Crítica/"Verônica"

Andréa Beltrão dá força a filme desigual

CRÍTICO DA FOLHA

Gena Rowlands interpreta a personagem-título de "Gloria" (1980), de John Cassavetes. Dona de personalidade forte, ex-amante de gângster, ela se torna guardiã involuntária de um menino cujo pai, contador dos mafiosos que Gloria conhece bem, morreu em limpeza de arquivo. Se entregar o menino, sobrevive. Se protegê-lo, vira também alvo da quadrilha que o persegue. O que fazer? A personagem-título de "Verônica", interpretada por Andréa Beltrão com a mesma gana de Rowlands, enfrenta dilema semelhante em história que transporta as coordenadas de "Gloria" para o cenário urbano brasileiro do século 21.
O menino (Matheus de Sá) é filho de um contador de traficantes de drogas no Rio de Janeiro. Ciente de que corre perigo, o pai lhe entrega um pen drive. Assassinados o contador e sua mulher, menino e arquivo-bomba vão parar nas mãos de Verônica, professora de ensino fundamental da rede pública. A ótima caracterização da protagonista -alvo potencial de identificação para professoras e, por extensão, para trabalhadoras de classes média e baixa no Brasil, algo incomum na produção nacional- distancia um pouco "Verônica" da tradição à qual se filia, a da aventura policial em que se responde à violência com a mesma moeda.
Aqui, como impõe a realidade do país, os vilões não são só os traficantes, mas também (e principalmente) policiais corruptos, como se estivéssemos em uma trama secundária de "Tropa de Elite". O ex-marido de Verônica (Marco Ricca) é policial, tem pinta de quem levanta dinheiro de forma suspeita e talvez esteja envolvido na história, o que amplia a sensação de que não há saída. Mas, como o filme precisa encontrar uma para chegar ao final, há um desequilíbrio entre a primeira metade, em que se apresentam de maneira envolvente os personagens e os rumos da ação, e a segunda, em que a trama precisa caminhar e não consegue fazê-lo sem recorrer a soluções simplistas que esvaziam o que foi prometido no início.
Mais até do que um filme de gênero, no entanto, "Verônica" é filme de protagonista, e o envolvimento do espectador com a história passa inteiramente pela capacidade de acreditar em Andréa Beltrão. (SÉRGIO RIZZO)


VERÔNICA
Produção: Brasil, 2008
Direção: Maurício Farias
Com: Andréa Beltrão e Marco Ricca
Onde: estreia hoje nos cines Bristol, HSBC Belas Artes e circuito
Classificação: não indicado a menores de 12 anos
Avaliação: regular

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