Relatório brasileiro sobre Durban não faz menção a sua presença no país. Líder cigano lembra que seu povo está no país desde os tempos do descobrimento e exige direito de contar sua história
Imagem: Grupo de Ciganos, Oleo sobre tela de Di Cavalcanti, década de 20
Cláudio Giovanovitch, representante do povo cigano pediu a palavra na Plenária desta quinta-feira, para lembrar que nas menções feitas ao Brasil pelo relator especial da ONU, Doudou Diene, sobre as aplicações das recomendações de Durban no país, não houve sequer uma referência a etnia cigana. E isto foi como ouvir que não existem ciganos no Brasil.
Na verdade, são 600 mil nômades vivendo no país, e participando de sua história desde 1547, quando os primeiros ciganos chegaram para juntar-se a negros e índios, participando da construção da nação brasileira. "Estranhamente as três etnias estão com problemas de inclusao", disse Giovanovitch.
Ele agradeceu a Colômbia, Argentina e Costa Rica por terem citado textualmente ciganos em seus relatórios, "porque já estamos cansados de ser (citados como) e muitos outros"
Para o líder cigano, a primeira reivindicação de seu povo é o direito de contar sua história. "O preconceito que nos acompanha em todos os países nao se acaba por lei nem por decreto, mas com geração de conhecimentos". Ele cobrou condições para mostrar aos não ciganos como os ciganos são e vivem, o que é bem diferente das lendas e mitos transmitidas até mesmo pela grande literatura brasileira, como Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosas, onde os homens ciganos são assaltantes e as mulheres prostitutas. Isto acontece, resumiu ele, por falta de informação.
Giovanovitch fez um apelo ao ministro da Cultura, Gilberto Gil, e pediu a interferência direta da ministra da Seppir, Matilde Ribeiro, para que viabilizem o direito cigano de mostrar que sua existência não se resume a uma dança colorida. "Trata-se de contar a todo mundo a história de um povo que sobreviveu a tudo e a todos, aos reis católicos e a Hitler", protestou.
"A forma mais eficiente de baixar a auto-estima de um povo é negar sua cultura", disse Giovanovitch,, ao lembrar que os ciganos já viveram a fase de pesadelo no Brasil, perseguidos e ignorados pelo governo. Agora, querem ser um sonho. "Vamos trabalhar no sentido de que o povo brasileiro sonhe junto". E para isto, lembrou, bastaria trocar todas as reivindicações ciganas por uma só: "Cumpra-se a Constituição"
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