obras que levam ao pecado, mas que, por outro lado, resvalam na virtude.
Fernando Tinoco foi parar na delegacia. É uma história semelhante à do personagem Juca, da música de Chico Buarque, que acabou “autuado em flagrante, como meliante, pois sambava bem diante da janela de Maria”. Devidamente conduzido, Juca “ficou desapontado, declarou ao delegado, não saber se amor é crime ou se samba é pecado”. Ainda inebriado pela intenção da serenata frustrada, “em legítima defesa, batucou assim na mesa, o delegado é bamba na delegacia, mas nunca fez samba, nunca viu Maria”.
No caso do adolescente Fernando Tinoco, não houve autuação em flagrante, talvez porque o delegado Augusto César Araujo Silveira já tenha feito samba e visto Maria. “Não vejo crime”, disse o delegado à repórter Luciane Evans. O adolescente apaixonado chegara à delegacia “de braço dado com dois soldados”, e sua desastrada iniciativa de pular muro e invadir colégio para fazer declaração de amor acabou lembrando ao cabo Faride Nascimento que era Dia dos Namorados e que ele também precisava fazer samba para sua Maria.
A história está cheia de desatinos cometidos em nome do amor juvenil, mas anda repleta também de desatinos destrutivos que colocam armas em mãos e mochilas de estudantes e balas no corpo de crianças que não têm nada a ver com a violência fora e dentro dos muros das escolas. Com revólver não se faz samba, mas chega-se rapidamente à delegacia. Com violões só se atiram flechas de Cupido em direção ao coração da pretendida. O triste é que os tiros de verdade costumam atingir o alvo com muito mais eficiência.
Ninguém deve tomar como exemplo a atitude de Fernando, que pode até assustar a musa inspiradora e diminuir as chances da conquista. Mas ele sabe que agiu movido por sentimentos muito mais nobres que os meninos que levaram arma para a escola ou por quem atirou em direção ao pátio em que estava a menina Jennifer. Fernando errou o alvo, mas vai ter tempo para caprichar no violão e na pontaria. Que continue atirando flores.
PS. Na coluna do dia 10, terça-feira, os nomes das meninas Lorena e Nicole, sobreviventes de acidente na estrada de Jaboticatubas, estão trocados. A troca não diminui em nada o sofrimento e a solidão das duas nas horas de desespero.
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