Exército precisa deixar claro que oficial e soldados que entregaram jovens a uma gangue no Rio são exceção
| É muito grave e transcende ao Rio de Janeiro o mais recente episódio que quebrou a rotina de violência e criminalidade daquela cidade. Um tenente e 11 soldados da 9ª Brigada de Infantaria Motorizada do Exército prenderam três jovens que, voltando de um baile funk, teriam desacatado os militares. Os jovens eram moradores do Morro da Providência, favela em que aquela unidade do Exército trabalha na segurança das obras de reforma das fachadas e dos telhados de 20 casas, dentro de um programa federal tocado pelo Ministério das Cidades. Não importa a gravidade do alegado desacato, se é que ele tenha ocorrido. O oficial que comandou a detenção dos jovens não poderia ter feito outra coisa senão entregá-los à polícia. Mas preferiu o monstruoso caminho de contar com a parceria dos bandidos da favela da Mineira, rivais da que moravam os jovens. Com evidentes de sinais de tortura, os corpos foram encontrados num lixão das redondezas.
A encomendar o “castigo”, o tenente produziu não apenas mais um repugnante capítulo da progressiva banalização da violência e da morte nos morros da celebrada Cidade Maravilhosa, como colocou em xeque uma coletânea de equívocos da autoridade federal. Para começar, o tal projeto que produziu o convênio entre os ministérios das Cidades e da Defesa já vinha sendo criticado como iniciativa apadrinhada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, destinada a dar apoio político-eleitoral ao pastor e senador Marcelo Crivella (PRB), candidato à prefeitura da cidade. Trata-se, portanto, do perigo de envolver efetivos das Forças Armadas em projetos que, pelo calendário e pelas características, representam comprometimento inconveniente e absolutamente dispensável. Nenhuma demagogia justifica expor o Exército a esse desgaste político.
Tem mais. O episódio revela que a formação que tem sido transmitida aos jovens oficiais e aos recrutas do Exército pode estar falhando. A atitude do tenente que entregou os jovens à ferocidade de uma gangue inimiga à de seus vizinhos não é compatível com a instrução que deve ser dada a quem precisa estar preparado para lutar pela legalidade. É inevitável nivelar o oficial em questão com os bandidos a quem ele entregou as vítimas de sua visão distorcida de justiça. É também preocupante a constatação de que, por exacerbação dos interesses político-eleitorais, o governo tenha patrocinado essa perigosa aproximação de uma força pública armada com a marginalidade. O lado podre tem sempre mais chances de comandar a contaminação. No caso, será necessário esclarecer um detalhe importante: o oficial sabia a quem procurar para executar seu plano, assim como não desconhecia o fim que teriam suas vítimas. Não basta o comandante da unidade militar pedir desculpas pela morte dos jovens. Não poderá faltar a expulsão e a punição severa dos culpados, de maneira a não ficar a menor dúvida de que esse infeliz grupo é apenas uma exceção e que, nem de longe, a 9ª Brigada, e muito menos a corporação, sofreram contágio em decorrência do impensado projeto político-eleitoral do Morro da Providência. | |
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