Os excluídos ocupam seus espaços

Os excluídos ocupam seus espaços


Escrito por Waldemar Rossi

O 14º Grito dos Excluídos, realizado no último dia 7 de Setembro, revelou que a consciência crítica dos brasileiros avança progressivamente. As iniciativas se multiplicam a cada ano, ganhando espaços em inúmeras cidades de todos os estados do Brasil.

Tendo a cidade de Aparecida como seu evento principal, naquele dia cerca de 150 mil romeiros puderam participar das manifestações. Campos de Goytacazes e Rio de Janeiro (RJ); Juiz de Fora, Montes Claros, Itabira, Liberdade e Belo Horizonte (MG); Marília, Cubatão, Cosmópolis, Grande São Paulo e Campinas (SP) são alguns dos bons exemplos.

Entre as denúncias e reivindicações levantadas pelos participantes aparecem: clamores por justiça social, salários decentes; preservação do Cerrado, reforma agrária, não às barragens agressoras do meio ambiente e à transposição do Rio São Francisco; não à alta de preços dos alimentos, por saúde pública de qualidade para todos, por um sistema de educação universal e libertador, pela expansão e mudanças na qualidade do ensino no campo; por uma política nacional de habitações populares, em defesa dos territórios indígenas e quilombolas, denúncias de trabalho forçado e escravo no campo, particularmente no corte da cana de açúcar; contra o pagamento dos serviços da dívida pública, por mudanças nas políticas públicas do governo federal e dos governos estaduais, visando o desenvolvimento interno e a distribuição de rendas; pelo fim da violência na cidade e no campo, em defesa da vida; contra a impunidade dos crimes cometidos pelos políticos e outros criminosos do colarinho branco; por transparência nas eleições, por mudanças profundas no sistema penitenciário e tantos outros gritos deste povo espoliado pelo capital e ignorado pelos políticos.

Destaque para o acontecimento de Montes Claros (MG), onde os participantes do Grito, após as tradicionais celebrações religiosas, caminharam pela cidade dirigindo-se para a avenida onde se realizava o desfile oficial, empunhando faixas e cartazes dos seus clamores, gritando por justiça social. Tendo sido barrados pela polícia local, a população assistente ao desfile tomou as dores dos marchantes, aplaudindo sua manifestação e protestando contra a ação impeditiva da polícia, que teve de retroceder e permitir a livre manifestação popular. Em São Paulo, com participação de mais de 5 mil manifestantes, em caminhada por mais de cinco quilômetros até o Monumento ao Grito, os manifestantes denunciaram, entre outros crimes contra os excluídos, a política discriminatória do prefeito Kassab contra a população moradora da rua que vem sendo enxotada do centro da cidade, assim como a impunidade dos responsáveis pela brutal chacina de moradores de rua, depois de quatro anos do crime bestial.

Destaque negativo para a atitude divisionista protagonizada por alguns movimentos subordinados à defesa da política do governo federal, organizando em São Paulo um segundo Grito, contrário, portanto, ao movimento unificado que se realiza desde 1988 na capital paulista. Uma clara demonstração de que os interesses do povo não são a verdadeira preocupação de tais movimentos, mas sim, e principalmente, a manutenção de espaços nas esferas da política oficial.

Destaque positivo pelo conjunto do movimento social de todas as cidades, responsáveis pela sua organização e realização: pastorais sociais (operária, menores, moradia, juventude, afro, mulheres...), CEBs e outros movimentos ligados às igrejas, trabalhadores rurais e sem terras, moradores de rua, sindicatos classistas, associações de catadores de material reciclável, entidades em defesa dos direitos humanos, professores e trabalhadores da saúde, contando ainda com o apoio de alguns partidos políticos de esquerda.

Como nem tudo são flores, as dificuldades encontradas foram muitas, sobretudo na questão da infra-estrutura, porque a maioria dos municípios é administrada por políticos ligados aos interesses dos exploradores e praticantes das várias discriminações denunciadas. Não esperamos boa vontade dos detentores do poder. Acreditamos em nossa força organizada e por isso a luta vai continuar, os Gritos serão cada vez mais fortes e mais coletivos, até que se pratique a justiça neste país.

Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.

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