A cultura homofóbica

Preconceito em relação aos homossexuais é quase total no Brasil
Sylvia Mendonça do Amaral - Advogada especialista em direito de família do escritório Mendonça do Amaral

O preconceito em relação aos homossexuais no Brasil é pior do que se imagina. Pesquisa realizada pelas Fundações Perseu Abramo e pela alemã Rosa Luxemburg Stiftung revelou um quadro preocupante: 99% da população tem esse preconceito. A pesquisa fez um levantamento apurando aqueles que são assumidamente preconceituosos, aqueles que disfarçam seu preconceito e uma categoria denominada “outros”. Dos entrevistados, 16% afirmaram ter forte preconceito e consideram os homossexuais “doentes”, “safados” ou “sem caráter”. Os pesquisados que disfarçam seu preconceito, a princípio, negaram esse sentimento, mas, ao longo de uma hora de entrevistas, fizeram afirmações homofóbicas.

Foram 2.014 os entrevistados em várias regiões, maiores de 16 anos e de diversos níveis de escolaridade. A maior parte das respostas indicava que a homossexualidade é recriminável, pois “Deus criou o homem e a mulher, com sexos diferentes, para que tenham filhos”. Muitos outros a consideraram como “pecado” e que “a homossexualidade é uma doença que precisa ser tratada”.

Causa espanto saber que apenas 1% dos milhares de entrevistados disseram não ter preconceito. Para amenizar essa dramática questão que afeta segmento de nossa sociedade que deveria receber a proteção do Estado, é imprescindível a aprovação do Projeto de Lei 122. Já foi aprovado pela Câmara, apesar dos problemas e resistências enfrentados, e, no Senado, as dificuldades não vêm sendo menores. As bancadas religiosas, evangélicas e católicas mostram-se veementemente contrárias, inclusive com protestos públicos e tentativa de invasão do plenário quando se debatia o projeto.

O que se pretende com esse projeto é inserir como crime inafiançável o preconceito contra os gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais (GLBTT), assim como ocorre com o preconceito racial. Além da aprovação desse projeto, é fundamental orientar as crianças e os adolescentes, já que ainda estão em fase de formação de caráter, apesar de se demonstrarem duramente preconceituosos. É terreno fértil onde devemos semear a certeza da igualdade e da dignidade concedidas a todos os cidadãos de nossa sociedade, como determina a Constituição Federal.

Engrossando as estatísticas, foi divulgado na internet no mês passadpo, texto de autoria do procurador do Banco Central em Belo Horizonte, Paul Medeiros Krause, manifestando-se, de forma inconcebível, contra o projeto de lei, afirmando que sua aprovação seria conferir superdireitos aos homossexuais. Afirma que os defensores da emancipação homossexual são hábeis na arte da hiperdramatização. Fazem-se de vítimas e tentam o golpe capital de calar os que consideram as relações homoafetivas como imorais, inaturais e danosas sociedade, impondo cadeia a seus opositores. O título do artigo, `”A lei da mordaça gay”, já indica que seu autor, sem dúvida, engrossa os dramáticos resultados que revelaram que 99% da população nutre preconceitos em relação aos homossexuais.

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