Londres, Copacabana e o Complexo do Alemão: Em que diferem estas populações?
Ontem quando passava em frente a Rua Canitár, uma das principais entradas do Complexo do Alemão, avistei uma senhora negra, idosa, de alvos cabelos amparada e acompanhada do que parecia ser sua filha ou neta, adentrando com grande dificuldade a comunidade, certamente se dirigindo para sua humilde residência. Elas quase esbarraram em soldados da Força Nacional, fortemente armados com seus novíssimos e reluzentes fuzis. Ao perceber tal cena fiquei a pensar na declaração infeliz, para não dizer facista, do atual secretário de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro José Maria Beltrame do governo Sérgio Cabral Filho que, em entrevista a Rádio CBN disse a seguinte pérola: “Buscá-los [os traficantes] na Zona Sul, no Dona Marta, no Pavão-Pavãozinho, eu [polícia] estou muito próximo da população. É difícil a polícia ali entrar. Porque um tiro em Copacabana é uma coisa, um tiro na Coréia, no Alemão, é outra. E aí?."
O Estado brasileiro sempre se caracterizou por um total desrespeito aos direitos humanos, em particular, dos trabalhadores, mesmo nos períodos democráticos e podemos incluir aí os últimos 21 anos. Vivemos numa sociedade marcada pelo autoritarismo e pela hierarquização em classes, e em raças, onde a tortura e as execuções sumárias são fenômenos que a globalização e o neoliberalismo vieram acentuar. "Nunca, em nenhum momento da história deste país", como diz o presidente Lula, os índices de mortes por armas de fogo foram tão altos. Neste quadro, a aquiescência de parcela da sociedade - a chamada "população", citada pelo eminente secretário - a tal política fica evidenciada pela reação positiva e emocional ao filme "Tropa de Elite", onde o personagem "Capitão Nascimento" chega a ser elevado à condição de herói.
O que será então da vida dessa modesta senhora e de sua filha ou neta? O que o futuro lhes reserva? Quantos tiroteios e mortes ainda irão presenciar? Quantos mortos ainda verão, ao lado de sua casa ou nos becos da favela? Será que serão atingidas por uma bala perdida? Afinal não moram próximas à "população" que têm os seus direitos respeitados pelo Estado, não são consideradas cidadãs.
Ainda recentemente, lemos pela internet que a polícia de Londres foi considerada culpada por colocar a segurança do público em risco no episódio que resultou na morte do brasileiro Jean Charles de Menezes. E è por isto que perguntamos: Quando a polícia do Estado do Rio de Janeiro vai ser culpabilizada pelo mesmo motivo? Quando a população do Complexo do Alemão terá seus direitos respeitados, como a população de Londres ou Copacabana? Resumindo, somos todos cidadãos, brasileiros ou britânicos, ou não somos? www.pelenegra.blogspot.com
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