O silêncio de Minas

Não podemos aceitar a ditadura velada do poder
O ouro e as pedras preciosas levaram paulistas, portugueses e baianos que viviam em nossos primeiros centros urbanos ao interior do Brasil, especialmente a Minas Gerais. Foi assim, nessas primeiras e esporádicas expedições, que redimensionamos o território brasileiro, o povoamos e palmilhamos cada pedaço deste país-continente.

A certeza que Minas deu a Portugal de que essas terras eram ricas pela própria natureza assegurou à metrópole que era preciso conquistá-la, povoá-la, tomá-la para si. Era o início de tudo. Sem o ouro de Minas, o Brasil seria mais costeiro, viveria de costas para o seu interior, de olhos voltados para a Europa, em menor grandeza. Sem Felipe dos Santos, o Brasil seria mais colônia, não seria terra de homens capazes de reivindicar seus direitos, de protestar e, por consequência, mais passivo ao massacre da corte portuguesa. A Inconfidência foi o brado de liberdade que ecoou e ecoa Brasil afora até hoje, revelando que o povo que aqui vive lutará contra toda tirania que aparecer, repelirá toda forma orquestrada de dominação.

Minas sempre integrou e pautou o Brasil diante de suas grandes transformações, na maioria das vezes, baseada nas mais austeras aspirações. Depois da aventura eleitoral de Fernando Collor, o caminho seguro e as instituições restabelecidas com a seriedade da tradicional política mineira, tocada por Itamar Franco. Foi aí, nesse período, que recuperamos a autoestima nacional, depois da ditadura, do massacrante governo José Sarney e do constrangedor governo Collor. É de lá para cá, de certa forma, a reconstrução nacional, o marco da pedra inaugural de novos tempos, depois de muitas intempéries e tempestades, um intervalo de tranquilidade e bonança. Hoje, o Brasil costeiro de ontem transfigurou-se no Brasil centralizador de São Paulo. Tudo que viceja além dele é passível de punição, de execração nacional. Falta ao país uma nova edição do Manifesto dos mineiros (1943), quando uma outra ditadura apontava o que seria aceito nestas terras de Cabral. Não podemos aceitar a ditadura velada do poder, aquela que é melhor executada, mais eficiente e que nos envolve pela omissão.

É preciso mudar o foco, desprivatizar o governo federal, mostrar ao Brasil que ele vai muito além da Avenida Paulista e de São Bernardo do Campo. A cantilena política dos últimos anos é a do grande empresariado, de um mesmo bloco que privatizou o estado em torno das mesmas prioridades, aquelas que alijam do grande processo político e democrático os que não pertencem às hostes paulistas. É hora do brado mineiro ecoar Brasil afora, redimensionar o país, retirar da gaveta os eternos sonhos esquecidos. Minas deve seu protesto ao país. Silêncio não combina com a sua realidade. Lideranças mineiras, sigam em frente.

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