O NEGRO E A FLOR

Janaina Cunha Melo

A programação do 15º Festival Alterosa de Teatro Infantil começa hoje, no Teatro Alterosa, com ingressos a preços populares, reunindo sete espetáculos de diferentes gêneros. O primeiro deles, O negro, a flor e o rosário, de Maurício Tizumba, tem direção de Paula Manata, do Armatrux, e recupera contos da cultura afro-brasileira. O elenco, com nove artistas, narra histórias de Zumbi dos Palmares, Dandara, saci-pererê, Cosme e Damião, e Nossa Senhora do Rosário. “O negro é a resistência; a flor, a beleza; e o rosário, a fé. Construímos essa história com a intenção de falar um pouco sobre a negritude para as crianças, de um modo que não se aprende nas escolas. A infância é um bom momento para aprender a história do Brasil de um jeito que poucos contam”, explica o músico e ator. O trabalho conta com a colaboração do cordelista Vitor Alvim, que adaptou em versos a trajetória do líder negro Zumbi.

Maurício Tizumba adianta que todas as histórias são relacionadas no espetáculo, que parte da criação do mundo. Dois bonecos se juntam ao elenco para a exposição da trama, por ótima influência da diretora Paula Manata. “É uma outra visão, que favorece a narrativa”, comenta. Preparação vocal de Marina Machado, assim como cenários e figurinos, são pensados para envolver as crianças, de forma consistente, sem apelo fácil. “Crianças não têm que ser tratadas só com brilho e colorido. Elas também podem conversar sem recursos bestaloides e têm todas as condições de entender a partir de outras estéticas”, avalia.

Para o autor, que aponta Belo Horizonte como “uma das capitais mais racistas do país”, o palco é espaço para transgressão das normas e lugar de novos aprendizados. “Ninguém nasce com preconceito. Odiar é algo que se aprende, assim como é possível ensinar a amar desde cedo”, argumenta o artista. Para ele, a contação de histórias, neste caso, está a serviço da construção de uma sociedade acolhedora da diversidade humana e com menos segregação. Segundo Maurício Tizumba, a criação de O negro, a flor e o rosário foi um desafio que contou com inúmeras colaborações importantes. “Trabalho muito e estou sempre inventando moda. Convidados como a Giovana, a Marina, a Paula são fundamentais. O público nunca vai me ver batendo o tambor no mesmo lugar”, brinca. A peça é recomendável para crianças com mais de 6 anos.

O festival vai até o início de fevereiro e recebe de São Paulo o espetáculo O cravo e a rosa, musical de Xico Abreu, além de trabalhos dos grupos Trampulim e Real Fantasia, entre outros.


Leandro Maciel/Divulgação


Crianças não têm que ser tratadas só com brilho
e colorido. Elas também podem conversar
sem recursos bestaloides e têm todas
as condições de entender a partir de outras estéticas

Maurício Tizumba, músico e ator

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