Não podemos negar que, nas últimas décadas, as transformações da sociedade influenciaram significativamente na concepção de desenvolvimento, que de um foco estritamente relacionado ao crescimento econômico e a alguns aspectos culturais se amplia e passa a apontar sua dimensão social e ética. O desenvolvimento assim considerado ressalta a necessidade da articulação dos direitos básicos do cidadão: civis, políticos e sociais. A busca pela garantia desses direitos permite reduzir a desigualdade, contribuindo para a inserção das pessoas nos processos sociais de produção e acesso aos bens e serviços. Essas mesmas transformações, porém, acabaram por ampliar essas desigualdades. Diante de um cenário assim configurado, o Estado esbarrou nos seus limites de sozinho, conseguir mudar esta realidade mobilizando a iniciativa privada e a sociedade civil no sentido de, também, participarem dos processos de desenvolvimento, investindo e realizando ações sociais de enfrentamento da desigualdade, da pobreza e da exclusão. Nessa perspectiva, movimentos sociais e grupos organizados, instituições governamentais ou não e a iniciativa privada tornaram-se espaços de planejamento e desenvolvimento de intervenções sociais expressas por projetos que, em resposta a este novo cenário, se caracterizam, fundamentalmente, como propostas de desenvolvimento. Historicamente, eram baseados em ações pontuais de caráter assistencialista, sustentadas nos princípios cristãos de caridade e solidariedade.
Não negando a nobreza desses princípios, se o atendimento às necessidades básicas se torna o único foco, a tendência maior é vivermos a manutenção e a reprodução da desigualdade do que sua superação. O aspecto que deve ser considerado tão importante quanto atender as necessidades básicas é disponibilizar às pessoas condições e recursos para que desenvolvam sua própria capacidade de satisfazer a tais necessidades e de escolher a forma de fazê-lo. Isto é desenvolvimento. Muitos projetos não geram os resultados esperados. O que ocorre é que as pessoas e instituições têm pouca clareza quanto ao que é de fato um projeto social, limitando-se a “fazer alguma coisa” e não respondendo a questões fundamentais como por que e para que fazer. Antes de gerar resultados para a instituição, o projeto deve, obrigatoriamente, gerar resultados para a comunidade. Para a sua elaboração, percebemos a dificuldade dos gestores em fazê-lo de forma sistematizada. Muitos esperam que o texto seja escrito de tal forma que seja bom o suficiente para ser aprovado e, conseqüentemente, “captar recursos”.
Para saber escrever um projeto social, é preciso, antes de tudo, saber pensá-lo. E pensá-lo como alternativa de desenvolvimento. O texto é a apresentação de uma intervenção que se pretende realizar com o objetivo de contribuir para a transformação de uma realidade social, para a emancipação de um grupo de cidadãos que se vêem privados da capacidade de poder realizar suas escolhas e de participar dos processos democráticos de transformação da sociedade. E esta intervenção requer gestão. Os problemas enfrentados na gestão e desenvolvimento de projetos sociais têm várias interpretações. Entendê-los para minimizar seus efeitos é responsabilidade de todos. Sozinho ninguém consegue sustentar uma transformação. Uma forma específica para alcançá-la é por meio da participação e da articulação entre os setores. Se não for assim, teremos apenas resultados pontuais e temporários. |
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