Ana Carolina de M. D. Maciel/Divulgação | |
Como é filmar um personagem central tão (ou mais) polêmico como o capitão Nascimento, de Wagner Moura, em Tropa de elite? Procurei ao máximo fugir de estereótipos do herói ou do vilão. Quero humanizar os personagens, com suas dúvidas e contradições. O filme é livremente inspirado no livro, o que me possibilitou liberdade criativa.
Você tem experiência em documentários e filmes publicitários. Como é filmar um longa de ficção? Minha experiência em documentários fez com que optasse pelo tom realista, tanto nos cenários (do diretor de arte Bernardo Zortea) como nas atuações. Durante o treinamento dos atores, eles freqüentaram – com o preparador Christian Duvoort – a colônia penal para vivenciar o universo prisional. Para que os diálogos fluam com naturalidade, recebem suas falas um dia antes das filmagens. E, no ato, ainda sugiro motivações para que possam improvisar. Outro aspecto importante é a utilização de internos da colônia como figurantes e do agente penitenciário que foi fazer uma oficina para os atores e ‘virou’ ator do filme: Rojão, carcereiro da Ilha Grande.
Até que ponto seu filme terá tom documental? Em vários aspectos: na linguagem da câmera (de Rodolfo Sanchez), na escolha da locação, na mescla atores/internos, nas cenas externas que serão rodadas na Ilha Grande, onde ainda restam ruínas do presídio e que contará com figuração de antigos funcionários e detentos.
Concorda com os que dizem que há uma certa espetacularização da violência no cinema brasileiro? De que produções recentes mais gosta? A violência é tema espetacularizado em alguns programas televisivos e filmes. Não sou contra nem a favor de obras que denunciem a violência urbana. Acho apenas que é tema necessário como tantos outros. O problema maior não é julgar porque se fala tanto de violência, mas sim pensar por que temos tanta violência, isso sim é sintomático. Afinal, a violência não nasce nos filmes, não é ficção cientifica. Está na vida real, cotidiana, nas esquinas, nos bairros, nos morros e nas favelas. Violência é um tema que invade nossas casas pelos jornais, revistas, internet. Não há como escapar. Talvez a necessidade de se falar seja para se poder entender. Acho que entender é melhor do que fingir não ver. Não se trata, meramente, de espetacularizar a violência porque esta é palatável ou porque gostamos dela. Sobre as obras recentes, gosto de Cidade de Deus (de Fernando Meirelles) e Bicho de sete cabeças (de Laís Bodansky). Não por acaso. |
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