46 Tiros Mataram os Meninos da Providência


Entregue por militares do Exército a traficantes do Morro da Mineira (zona norte do Rio) -de acordo com depoimentos de testemunhas e dos próprios militares-, Wellington Gonzaga Ferreira, 19, foi morto com 26 disparos de fuzis e pistolas. David Wilson da Silva, 24, seu companheiro na volta de um baile funk, foi baleado 18 vezes.


A terceira vítima, Marcos Paulo Campos, 17, levou dois tiros. Foi o primeiro a morrer, ao tentar escapar dos cerca de 20 traficantes que o levavam, e aos dois amigos do Morro da Providência (centro), para o alto da favela da Mineira. Ao esboçar uma corrida, foi atingido por balas de fuzil que destruíram parte de sua cabeça.

As 46 perfurações foram contabilizadas pelos médicos legistas do IML (Instituto Médico Legal) de Duque de Caxias (Baixada Fluminense). Eles examinaram os corpos dos três rapazes no fim de semana.

Os corpos foram achados no sábado no ''lixão'' de Gramacho, em Duque de Caxias. Chegaram ao depósito a céu aberto em um caminhão que, horas antes, recolhera os sacos de lixo e o entulho da Mineira.

Além das marcas de tiros, os corpos de Ferreira e de Silva tinham sinais de tortura. Os legistas encontraram ferimentos cortantes e fraturas. Os cadáveres apresentavam ainda marcas deixadas pelo triturador de lixo existente no caminhão.

Os três rapazes foram detidos na manhã de sábado na praça Américo Brum, no alto do morro da Providência, quando saíam do táxi que os levara do morro da Mangueira (zona norte). Tinham passado a noite e a madrugada em um baile funk, acompanhados de jovens vizinhos.

Os militares que patrulhavam a praça decidiram revistá-los. Houve tumulto. O tenente Vinícius Ghidetti de Moraes Andrade, chefe da equipe, resolveu levá-los ao quartel da Companhia de Comando, perto de um dos acessos à favela, sob a acusação de desacato.

Oficial à frente do quartel na manhã de sábado, o capitão Ferrari não concordou com a decisão do tenente e mandou liberar os jovens. O tenente o desobedeceu, segundo o próprio admitiu em depoimento. No comando de três sargentos e sete soldados, ele disse em depoimento que decidiu entregar os rapazes aos traficantes da Mineira, ligados à ADA (Amigos dos Amigos), facção inimiga do CV (Comando Vermelho), que atua na Providência.

As investigações da 4ª DP (Delegacia de Polícia) indicam que, depois de serem entregues, os rapazes foram levados sob pancada para o alto da Mineira. Desesperado, Campos, que era estudante, foi morto ali mesmo, ao tentar fugir.

Os traficantes, antes de dispararem, agrediram os outros dois rapazes com porretes de madeira e barras de ferro. Eles também foram cortados, possivelmente com facões, na cabeça e nos braços. Ao final da tortura, Ferreira e Silva foram alvejados, a curta distância. A maior parte das balas atingiu as cabeças das vítimas.

Segundo os investigadores, Ferreira foi identificado pela quadrilha da Mineira como integrante do tráfico da Providência. Decidiram, então, matá-lo e ao colega, que, embora não tenha sido reconhecido, foi considerado também traficante, pois acompanhava Ferreira.

Fonte: Folha Online

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