Bruno Senna/Esp. EM | | Do Alto Vera Cruz direto pro seu radinho, o rapper mineiro Renegado apresenta seu primeiro trabalho solo, Do Oiapoque a Nova York
Aos 26 anos, Renegado já fez e aconteceu. E ainda quer mais. Músico há 10 anos, o cara ultrapassa as barreiras da rima e se apresenta como compositor, cantor e toca violão, guitarra e teclado. Além disso, é presidente da ONG Negros da Unidade Consciente, o NUC, que oferece oficinas e formação cultural, ensinando, por exemplo, música, canto, percussão, DJ, produção de música eletrônica, cenografia, iluminação e teatro. O NUC também é um grupo de rap que já se apresentou em vários países da América do Sul, África e em Cuba, alguns dos lugares onde Renegado foi buscar influências. Foi aí que começou nosso papo sobre seu novo trabalho, Do Oiapoque a Nova York.
A divulgação do seu CD diz que você busca identidade em vários lugares: casa, rua, morro, grandes cidades, mundo. Como é isso? A música, a partir do rap, mas de uma forma geral, me possibilitou ter acesso, tá ligado? Circular por aí. Antes eu fazia música dentro do meu barraco, depois para os caras do meu beco, então pra minha comunidade e, com isso, ela foi quebrando as fronteiras imaginárias que a gente tem. Quem falou que tenho que fazer música só para o morro? Quem disse que ali tem uma fronteira? Tô aqui é pra quebrar fronteiras.
Mas alguém disse que elas existem? A história impôs, né? Desde a época da colonização do país tem uma cultura do opressor predominante. A gente está aqui pra quebrar esses estigmas. Não tem fronteira que divide o morro e o asfalto. Ela é imaginária. Quando estou dentro do ônibus, indo pra minha casa, não vejo uma cerquinha e uma placa avisando “aqui é o Alto Vera Cruz” e “aqui é o asfalto”. Por onde passo, sou influenciado. Quando vou para o asfalto e vejo uma banda de rock, ou de reggae, isso me contagia. Quando fui pra Cuba ou Venezuela conheci outros ritmos, outras coisas que também influenciam esse trabalho. Você ouve esse meu disco e repara “opa, tem uma coisa mais latinona aqui”.
Como organiza esse monte de influências? Dentro do trabalho, o rap é a linha central, mas os outros ritmos sempre influenciaram, desde que me entendo por gente. Meu primeiro contato com black music foi ouvindo Tim Maia. Depois tive acesso a outras coisas, como James Brown. Aí, conheci Bob Marley... Não fico pensando como vou organizar esse trabalho. Penso em guiá-lo com verdade. Meu trabalho, acima de tudo, traz o que acredito. A forma de organizar essas influências é ser verdadeiro.
Então, o disco tem a ver com o que você está a fim agora? Total. Ele reflete totalmente a minha personalidade hoje. O que penso e acho de possibilidade musical, o que acho que tem a ver com o que vivo, hoje, na minha comunidade e, quando venho para o asfalto, ele diz também. Esse disco é a minha verdade.
O fato de você tocar instrumentos te faz sair de um lugar comum no rap... No Brasil tem esse estigma de que o rapper tem que ser o cara que precisa ser tosco no fazer artístico. Chega lá e não toca um instrumento, não se preocupa com afinação... Mas acho que esse é um caminho que já é ultrapassado. Tem que tocar! Os caras que tenho como referência, todos passaram por escola de arte: Tupac, Notorious B.I.G, grandes produtores da atualidade como Timbaland e Farrell, todos tocam. Essa história de não saber tocar é mais uma que inventaram. Eu estou meio nessa onda hoje: meio subversivo. Se o cara falar que não pode descer ali, não pode quebrar fronteira, eu vou. Só pra ver o que dá.
A melhor parte dessa história é o que CD está à venda por R$ 5. Lançado pelo selo A Rebeldia, do próprio Renegado, Do Oiapoque a Nova York já está disponível nas periferias das principais capitais do país. Isso mesmo, só em camelôs e lojas das periferias. Mas quem quiser também pode ouvir, na faixa, no site arebeldia.com.br e no myspace.com/arebeldia.
De samba a ritmos cubanos, e com participações que Renegado considera muito especiais: o produtor Daniel Ganjaman, Julia Ribas, Aline Calixto, Max Bo, Funk Buia do Z’África Brasil, Meninas de Sinhá, Cubanito e Alai, a produção de primeira merece atenção, como diz a frase da faixa título, é bem provável que “do Oiapoque a Nova York vagabundo vai ouvir falar”. |
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