O rádio comemora aniversário nesta quinta (25/09), data do aniversário de Roquette Pinto, fundador da primeira rádio oficial do Brasil, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. E, aos 86 anos, aqui cabe um parêntesis — conta-se que a primeira transmissão oficial de rádio no Brasil aconteceu em 22, pelo centenário da Independência —, este velhinho companheiro apresenta novidades: a entrada para a era digital.
Por Carla Soares Martin, no Comunique-se
Quando realmente o veículo vai entrar na nova era, não se sabe. Mas o Ministério das Comunicações está estudando diversos relatórios para decidir o padrão de transmissão.
Para o professor da Faap, coordenador do curso de pós-graduação em gestão e produção executiva em rádio, Álvaro Bufarah Júnior, a passagem do analógico para o digital vai muito além da escolha do transmissor. Para uma rádio se tornar digital, explica, é preciso mudar o parque técnico, um investimento que chega a US$ 100 mil. Há ainda a compra do equipamento receptor que, no princípio, será caro. "O problema é como a população vai receber isso", disse Bufarah.
As vantagens do sistema digital, contudo, estão na qualidade de transmissão. Para a Abert, Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão, é uma questão de sobrevivência para o setor. A associação prepara um relatório técnico a ser entregue em outubro ao Ministério das Comunicações, com a indicação do transmissor que escolheu.
Dentre os transmissores, há quatro opções: uma americana (Iboc), duas européias (DRM e DAB), e uma japonesa (ISDB). A Abert indica o padrão americano, por uma pesquisa que realizou em São Paulo e Minas, junto ao Instituto Mackenzie. O Iboc é o único no qual se poderia fazer uma transição gradual do aparato técnico das rádios.
Bufarah acredita que seria melhor dividir o Brasil em dois formatos: o europeu para a Região Norte e Nordeste, já que muitas rádios ainda emitem em ondas curtas e o padrão europeu é o único que se adapta ao sistema; e o americano ou o japonês para o resto do país. Explica também que o americano necessita de royalties e que o japonês é o que já está em vigor na TV digital, possibilitando interatividade com outras plataformas.
Do digital à manivela
À parte da discussão entre o digital e o analógico, sabe-se que, no Brasil, muitas rádios são movidas à manivela. Isso mesmo, manivela. Na Região Norte e Nordeste, onde não há energia elétrica, ONGs estão provendo a população com rádios em que basta você dar corda para funcionarem durante duas horas. São programas educativos, de saúde para a população.
O Movimento Todos pela Educação é um exemplo de ONG que utiliza o veículo rádio em suas campanhas. No ar Todos pela Educação, por exemplo, busca sensibilizar a população para cobrar propostas concretas de educação por parte dos candidatos a Prefeitura, por meio do rádio.
A ONG fornece a cada mês kits gratuitos para as emissoras, com jingles e depoimentos de jornalistas como Heródoto Barbeiro e Gilberto Dimenstein, e personalidades como Eva Wilma e Seu Jorge, falando sobre a importância da educação.
Para a ONG, a escolha do rádio não foi por acaso. "Além de interagir com as mais diversas camadas da população, o rádio está presente em cada cantinho do nosso país e sabe como ninguém a melhor maneira de falar e ser ouvido pelas pessoas", disse a assessoria.
Houve rádio lá do Amazonas que aproveitou as dicas do movimento e as enviadas diariamente por meio de um boletim, que pode ser pedido pelo email contato@todospelaeducacao.com.br, para tornar viável economicamente o bloco Café com Educação, que discute a realidade da Educação local no principal jornal da emissora, o Em Cima da Notícia.
"O principal retorno que a gente tem é e-mails, cartas dos ouvintes. Falam que a escola está sem merenda, etc. O povo está discutindo mais sobre Educação", disse Patrick Mota, editor do Em Cima da Notícia.
Mota retrata a importância do programa: "Em Paraubebas, no Pará, muitas crianças ainda sentam no chão nas escolas". E do rádio na Região Norte: "Em muitos municípios, é ainda o único veículo de divulgação", disse.
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