Conflitos na melhor idade

Kellen Caroline Santos
Aluna do 6º período do curso de jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva
A turma dos 45 aos 65 anos recebeu novo título um tanto sugestivo: envelhescente. A palavra ainda não se encontra no dicionário, mas define bem o que acontece com pessoas que estão entre a maturidade e a velhice. Assim como o termo adolescente significa uma preparação para entrar na maturidade, o envelhescente é nada menos que para entrar na velhice. O autor do termo é o escritor Mário Prata, que já fez de tudo um pouco: jornalismo, cinema, televisão, teatro e literatura.

Está cada vez mais comum jovens namorarem pessoas mais velhas, pois ambos dividem extensos interesses. Mas os envelhescentes adoram se sentir jovens e, para isso, enfrentam qualquer parada. Cirurgias plásticas, academias, carrões e roupas na moda. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Vermont e da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, descobriu que as pessoas com mais de 60 anos de idade se tornam mais liberais, e mais rapidamente liberais quando comparadas com pessoas mais jovens. Quando surge aquele dito popular de que avô e avó estragam neto, pode ter certeza que com os filhos não foram bem assim.

Não deve ser fácil envelhecer – quando adolescentes, ficamos loucos para completar 18 anos para entrar na boate sem falsificar a identidade. Agora, enfrentar fila de INSS não deve ser nada prazeroso, como ficar numa para não pagar a entrada dos 100 primeiros numa festa. Dizem que a vida começa depois dos 40 anos, quando você se encontra realizado. Mas a vida começa desde o dia em que você deixou de ser um espermatozoide. O autor Gabriel García Márquez descreveu em Memórias de minhas putas tristes o primeiro amor de um homem que surge em seu aniversário de 90 anos. Um primeiro amor como todos são, inseguro, apaixonado, angustiado. Um homem que achou que ia acordar morto no dia em que se tornasse um nonagenário e acabou renascendo num amor pueril, cheio de contradições.

Para os apaixonados, a idade é um pequeno detalhe, quase que imperceptível. Quando jovens fazemos inúmeros planos e costumamos viver na expectativa do que pode acontecer. Na envelhescência as preocupações são apenas com o presente: para que fazer planos se já fizeram tantos? O que vale é aproveitar todos os momentos, sem se importar com o que os outros esperam ou pensam de você. Só não vale prejudicar alguém, mas, se isso não acontece: que venham os eternos envelhescentes!

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