Fotos: Beto Magalhães/EM/D.A Press | | Antes de dançar e cantar diante do presépio, grupos reviveram tradição de décadas, saindo da centenária casa Chácara Maria Reis | Jaraguã - Região da Pampulha, BH
Tradição de sete décadas, com toda a força e beleza da cultura popular, se cumpriu mais uma vez no Bairro Jaraguá, na Região da Pampulha, em Belo Horizonte. Na noite de sábado, antes da chuva forte, um cortejo de rancho das pastorinhas, coro dos anjos, bando de ciganos, folia de reis e guarda de Herodes percorreu parte da Rua Boaventura, saindo da centenária Chácara Maria Reis em direção à Igreja de Santo Antônio. Ao fim da missa, celebrada pelo padre Gleiscion Adriano, o grupo encenou o auto de Natal, recriando, perto do presépio e diante do altar, o nascimento do Menino Jesus e antecipando as homenagens aos Reis Magos, que têm o seu dia comemorado amanhã.
Danças ritmadas, cânticos singelos e palavras bíblicas, num clima de fé, alegria e celebração da vida, entusiasmaram os presentes no templo católico. “É a pura manifestação da cultura popular, mostra as nossas raízes mineiras”, disse o engenheiro agrônomo Carlos Eugênio Moreira de Oliveira, de 38, que trabalha em Jaíba, no Norte de Minas, e veio à capital para os festejos de fim de ano e visita à família. Ao lado do filho Rafael, de 6, Carlos Eugênio aplaudiu a iniciativa realizada pela Ordem Templária da Cruz de Santo Antônio de Pádua, Chácara Maria Reis e Grupo da Terceira Idade Cantinho da Amizade, de Santa Luzia, na Grande BH.
“Todos os integrantes do nosso auto de Natal são pessoas da comunidade, não são atores”, destacou o presidente do Centro de Tradições do Rosário do Estado de Minas Gerais, advogado Manoel Fonseca dos Reis, responsável pela organização. Ele lembrou que as datas de dezembro e janeiro, assim como o Reinado do Rosário, em junho, são cultuadas desde 1938 pela sua família, que ergueu a primeira capela da região dedicada a Santo Antônio e mantém a mais antiga propriedade da Pampulha. “A Chácara Maria Reis é remanescente da Fazenda Pampulha, erguida em 1849, quando ainda existia o Arraial de Santo Antônio da Pampulha Velha”, afirmou Manoel.
São Pedro colaborou, afastou as nuvens pesadas e proporcionou um início de noite de sábado tranquilo para a saída do cortejo formado por 60 pessoas. Antes, Eva Domingos, do grupo de ciganas, e Vera Lúcia Alves da Silva, das pastoras, visitaram o presépio montado na capelinha da chácara, cantando, cada uma, um pequeno verso: “Ciganos, vamos adorar, de Jesus é o nascimento. Oh!, Glória divina, é o nosso contentamento” . E mais: “Boa noite, meus senhores todos. Boa noite, senhoras também. Somos pastoras, pastorinhas belas, e alegremente vamos a Belém” .
À frente do grupo, carregando a bandeira dos Reis Magos, Irene Rodrigues da Costa, de 43, moradora do Bairro São Tomaz, na Região Norte de BH, mostrava a sua emoção. “É maravilhoso fazer parte deste auto de Natal e carregar esta bandeira. Os reis magos levaram ouro, incenso e mirra para presentear Jesus, e eu tenho o privilégio de conduzir o estandarte”, disse com brilho nos olhos. Com um medalhão de pedra verde no peito e “sem ouro no dente”, o bem-humorado Jair Salvo, de 72, contou que, até pouco tempo, era o único homem no bando de ciganos. “Agora tem mais”, apontou para os demais colegas. Satisfeito, Jair revelou que ganhou alma nova ao entrar para o Cantinho da Amizade. “Eu estava triste, deprimido. Hoje sou outra pessoa”. Para atestar a mudança no semblante, pôs a carteira de identidade ao lado do rosto, no melhor estilo “antes e depois”.
CORES E DANÇAS Entusiasmados com a batida marcante da caixa congo, instrumento de percussão, os fiéis não se acanharam e bateram palmas. Alguns deles, a exemplo de Maria Helena Santos, moradora do Bairro Jaraguá, até ensaiaram alguns passos, acompanhando o movimentos das pastorinhas. “Está lindo!”, comentou animada. Atento a todos os detalhes, o agente de viagem Arilson Isoni, de 45, enalteceu a cultura mineira e a participação popular. Acompanhado da filha Maria Giulia, de 8, ele disse que as tradições se tornam um forte elemento para atrair visitantes.
Orgulhosa pela organização do evento, a cargo do seu filho Manoel, Maria Fonseca Reis, de 81, lembrou a importância da comemoração especialmente para as crianças e adolescentes: “Vivemos num tempo de violência, drogas e outros males, então precisamos levar a cultura para os jovens”. A celebração do Natal e do Dia de Reis mora no seu coração, “pois é uma época muito bonita, e as pastorinhas, com suas cores e danças, aumentam a emoção”. Às 20h, poucos minutos antes de a chuva chegar, o grupo se despediu cantando: “Pastoras, vamos embora, que a madrugada já vem, vamos ver as nossas cabanas, que lá não ficou ninguém”.
No próximo sábado, às 17h, a Chácara Maria Reis (Rua Boaventura, 2118), vai sediar o encontro de Folia de Reis, com a participação de grupos da capital e do distrito de Justinópolis, em Ribeirão das Neves, na Grande BH. |
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