por Especial Hip-Hop*
Direto de Caxias do Sul, segunda maior cidade do RS com mais de 450 mil habitantes, ficando atrás apenas da capital Porto Alegre, duas horas de carro. Vou comentar sobre o cenário hip-hop por aqui. Pois bem, o nosso movimento cresceu de uma forma desproporcional de cinco anos pra cá. Cada um puxa a brasa pro seu assado e poucos param para analisar se o rap está realmente cumprindo o seu papel.
Poetas Divilas (RS) em apresentação no (RJ)
Será que a molecada está entendendo a mensagem? Será que estão sabendo interpretar? Será que o papel de reivindicar está sendo usado coerentemente?
Mas deixa quieta. Enquanto isso vamos comendo pelas beiradas, cobrando o escanteio e correndo para cabecear.
Aqui também existem favelas. Principalmente porque milhares de famílias do interior vêm à procura de empregos na cidade do aço. Cidade da Metalurgia. Se existem periferias, existem tristezas, melancolias, existem também alegrias, existe o rap, o samba, mas infelizmente existem crianças com fome, analfabetos, a discriminação racial, social, falta de infra-estrutura e coisa e tal. A mídia ostenta que Caxias do Sul, terra da uva e do vinho de excelente qualidade é a campeã de Qualidade de Vida do Rio Grande do Sul. Ostentam que o nível de analfabetismo é “quase” zero. Mas será que entraram nas favelas da serra? Só na minha rua, conheço dois manos que não sabem ler e aprenderam a assinar seus nomes recentemente. (”Só quem é de lá sabe o que acontece...”)
A prefeitura da cidade colabora em partes com o hip hop, mas como a cidade foi colonizada por imigrantes italianos (saga européia) muitas vezes jogam a cultura para escanteio.
Trabalho com o hip-hop voluntário, há mais de dez anos, e não sobrevivo com o dim-dim do hip-hop. Para sustentar minha família e ficar de pé, trabalho em uma multinacional. Mas nos finais de semana e até mesmo nos dias úteis, o hip hop está presente. Shows, oficinas, debates... Sou integrante do grupo Poetas Divilas que há mais de dez anos vem oscilando entre altos e baixos (normal). “Não tá morto quem peleia, tchê!!”.
Recentemente fomos contemplados com o FUNDOPRÓ-CULTURA onde o poder público patrocina a gravação de um cd com mil cópias tudo original. Estúdio, encarte, divulgação e show de lançamento. E nós vamos representar o movimento. Mas não foi fácil, conquistamos esse projeto com unhas e dentes. Isso deu um gás para o grupo, chegou em boa hora.
Tenho por costume ler os artigos do Hip-Hop à Lápis o que me ajudou a concluir minha monografia de comunicação social Relações Públicas (sobre hip-hop) o primeiro trabalho sobre o tema na UCS Universidade “particular” de Caxias do Sul, onde eu contrario as estatísticas e logo pego meu diploma em graduação. Com o título RELAÇÕES PÚBLICAS COMUNITÁRIAS E O HIP-HOP: a comunicação pedagógica em busca da cidadania. Recebi muitos prêmios acadêmicos e concedi palestra sobre o trabalho. O hip-hop entrou pela porta da frente na facul. E queremos nossos lugares lá, já avisamos eles...
Ano passado participamos de dezenas de oficinas em escolas públicas com shows e troca de ideias para estimular as crianças e adolescentes das periferias de Caxias e incentivá-los a sonhar, pelo menos isso. ''Cultura, educação, livros, escolas'', não sou DJ, mas gosto de fazer esta colagem nos meus artigos, risc risc risc.(desculpem,viajei).
Fomos também para a Bienal em 2007 no RJ e cantamos no Circo Voador. Muito loko, tivemos a oportunidade de conversar com Marcelo Buraco (meu amigo) e com Aliado G, no qual já se apresentou juntamente com o grupo Face da Morte aqui na cidade.
Moramos em uma comunidade onde é dividida por um cemitério (Público) e um time de futebol da terceira divisão do brasileiro (Ser Caxias) o clube do povão, o meu clube.(sofredor de carteirinha). Por isso que a quebrada é denominada Zona do Cemitério.
Temos a parceria forte com os irmãos do grafite, onde o Duda juntamente com sua crew toca o barco com as atividades, oficinas e palestras. A nova escola representa a dança de rua, a gurizada tem elasticidade, disposição e estão em processo de evolução. O movimento da cidade também possui bons, mas poucos DJs. De grupos de rap posso arriscar em falar que hoje o Poetas Divilas é o mais antigo da cidade. A cidade também está carente de minas no movimento. Dificilmente se vê as minas com spray, microfone e vinil. Mas as que têm são de fé. Cabe a nós mesmos trazê-las e incentivá-las.
Mas para deixar o hip hop no lugar que ele merece, precisamos além da união de todos, lutar, trabalhar e acreditar. Deixar de picuinhas, parar de chorar e apresentar mais ação concreta. Aí sim, será tudo nosso!
Sei que o tempo é curto, mas para a leitura devemos separar um bom tempo, pois isso é troca de ideia. Se nos consideramos os lanceiros negros contemporâneos, lembre-se que a responsa é muito grande. Tão grande quanto o nosso Rio Grande do Sul, céu, sol sul... “Onde tudo que se planta cresce e o que mais floresce é o amor...”
Salve, Brasil
Chiquinho é integrante do grupo Poetas Divilas e ativista do movimento hip-hop de Caxias do Sul.
chiquinho.divilas@gmail.com
http://www.myspace.com/poetasdivilas
http://www.youtube.com/watch?gl=BR&hl=pt&v=WX9AkzQTBGs
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