O mundo assiste, passiva e comovidamente, ao massacre israelense na Faixa de Gaza. Independentemente das motivações político-eleitoreiras do conflito, o massacre de crianças, visivelmente indefesas, mostra o despreparo e a ineficiência bélica para resolver qualquer tipo de conflito. Por falar em eficiência bélica, uma das indústrias mais exitosas das últimas décadas – e que não foi nem sequer afetada pela tão propalada crise econômica mundial – é a das armas. Nunca se fabricaram tantos equipamentos letais, desde armas individuais e caseiras, até grandes equipamentos de artilharia terrestre, aérea e naval.
No Brasil, país que não está em guerra (sob o ponto de vista semântico), essa indústria cresce assustadoramente. E no seu calcanhar aumenta, não menos perigosamente, a indústria da segurança privada. Estima-se que cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) é empenhado em segurança. E, quanto mais ineficiente é a segurança pública, mais sofisticada e cara (e, para muitos, indispensável) é a segurança privada. Os horrores das guerras em outros países parecem ofuscar a carnificina humana que dizima milhões de vidas no Brasil, a cada ano. Parece algo proposital como a barbaridade alheia, noticiada em doses cavalares pela mídia, serve para anestesiar o pouco que resta da nossa sensibilidade em relação às mortes em nosso país.
Em um dos rankings mais indesejáveis, o Brasil está muito, mas muito à frente da Itália, por exemplo, e é um dos líderes mundiais. Enquanto a taxa de homicídios por 100 mil habitantes no país chega a 25,2, na Itália o índice é ínfimo, de 1,1 por grupo de 100 mil pessoas. No Brasil, com os dados do último ano disponível (2005), foram registradas 47.578 mortes; na Itália (2003) apenas 648 (73 vezes menos). Ou seja, o Brasil ocupa o sexto posto entre 83 países analisados. Quando se trata apenas de homicídios entre jovens, o Brasil avança no ranking e ocupa a quinta posição, com uma taxa de 51,6 por 100 mil habitantes. Por outro lado, o número de mortes nas estradas durante o feriado de fim de ano cresceu 13,3% em relação ao mesmo período de 2007 – 435 pessoas morreram no país somente nas rodovias federais. No mesmo período, o conflito no Oriente Médio tinha matado 500 palestinos. Se somarmos os homicídios e os acidentes de trânsito, no período entre o fim de 2008 e a primeira semana de 2009, teremos algo semelhante a três vezes o número demortos em relação a Gaza.
No estado do Rio de Janeiro, a polícia matou mais de 1,3 mil pessoas em 2007, número que representa 18% de todos os assassinatos ocorridos no estado. Todos estas mortes são descritas pelos dados da segurança pública como “resistência seguida de morte”. Em Pernambuco, cerca de 70% dos homicídios registrados foram praticados por grupos de extermínio, muitos dos quais com a participação de policiais. Os números de homicídios e mortes no trânsito, somados ao aumento constante dos suicídios, são responsáveis, anualmente, pela dizimação de cerca de 100 mil vidas de brasileiros. |
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