Imposturas educacionais

Professores desinteressados também fazem vítimas
Darwin Santiago Amaral, Professor de história
A abundância de faculdades está ligada ao grande número de alunos que buscam oportunidades de inserção econômica. Apressados, vão se formar professores em empresas e, quase sempre, ensinarão em mais de um turno em escolas que atendem famílias cujas exigências são mínimas ou inexistentes. É preciso explicar a idéia de que estudar exige iniciativa do aluno e nada tem a ver com a agitação das cópias do quadro de giz. O aluno não deveria ir à escola para confirmar os seus preconceitos, mas confrontá-los, superá-los, freqüentar a biblioteca e aprimorar-se intelectualmente. O Brasil venceu a poliomielite com saber, garra e mídia. Urge uma luta a favor da dedicação aos estudos e conter o desperdício de talentos, tempo e dinheiro. Professores desinteressados, como policiais que atiram a esmo, também fazem vítimas, porque dão matéria e lançam notas, mas nada importante ensinam, com medo das conseqüências.

A escola adoeceu porque não conseguiu criar um discurso que diga à juventude algo relevante, incluindo a sexualidade, o erotismo, a arte e o fantástico; porque cidadãos não querem esforços, mas felicidade sem custos. Subestimamos meninas grávidas e rapazes desempregados matriculados em escolas cujos alunos festejam greves em salas de aula atingidas por goteiras. A Aids avança entre a juventude com menos de 20 anos e nas escolas inexistem livros que abordem o assunto, porque ninguém sabe o que fazer com meninos e meninas que desejam, primeiramente, pensar o prazer sexual, a paixão e o amor, e, só depois, aspectos médicos do aparelho reprodutor, disfarçados de sexualidade por gente incapaz de construir projetos adequados.

Os Estados Unidos, impulsionados por uma disposição cívica, enfrentaram a segregação racial com ações pedagógicas, jurídicas e policiais. Colin Powell, Condoleezza Rice e Barack Obama foram possíveis depois de muita política, leituras e coragem. Tais líderes não perderam tempo com bobagens como as que cortam o intelecto das crianças brasileiras. A ginasta Dayane dos Santos obteve sucessos depois de conhecer, estudar, dedicar-se; resulta da cultura e do esforço, não do acaso natural. Engana-se quem pensa que professores desprestigiados, liderados por diretores cansados, vão se envolver, educar e instruir os filhos do povo sem propósito e energia. A falta dessa postura cidadã no Brasil é grave.

A economia mudou, carisma universitário diminuiu e o corpo jovem é um tipo de capital. A democracia não é um presente da natureza; consiste na mobilização de criatividades produtoras de riquezas variadas e aqueles que ficam fora do jogo são os seus inimigos. A despolitização da política é fenômeno político significativo dos últimos anos, convertendo políticos em gerentes. Na sociedade do conhecimento, o êxito educacional é passageiro e deve ser avaliado. Escolaridade não produz dinheiro automaticamente. Uma escola eficiente é mais que prédio cuidado; é concepção adequada sobre metas, métodos, valores e desejo político de enfrentar resistências não só dos professores. Investir no sistema de educação que temos, desconhecendo suas crenças, é jogar dinheiro fora, porque, ultimamente, o número de graduados é superior ao de educados.

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