PETER COLLECOTT
Sabemos que é possível fazer progressos reais. Há no Brasil uma história muito positiva a ser contada |
A REDUÇÃO da pobreza global é o maior desafio isolado que enfrentamos hoje. Como destacou a recente força-tarefa da ONU sobre a disparidade dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), serão necessários esforços contínuos e engajados dos países ricos do Norte e do Sul, do setor privado, de grupos religiosos e da sociedade civil de todo o mundo para que possamos fazer frente a esse desafio monumental.
No início do novo milênio, líderes mundiais se reuniram nas Nações Unidas para fazer uma promessa: a promessa de que faremos tudo o que estiver a nosso alcance para reduzir a pobreza extrema pela metade até o ano de 2015.
Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio acordados naquela cúpula fixaram alvos claros e mensuráveis em uma série de questões de importância vital, como aumento do número de crianças nas escolas, melhoria da assistência à saúde, redução da mortalidade materna e infantil, combate às doenças principais e suspensão da degradação ambiental.
Todas essas coisas fazem uma diferença enorme na qualidade de vida das pessoas em todo o mundo. Já testemunhamos mudanças importantes: hoje há 41 milhões de crianças a mais na escola, 3 milhões de crianças a mais que sobrevivem à primeira infância todos os anos e 2 milhões de pessoas a mais que recebem tratamento contra a Aids.
Entretanto, na metade do caminho para 2015 e na fase preparatória para a reunião sobre os ODM, que será realizada neste mês nas Nações Unidas, precisamos assegurar que as promessas da comunidade internacional não fiquem apenas no papel.
Sabemos que é possível fazer progressos reais. Há no Brasil uma história muito positiva a ser contada. A meta da ONU de reduzir pela metade a proporção de pessoas que vivem com menos de US$ 1 por dia (em termos de paridade de poder de compra) já foi superada no Brasil. Em 1990, 8,8% dos brasileiros viviam em situação de pobreza extrema. Em 2005, essa porcentagem era de 4,2%, um resultado que supera as metas fixadas pela ONU. Em termos absolutos, isso significa que 4,7 milhões de pessoas saíram de uma situação de pobreza extrema durante esse período.
Progressos semelhantes podem ser observados nas cifras sobre desenvolvimento humano e emprego divulgadas recentemente pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) e pela Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe).
É evidente que ainda há muito a ser feito no Brasil, assim como em outros países. Mas a pobreza foi reduzida, o trabalho infantil está sendo reduzido, as condições de saúde estão melhorando e as oportunidades de educação e emprego estão crescendo.
Se todos os países tivessem alcançado o mesmo grau de progresso que o Brasil, já estaríamos a caminho de cumprir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Estes são propostas globais, e é de todos nós a responsabilidade de assegurar que o progresso seja global. É essa a idéia principal subjacente ao oitavo objetivo: a criação de uma cooperação global para reforçar os esforços para que sejam alcançadas os ODM.
Outros países podem aprender muito com o progresso do Brasil, tanto graças a políticas macroeconômicas sensatas quanto por meio da implementação e ampliação de uma série de políticas sociais e a combinação de programas diferentes.
A ampliação da cooperação técnica brasileira Sul-Sul por meio de parcerias bilaterais, regionais e multilaterais comprova o compromisso do Brasil com a promoção da troca de experiências e conhecimentos que contribuam efetivamente para que os países de baixa renda possam atingir os ODM. O governo britânico tem orgulho de apoiar esses esforços.
Contudo, não obstante os avanços feitos até agora e apesar da boa vontade e do trabalho eficaz de milhões de pessoas, nossos objetivos simplesmente não estão sendo alcançados. Precisamos fazer muito mais e não poderemos ou não vamos alcançar os objetivos dentro do prazo previsto.
Os êxitos dos últimos anos são a prova de que transformar o mundo é possível e de que sabemos como fazê-lo. Mas cada um de nós precisa agir -hoje- para fazer de 2008 um ano de virada.
A cúpula das Nações Unidas deste mês vai reunir representantes de governos do G8 e europeus com seus colegas africanos, asiáticos e latino-americanos, incluindo o presidente Lula. Vão se unir a eles líderes religiosos, empresários e organizações da sociedade civil de todo o mundo. Precisamos assumir o compromisso de intensificar nossos esforços e trabalhar incansavelmente, ano após ano, até alcançar os objetivos.
Temos a tecnologia. Temos o conhecimento. Temos a riqueza. Tudo o que precisamos agora é da vontade, para assegurar que não haja mais disparidades. Só poderemos conseguir se agirmos em conjunto. Não podemos nos dar ao luxo de fracassar -em nome dos milhões de pessoas em todo o mundo que querem ver sua pobreza aliviada, em nome de vidas mais plenas para elas e para seus filhos.
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