Em dezembro de 1998, o publicitário Emílio Belletti foi barbaramente assassinado, crime que provocou, na época, grande repercussão na mídia. Em novembro do ano seguinte, esta coluna comentou a inércia da Justiça, apoiada em carta que a mãe do rapaz, Lauricy Belletti Rodrigues, mandou à página de Opinião deste jornal. Ela levantava sua bandeira contra a impunidade porque o assassino, Ernane Abritta Filho, continuava impune. Estava indignada duplamente, e com uma montanha de razão: o Conselho de Graduação da Faculdade de Direito da UFMG havia aprovado que o assassino de seu filho freqüentasse o curso que fazia na época, em ‘‘regime especial’’: “Se o meu filho contemplou a face da maldade humana naqueles momentos em que tinha um revólver apontado para sua cabeça – momentos de maior sofrimento do que o da tortura da carne –, se o meu filho olhou nos olhos do mal-encarado Ernane de Souza Abritta Filho, eu pude contemplar a face da indiferença na sala do Colegiado de Graduação da UFMG.
Como é possível que um indivíduo, que pratica um assassinato com tranqüila e arrogante indiferença, descarregando uma arma no coração e na cabeça – no sentimento e no pensamento – de alguém indefeso e inocente, como é possível – repito – um indivíduo que mente diante da própria Justiça, que não respeita o direito à vida continuar o seu curso de direito e exercer profissão de advogado/juiz/promotor/procurador/ desembargador???”
Na época, Lauricy fez o que pôde para ver a morte de seu filho vingada. Sem esmorecer, sem temer críticas, sem temer repressão. E até criou o Movimento Desarme a Violência – Ação pela vida Emílio Belletti. Conseguiu uma audiência com o então presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Sérgio Lellis Santiago, quando lhe entregou a Carta das Mães de Minas. Em sua companhia estavam algumas ‘‘mães coragem’’: Marly Faria, Maria Beatriz Costa Pereira e Jocélia Brandão, cuja filha foi assassinada e queimada por dois marginais e uma babá.
Passados praticamente 10 anos do assassinato de Emilio Belletti, uma conclusão que tirei na época se completa: por aqui, os crimes demoram tanto a ser julgados que as pessoas se esquecem deles – e, com isso, os criminosos ficam impunes. Recebi esta semana uma carta de Lauricy Belletti Rodrigues, que me conta que lutou durante mais de cinco anos para que a Justiça condenasse o assassino de seu filho. Lutou em vão: o homem foi condenado, mas nunca pisou em uma penitenciária.
Sua luta continua, agora na forma de um livrinho-documentário que está escrevendo, onde vai expor sua dor e também textos da época, para deixar marcado "um registro do que tem sido a impunidade em nosso país". |
8 comentários:
Procurando coisas na net sobre minha inesquecível professora, encontro esta matéria... Acompanhei de perto a dor e a luta desta mãe, mulher, guerreira, professora e amiga. Chorei muitas vezes ao ouvir suas falas, seu desabafo, ouvir palavras de carinho quando eu precisava e ler os poemas de Emílio... hoje choro ao ler este artigo.
Era aluna de Lauricy quando tudo aquilo aconteceu. Aulas dadas com um brilho no olhar dava lugar a lágrimas pela saudade e dor daquele momento. Hoje sou mãe, e entendo ainda mais aquelas lágrimas. Fica minha indignação, e tristeza de viver num mundo onde impera a impunidade. Saudades Lauricy.
Acompanhei esse caso, pelo lado da família do Ernane. Catástrofe para eles também, obviamente não equiparada ao da família Belletti, mas isso não dá o direito de mentiras serem constantemente postadas contra o rapaz, que, a despeito do que escreveram no artigo, ficou preso por oito anos, cinco dos quais num presídio. A campanha feita pela família Belletti não pareceu ter o intuito de promover paz ou justiça, foram meros ataques públicos para dificultar a defesa e assegurar uma condenação. Tanto é que a campanha acabou assim que foi assegurada a condenação. Lutar pelo que se acha certo é nobre, mas sujar as mãos chamando os outros de imundo não é.
Eu tive o privilégio de assistir uma palestra do Ernane, onde ele contou sua trajetória, seu arrependimento e tudo que ele aprendeu na prisão nos 8 anos em que esteve lá. Posso imaginar o sofrimento da mãe que perdeu o filho, mas entendo que condenar o assassino à prisão perpétua, ou até mesmo a morte, não traria a vítima de volta e além disso somente quem pode julgar é Deus, pois esse papel não cabe a nós. Se praticássemos a lei do perdão e não pagar a violência com mais raiva e violência, certamente viveríamos em um mundo muito melhor!
Esse cidadão tinha que está preso pro resto da miserável vida dele!!!!
Tadinho, ele se arrependeu? Que pena, tbm não vai trazer a pessoa que ele covardemente matou de volta, esse miserável tinha que está preso pro resto da vida dele, Brasil tinha sim que ter perpétua, para que alguém igual a ele fique atrás das grades até apodrecer!!
Nunca pisou numa cadeia ? ! Inacreditável, ele matou por motivo torpe , assassino
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