O Hip-Hop e a crise mundial



Entrevistado: - Eu estava tentando explicar para o povo (boys) o por quê do rap, claro eles não entenderam.


(...) Repórter: - O contrário também é verdadeiro? (...) Você consegue entender a bolsa de valores, o dólar, essa parada toda?


Entrevistado: - Meu, eu vou falar uma coisa pra você. Se pra entender a periferia já é meio complicado, entender isso aí é pior ainda.”


... Uma pausa para reflexão...



Esta é uma transcrição de um trecho do documentário “É Tudo Nosso!”, de Toni C. Mais que uma simples entrevista, é uma oportunidade de entendermos a importância do conhecimento. É imprescindível a reflexão: Como ser ‘Tudo Nosso’ se não sabemos o que nos oprime? Como modificar um sistema se não conhecemos como ele opera?

O conhecimento é o nosso quinto elemento, os demais são insuficientes se não conhecemos a história e o presente do hip hop, da sua quebrada, do Brasil e do mundo. Na economia capitalista, a informação é o que liga. Muita gente ganha dinheiro devido à nossa falta de informação sobre a administração financeira e os mercados de capitais.

Não raro vemos no jornal que o mercado financeiro estava tranqüilo, agitado ou nervoso. O mercado é sentimental! Tratado pela mídia como se tivesse vida própria, acaba-se ocultando que o mercado é formado de pessoas de pele e osso, celular e gravata. São os investidores financeiros.

Esses investidores ganham a vida vendendo títulos mais caro que compraram, não produzindo um único produto. A raça mais cruel dos investidores são os especuladores, aqueles com cinco celulares ao mesmo tempo fazendo caça predatória ao lucro. Parasitas sugando as Economias do mundo todo. O mesmo que o homem faz com a natureza em que vive.

O assunto do momento é a Crise Econômica Mundial. Enquanto a elite está discutindo a crise, nós, os verdadeiros prejudicados, nem sabemos realmente o que é essa tal crise. Somos os verdadeiros prejudicados porque quando a economia vai mal, as indústrias, para diminuir os produtos encalhados, demitem os funcionários da produção, aqueles que recebem os menores salários. Elas não cortam os altos salários nem reduzem custos com administração. O lucro é concentrado, mas o prejuízo é repartido.

Há um conceito interessante: se em uma determinada indústria somarmos todos os salários dos funcionários, inclusive um bom salário para os donos, teremos uma quantia menor que a receita da empresa. e vão parar no bolso dos donos, embutido nos lucros. Isso é o que Marx chamou de mais-valia. Em outras palavras, mais-valia é o dinheiro furtado dos trabalhadores que não recebem toda a sua parte daquilo que produziu.

Mas o que importa saber se a bolsa de valores caiu ou subiu? Meu sonho é que o jornal falasse da taxa de analfabetismo com a mesma freqüência que dos índices da bolsa. Enquanto isso não acontece, vamos conhecer a bolsa.

A Bolsa de Valores é o local em que se compra e vende títulos, seja títulos de ações, moedas ou outros tipos. Nela, conseguimos ver como anda a economia, pois os investidores financeiros são os mais avessos a riscos (exceto a raça especulador).

Quando a bolsa cai, “fecha em baixa”, o cenário para a economia está mal, e quando ela sobe, quer dizer que a expectativa para a economia melhorou.

Títulos de ações são papéis de valores potenciais que geram dinheiro sem terem sido criadas por dinheiro ou produto. Em português claro, é uma criação de riquezas forçadas, dando valores a papéis. Os títulos não possuem lastros porque valem bem mais que as instalações da padaria. O próprio dinheiro é um papel que tem valor potencial apenas, ele em si vale somente o custo da fabricação da nota.

O fato de se forçar a geração de valores causa um colapso quando se quer dinheiro de verdade, pois estes não existem até então, o que gera as crises econômicas. Ou seja, essa forçação de barra (de ouro?) cria-se bolhas especulativas que, de quando em quando, estouram. Acontece hoje uma crise de 29 por semana, mas não produzem os mesmos estragos porque os bancos centrais do mundo inteiro intervêm.
A crise atual é uma dessas bolhas especulativas que os bancos centrais do mundo todo não estão conseguindo manter intacta. Tem como principal causa direta o mercado imobiliário dos Estados Unidos. Os bancos americanos, durante juros baixos, criaram facilidades de crédito e títulos de imóveis baseado em hipotecas. Para conter a inflação, os juros foram aumentados, tornando as hipotecas difíceis de serem pagas, gerando inadimplência.

Os bancos perderam duas vezes, primeiro pela inadimplência das imobiliárias que não tinham como pagar porque não recebiam hipotecas, e segundo pela própria perda de valor dos títulos baseados em hipotecas. Imobiliárias quebraram e levaram para o buraco junto os bancos. Tudo rezado pelos sacerdotes especuladores dentro dos templos financeiros.

A falta de dinheiro em bancos causa diminuição generalizada de empréstimos e investimentos, criando demanda por dinheiro real, o que diminui o valor das ações e a quantidade de dinheiro disponível do mundo todo. Com isso, as indústrias passam a vender menos, e corta primeiramente na produção, gerando desemprego, como já vimos.

Se cada um se informar melhor, não restam dúvidas que o país será bem menos desigual. Ignorar a economia e a política é o que nos torna, oprimidos e excluídos, mesmo com nossa riqueza cultural e moral. E torna o Brasil em paraíso para investidores do mundo todo.

Somos o movimento do oprimido. Para que tenhamos êxito em nossa caminhada, é necessário saber onde pisamos e em que lugar o mundo chegou, para podermos pegar um caminho melhor. Temos que unir os conhecimentos, envolver com o coração, destrinchar com o cérebro, gritar as soluções e lutar por elas. Aí sim, É Tudo Nosso!

André Ebner é membro da Nação Hip-Hop Brasil de Ribeirão Preto - SP.



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