A insistência com a qual os políticos, os empresários e os funcionários públicos assaltam o erário merece um aprofundamento. Primeira pergunta: por que não se extinguem as emendas individuais ao Orçamento, que possibilitam, no conluio dos políticos com os empresários, que o dinheiro seja carimbado e desviado de sua destinação específica? Na realidade, os primeiros querem fazer um fundo para suas campanhas e seus parceiros visam ao aumento dos lucros, contornando assim as concorrências públicas. Tudo aponta para a necessidade urgente de uma definição realista e correta da sistemática de financiamento das eleições, ao mesmo tempo que se deve estudar um processo concorrencial justo e transparente, que resguarde o acesso das pequenas e médias empresas às obras governamentais. Realizando-se essas regulações institucionais, estaremos reduzindo a carga sobre os órgãos de fiscalização, como promotorias públicas, tribunais de Contas e Polícia Federal, e estancando, para um nível razoável, o vazamento do dinheiro público para o bolso de particulares.
Disse alguém que a competição no capitalismo produz excelentes produtos e péssimos seres humanos. Com isso, quis afirmar que a cultura empreendedora que inoculamos em nossa juventude, quando extrapola os limites do razoável, pode levar a busca do dinheiro pelo dinheiro, para lastrear um consumismo desbragado e desnecessário. Gera uma impaciência para queimar etapas na busca do enriquecimento a todo custo, sem a intermediação do trabalho como gerador de riqueza. Estamos atravessando uma era na qual se faz necessária a implantação de hábitos austeros no acesso às riquezas latentes existentes na Terra e àquelas produzidas pelo próprio homem. É nítido o nascimento dessa consciência cósmica da necessidade de economia e redução do desperdício, no sentido de alongar o giro das gerações, e mesmo para que tenhamos hoje uma melhor distribuição da renda dentro e entre os países. Essa nova ética que não tem fundo predominantemente religioso e moralista, se tornou essencial para nossa sobrevivência coletiva.
A corrupção é uma grande forma de desperdício. Ao faturar para mais uma obra, ao buscar níveis salariais e benefícios correlatos excessivamente elevados no serviço público, ao consumir além do razoável para levar uma vida artificial estamos privando outros seres humanos de partilhar os bens sociais mínimos a que têm direito. O Brasil ainda sofre de uma grande carência de infra-estrutura nas áreas de saneamento, estradas, portos, habitação. Cada vez que uma obra dobra de preço por efeito da corrupção, são milhões que deixam de ter acesso à saúde, à educação, à casa própria e a um nível decente de vida. E, nesses casos, o feitiço se volta contra o feiticeiro, como o comprovam o crescimento dos níveis de violência nas cidades, o que vem forçando a classe média a se auto-aprisionar em condomínios fechados, supervigiados. |
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