Distante Igualdade

Estudo conclui que houve redução da diferença entre os salários, mas renda ainda mal distribuída
Ao divulgar estudo sobre a evolução dos salários no Brasil, no período 2003/2007, o economistas Márcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), órgão mantido pelo governo federal, procurou destacar a redução da diferença entre a renda dos que têm remuneração mais baixa, em relação aos que ganham salários mais altos. Essa diferença caiu 7% nos cinco anos analisados e contribuiu para uma redução no índice Gini brasileiro na renda do trabalho, que o intervalo entre a média dos 10% mais pobres da população e compara com os 10% mais ricos. O índice, que varia de 0 a 1, baixou de 0,543 para 0,505 (quanto mais perto de zero menor a desigualdade). Tomada isoladamente, essa redução é real. Mas ninguém deve se iludir. Inflar a sua importância é correr o risco de mascarar a realidade.

O levantamento do Ipea tomou por base os dados da pesquisa mensal de emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), colhido nas seis principais regiões metropolitanas – Belo Horizonte incluída. Mostra que a parcela que, enquanto os salários da base da pirâmide tiveram elevação de 22%, o valor médio das remunerações mais altas avançou apenas 4,9% naquele período de cinco anos. Não é difícil perceber, portanto, que os trabalhadores da classe média alta tiveram um claro achatamento salarial, o que não é bom para a economia como um todo. Limita a idéia de renda aos salários e acaba punindo e desestimulando a parte melhor preparada do assalariado, tão necessária quanto qualquer outra para a competitividade do país. Mas isso não é tudo. Afinal, a economia não parou de crescer nesse período e o próprio Pochmann reconhece que a participação dos salários Produto Interno Bruto (PIB) ficou estável. Ou seja, o governo, via arrecadação de impostos, e as empresas, conforme a expansão de seus e incorporação de lucros, avançaram muito mais depressa do que o ganho das pessoas.

A verdade é que, mesmo com a queda do índice Gini, o Brasil ainda tem uma péssima distribuição da renda, como qualquer país posicionado acima de 0,40 naquele indicador. Apesar de todos os avanços, estamos muito longe de, segundo o próprio Pochmann, deixarmos a condição de país primitivo. Mesmo reconhecendo a importância da estabilidade econômica, o presidente do Ipea atribui os resultados positivos até aqui a políticas de transferência de renda, como o Bolsa-Família. Está aí mais uma perigosa inversão de prioridade. Ninguém nega o impacto positivo das bolsas sobre as famílias mais pobres. Mas é óbvio que isso nada tem a ver com o aumento da massa salarial e é mais um risco de distorção de qual deve ser o verdadeiro esforço do país para garantir o crescimento sem retrocesso da economia e impedir que a inflação derreta os salários. É por demais simplista querer resolver a questão da renda dos trabalhador pela via tributária, enquanto o mundo aumenta a exclusão dos menos competitivos. De nada vai adiantar se a economia brasileira não continuar a crescer e a criar empregos e se o país não gerenciar corretamente seus recursos para oferecer preparação adequada aos que se apresentam no mercado de trabalho.

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