Mulher Mídia e Controle Social



Roda de conversa, realizada pelo Observatório da Mulher, no dia 30 na UFPA, debateu a mercantilização da imagem da mulher na mídia, sobretudo na televisão, e a necessidade de controle social num dos monopólios estratégicos para o capitalismo.

Terezinha Ferreira

Foto: Gastão Guedes/Ciranda

Mercadoria. Exploração. Irresponsabilidade. Preconceito. Exclusão. Objeto. Mercado. Agressão. Utilitária. Produto. Lucro. Falta de respeito. Violência. Mercadoria. Imagem deturpada. Lastimável. Sexo. Exploração. Produto. Horror. Estereótipo. Coisificação. Inclusão deformadora. Opressão. Consumo. Mercadoria. Corpo. Ditadura. Objeto. Desvalorização. Objeto. Violência. Banalização. Desigualdade. Discriminação glamourizada. Violência. Mercadoria.

Com estas palavras as participantes da Roda de Conversa Mulher Mídia e Controle Social, realizada pelo Observatório da Mulher no FSM 2009, definiram a relação mídia e mulher, ao se apresentarem ao grupo. A sala da UFPA ficou lotada - e muit@s interessad@s ficaram de fora - de pessoas de vários estados e de alguns países, para discutir a imagem da mulher na mídia.

Vera Gasparetto, da Escola da CUT em Florianópolis, iniciou a conversa, colocando a comunicação como “direito fundamental para todos e para toda a vida. Por isso, é importante o controle social porque não existe, existe apenas o monopólio da comunicação. A mídia é o único setor onde nada foi feito por este governo, queremos políticas públicas para o controle social”.

Defendendo que a cultura se sustenta no tripé capitalismo, patriarcado e racismo, Vera falou sobre o desinteresse dos grupos do poder em regulamentar a mídia. “O preconceito reforça a exclusão social para que existam os que mandam e os que são vassalos e os meios de comunicação reforçam e vendem isto o tempo todo”. Daí a necessidade de políticas públicas que venham da base social, explicou a educadora da CUT, “para romper com a idéia de pensamento único, incentivar a pluralidade, a produção de conteúdos locais, recuperar a autoestima”.

“Para que queremos a mídia em nossa mão”, perguntou Vera, respondendo e lançando um desafio. “Para disseminar valores e conteúdos que nos interessam. Mas qual ética e estética queremos?”

Mulheres de amanhã

Isabela Henriques, do Instituto Alana, voltado para o tema criança e consumo, falou contra a publicidade voltada para o público infantil. Relatou diversos exemplos de ações desenvolvidas pelo Instituto contra propagandas abusivas em relação às crianças. “A publicidade passa valores questionáveis, como uma erotização precoce, na infância já se começa a tratar a mulher assim (referindo-se às palavras da abertura). Valores passados desde a infância levam as mulheres a serem anestesiadas”.

Além da questão do consumo, incentivado pela mídia, onde “mais de 50% da publicidade infantil é de alimentos, a maioria não saudável”, mostra Isabela, citando consequências, como obesidade, bulimia, anorexia. “A criança recebe essa imagem o tempo todo, desvalorizando a alimentação saudável. Você será feliz se consumir estes produtos”.

Mulher invisível

Com frases ouvidas dos “donos” da mídia no Brasil, Rachel Moreno, presidenta do Observatório da Mulher, observa como os poderosos se apropriam dos direitos, distorcendo-os completamente. “Cabe aos pais controlar seus filhos” ou “Vocês estão mexendo na liberdade de comunicação, que é um direito”.

Entusiasmando a roda, Rachel foi mostrando como “a mulher fica invisível quando é para mostrar sua inteligência, suas demandas, suas batalhas”. Não existe a falta de creche para a mulher trabalhadora, não existe discussão séria da sexualidade; mas existem valores passados emocionalmente, sobretudo pelas novelas, autoestima rebaixada para que as mulheres aceitem qualquer coisa, competição entre nós estimulada com a venda não do produto, mas da felicidade, segundo Rachel.

“Querem nos controlar pela televisão, principal fonte de lazer e informação”, concluiu. “A mídia é um dos meios de nos controlar. Não adianta a TV fazer uma campanha de vez em quando e martelar os mesmos valores o ano todo. As TVs são concessões públicas, precisamos controlar a imagem que fazem de nós”.

Acalorado debate

E a roda girou em torno de diversas opiniões com sotaques diversos, passando pela feminização da pobreza, a questão do envelhecimento, da realidade deturpada pelos telejornais, pelos estereótipos nas novelas, pela nossa responsabilidade. Vamos destacar algumas idéias.

“É preciso chegar à mulherada da classe trabalhadora. Elas acham normal a erotização precoce, o estereótipo. Os meninos devem aparecer brincando de boneca. A mulher, cujo corpo vira garrafa de cerveja, é visível, mas a carga ideológica passa invisível” GasPA, poeta ativista do RJ

“Programas como o do Raul Gil, onde as meninas ficam se insinuando, pior é a mãe que prepara a filha para ser assim”. Joana, Belém (PA)

“Não podemos esperar políticas públicas, nós somos responsáveis para mudar o mundo”. Luziele, professora, AC

“A realidade é muito cruel em nossa região, rota de tráfico de drogas e de pessoas, de prostituição. E o Conselho Tutelar e outros fazem vista ‘grossa’ para concursos de crianças na festa do Boi, transformadas em mercadoria e erotizadas. Como combater o turismo sexual?”

“As mães são massificadas. Para desconstruir esse imaginário e esses valores fomentados pela mídia necessita um olhar para dentro e para fora, para as contradições que temos”. Fátima, Parintins (AM)

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