Em uma sociedade em contínua mutação, como a nossa, alteram-se rapidamente os valores e os pontos de referência. Há um significativo aumento do número de lares formados por apenas um dos pais e uma maior inserção da mulher no mundo do trabalho. E ainda: vai desaparecendo a influência e o papel dos mais velhos na educação, como tios e avós, que sempre foram fontes de experiências e retransmissores de cultura. Que valores sobreviveram depois do rolo compressor da modernidade? Como no Brasil não há pesquisas confiáveis a respeito, sirvo-me de uma realizada na Itália, que tem um histórico familiar semelhante ao nosso, cujos resultados podem se aplicar em parte ao Brasil. Foi feita sob supervisão do departamento de sociologia da universidade local, com o uso de 700 questionários abertos, sem obrigatoriedade de uma resposta única, em todo o país. Pegou famílias com filhos de até 10 anos, procurando identificar mudanças de comportamento educativo dos pais em relação ao dos pais que tiveram (estilo de vida praticado, medos que os assaltam, problema das punições e dos prêmios, gestão do tempo e visão de vida que transmitem).
Não há dúvida. Ser pai ou mãe hoje é uma tarefa mais empenhativa (71%), exigindo-se compreensão de uma realidade que muda a cada hora e que altera a relação entre pais e filhos. Passou-se de uma família patriarcal para uma família nuclear. Na primeira, avós e tios tinham um papel relevante. As normas passavam de pai para filho, eram rígidas e imutáveis. Hoje, apenas 37% dos avós se relacionam freqüentemente com os netos.
A família nuclear ficou pequena, três ou quatro pessoas. E, desse modo, pais e filhos são obrigados a uma convivência mais estreita. O pai se ocupa mais com a educação dos filhos, participando de seus jogos e diversões. E a mãe, mesmo atenta a tarefas maternas, ocupa a maior parte do seu dia no trabalho profissional. Metade dos pais afirma que tiveram uma educação autoritária e por isso procuram educar no afeto e na amizade, o que os têm levado a certa permissividade, pois sentem dificuldade em exercer a própria autoridade (53%) e de recorrer a qualquer tipo de punição. Preferem os prêmios (75%), gostam de jogar com os filhos, levá-los ao cinema ou ao parque, mas aboliram o hábito de contar histórias. Isso aproxima os pais dos filhos, mas não faz dos pais um ponto de referência, justamente o que mais conta na formação. E não oferecem aos filhos instrumentos para enfrentar as outras etapas do seu crescimento.
Grandes incertezas assaltam os pais quando precisam dar aos filhos autonomia, o torna difícil aos filhos conseguirem capacidade para organizar o próprio tempo, preferindo encher sua vida com escola, clubes, internet e nunca separam tempo para leituras ou alguma iniciativa própria, autônoma e criativa. Mais difícil ainda para os pais defender os filhos da violência do mundo, da extrema competição da sociedade, da droga e da precoce vida sexual (67%). Mas como os pais de hoje querem os seus filhos? Os antigos colocavam, em primeiro lugar, a ordem e a obediência.
Hoje, na prática, esses valores ocupam os derradeiros lugares. Muitos pais desejam que os filhos se tornem honestos, equilibrados e inteligentes, mas alguns querem os filhos bonitos, famosos e ricos. Uma pena. |
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