Os pais falham na perda da autoridade ante os filhos
Maria Amélia Bracks Duarte - Procuradora do Trabalho em Minas Gerais |
| Lamentáveis notícias de agressão e violência no trote de duas faculdades do país, além da prisão de jovens de classe média envolvidos com tráfico de drogas, nos levam à reflexão de como anda a família no Brasil e no mundo e seus reflexos sociais. As operações Nocaute e Trilha, desencadeadas pela Polícia Federal, desbarataram um esquema que contava com frequentadores de academias, lutadores e surfistas que enviavam cocaína para o exterior e de lá traziam ecstasy e LSD para o Brasil. Todos eles rapazes de classe média, universitários, moradores da Zona Sul do Rio de Janeiro. Na mesma semana, uma aluna do curso de pedagogia jogou solvente misturado com gasolina e creolina numa grávida ferida em trote. Cenas chocantes de jovens submetidos a lama e pontapés revelaram também a violência no trote de alunos da Faculdade Anhanguera, em São Paulo. Essas imagens de crueldade nos remetem ao índio incendiado, a prostitutas violentadas e a tantos mendigos molestados por jovens que poderiam ser nossos filhos ou de vizinhos.
O Estado falhou em não prever políticas de fixação do homem no campo; em não investir na escola e na competência dos professores; em não garantir uma universidade que forme cidadãos, em vez de doutores; em não criar espaços de lazer, principalmente na periferia das grandes cidades; e em subtrair dos subúrbios as condições mínimas de dignidade e sustentabilidade, distribuindo educação e saúde. O Estado se omite em não combater a corrupção de suas próprias bases; em não punir com leis severas os traficantes, os fraudadores, os marginais que trazem insegurança aos cidadãos; em não criar subsídios para a construção de habitação das famílias de baixa renda, desviando recursos para campanhas políticas ou para salvar empresários falidos que enviam dinheiro para paraísos fiscais.
Mas a família também falhou na perda da autoridade dos pais; na permissividade dos costumes, no estímulo a bens materiais, na ausência da espiritualidade e de um Deus vigilante; na falta da oração que protege a hora de dormir; na substituição da boa leitura pela imagem promíscua da televisão; e no tempo de aconchego da conversa entre filhos e pais, nas brincadeiras lúdicas, no respeito aos mais velhos e suas tradições. A sociedade precisa de interdição e do resgate ao bem-estar familiar, em que a figura da mula-sem-cabeça volte a ser o único assombro que assuste crianças e jovens em noites de Lua cheia. | |
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