Ginga Brasileira

De origem africana, a capoeira mistura música, dança e luta, contribuindo para concentração, flexibilidade e equilíbrio
Márcia Maria Cruz

Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
Alisson Patrick, de 11 anos, e Wenderson José, de 10, mostram habilidade durante oficina


A percussão, ritmada pelo berimbau, uma roda de pessoas que cantam ao som das palmas e dois lutadores que sincronizam entre si os movimentos. São as rodas de capoeira, uma luta que mistura esporte, dança, música e muita cultura. A origem da capoeira está ligada à luta pela liberdade dos escravos africanos trazidos para o Brasil. Os negros resistiam ao domínio dos senhores, misturando golpes de luta, disfarçados com música e dança.

Os meninos Alisson Patrick dos Santos Deodato, de 11 anos, e Wenderson José Diniz, de 10, estão aprendendo os primeiros golpes e a ginga da luta. Eles participaram da oficina do 2º Encontro Nacional de Capoeira Angola de Belo Horizonte, que termina hoje. “A capoeira ajuda na concentração, flexibilidade e equilíbrio. Quando percebem que o corpo pode dar mais do que se imagina, os meninos e meninas ficam incentivados a aprender outras coisas”, afirma Edson Moreira da Silva, o mestre Primo, curador do encontro.

Segundo mestre Primo, a capoeira angola tem origens africanas, consolidou-se no Brasil, e está, atualmente, em mais de 150 países. São três estilos de capoeira que se diferenciam devido aos movimentos corporais e ritmo das músicas de acompanhamento: a capoeira angola, a regional e a contemporânea. A capoeira angola é a mais antiga, e surge nas senzalas do Brasil colônia. A regional incorporou elementos de outras artes marciais, e a contemporânea mistura golpes da regional e da angola.

As lutas eram praticadas em campos com pequenos arbustos. Esses locais ficavam próximos das senzalas e eram chamados de capoeira ou capoeirão, de onde surgiu o nome da luta. Cabeçada, rasteira, rabo-de-arraia, chapa de frente, chapa de costas, meia-lua e cutilada de mão são alguns dos principais golpes.

O grande momento da capoeira é a roda, quando os participantes cantam, tocam e se enfrentam. O encontro é acompanhado por diferentes ritmos. “Na roda, estabelecemos a musicalidade do povo negro”, afirma mestre Primo. O primeiro ritmo é a ladainha, uma oração sobre a resistência do povo negro, seguida de dois outros, a louvação e o corrido.

BERIMBAU O berimbau é um instrumento de corda para marcar o ritmo da luta. É um dos principais símbolos da capoeira e também da cultura afro-brasileira. É formado por um arco feito de uma vara de madeira, cujo comprimento aproximado é de 1,20m. O som sai de um fio de aço preso nas extremidades da vara. Em uma das pontas do arco é fixada uma cabaça, que funciona com caixa de ressonância. O capoeirista usa uma pedra ou moeda, a vareta e o caxixi para produzir os sons do berimbau.

São três tipos de berimbaus: berra-boi, viola e violinha. “O instrumento dá a cadência da roda, juntamente com o pandeiro, agogô, reco-reco e atabaque”, informa mestre Primo, que também coordena o Grupo Iúna, que atualmente recebe 125 crianças entre 6 e 12 anos para praticar e conhecer as tradições que envolvem a luta.


MESTRES

Existem centenas de mestres na atualidade, que são discípulos dos precursores da capoeira no Brasil, mestre Pastinha e mestre Bimba

MESTRE PASTINHA, Vicente Ferreira Pastinha, é considerado um dos criadores da capoeira no país. Ele nasceu em Salvador, em 5 de abril de 1889, filho do espanhol José Señor Pastinha e de Maria Eugênia Ferreira. O pai era comerciante, e sua mãe, uma negra natural de Santo Amaro da Purificação, vendia acarajé e lavava roupa para famílias ricas da capital baiana. Pastinha aprendeu os primeiros golpes com um negro angolano chamado Benedito, que lhe ensinou para que ele pudesse se defender.

MESTRE BIMBA, Manuel dos Reis Machado, nasceu em Salvador, em 23 de novembro de 1899, filho de Luís Cândido Machado, famoso campeão baiano de batuque, e de Maria Martinha do Bonfim. Foi discípulo de Bentinho, um africano que era capitão da companhia de Navegação Baiana. Por muito tempo ensinou a capoeira angola, mas ao introduzir novos golpes à luta, criou nova modalidade: a capoeira regional.

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