Inclusão social dos portadores de transtornos mentais deve ser feita pelo trabalho
Hélio Lauar, Psiquiatra, mestre em psicologia social (UFMG), professor da PUC Minas, presidente da Ata Cidadania |
| A inclusão social dos portadores de transtornos mentais é importantíssima para que o tratamento oferecido a esses pacientes viabilize sua circulação social. A redução de sintomas e a melhora cognitiva, produzidas pelo advento dos novos antipsicóticos e reguladores do humor, viabilizam estratégias de inclusão na via da reconstrução de um sentido para a biografia do sujeito, ou da adoção de estratégias de trabalho criativo que possibilitem a construção dele como autor, reconhecido pelo social. A inclusão social dos portadores de transtornos mentais deve ser feita pelo trabalho, cooperado e solidário, que reconhece limitações e talentos de cada um, sem negligenciar as exigências do mercado. Não se deve pensar somente em inclui-los em empresas já constituídas, mas sim criar espaços de trabalho e aprendizado, onde essas pessoas possam participar ativamente da construção da estrutura e processo desse ambiente de produção. Os candidatos devem ser informados sobre a importância de estarem em tratamento, posteriormente selecionados como outros candidatos ao mercado de trabalho e encaminhados para treinamentos específicos, que os habilitem na execução das atividades produtivas e na sua apropriação subjetiva.
A ONG Ata Cidadania (BH) tem se dedicado a esse trabalho, pioneiro em Minas Gerais. Criou, no Instituto Raul Soares, em Belo Horizonte, programas de treinamento específicos: Escola do Comércio, que ensina as diversas técnicas de vendas e atendimento ao público – produtos vendidos são confeccionados por portadores de transtornos mentais, associações sem fins lucrativos, grupos de artesãos das mais diversas regiões do Brasil e artistas plásticos, parceiros no projeto; Escola de Informática e Cidadania – são capacitados para ministrar aulas de informática para pacientes, funcionários do instituto, familiares e comunidade; Escola Beleza e Estética – pacientes ainda em tratamento são capacitados para atender internos, oferecendo-lhes serviço de qualidade e tecnologia em higiene e beleza, além de capacitar outros pacientes para o desenvolvimento de atividades fora do ambiente de tratamento.
Os aspectos inovadores de projetos como esses se devem à capacitação e à inclusão no mercado de trabalho desses pacientes que nunca estiveram no mercado ou que se afastaram e perderam a sua qualificação funcional, pela criação de empresas competitivas e auto-sustentáveis, mas que preservam a característica do trabalho cooperado e solidário, minimizando a competitividade e exigência interna. É preciso que a comunidade se dê conta dessas novidades da terapêutica em saúde mental e da sua eficácia pelos depoimentos daqueles que participam de projetos de geração de renda e auto-sustentabilidade, que colaboram com a diminuição do custo objetivo e subjetivo da doença mental para o paciente, seus familiares e para a sociedade em geral. | |
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