Cidades Partidas

Geraldo Magela Teixeira, Reitor do Centro Universitário UNA
A administração das grandes cidades brasileiras deverá sempre estar atenta a uma realidade pungente. São cidades partidas, a população mais opulenta vive encastelada nos condomínios cercados e protegidos pelo medo de uma violência quase generalizada. Parte da população vive nos vastos bairros de classe média ou mesmo na chamada “nova classe média”. Outra parte da população, bem numerosa, se concentra em favelas e grandes conglomerados, quase sempre em condições ínfimas de vida, com tantas famílias desestruturadas onde imperam o tráfico e a violência. Essa realidade deve ocupar a mente e os corações dos administradores na formulação das políticas públicas e, de modo especial, nos planos educacionais. Diante das dificuldades de oferecer uma educação homogênea para todas as crianças, prefeitos e governadores nas últimas décadas implantaram generosos e criativos programas para os pobres, infelizmente, de pouco êxito. Assim surgiram as escolas de tempo integral, os famosos Cieps de Leonel Brizola, no Rio de Janeiro, até a escola integrada de Belo Horizonte. Surge agora uma experiência diferenciada em São Paulo. É uma tentativa de copiar em parceria com os institutos Itaú Social e Fernand Braudel uma experiência em curso em Nova York desde 2001. Espero que o governo de São Paulo esteja fazendo as necessárias adequações, pois a proposta no Brasil esbarra em ordenamentos legais e possíveis conflitos na área sindical.

Tentemos um resumo das principais alterações feitas em Nova York. As escolas mais problemáticas também lá se situam nas regiões mais pobres, de modo especial, na vasta região do Queens. As inovações são importantes. A primeira delas um substancial aumento salarial para os professores e estímulos para os que moram próximo ao local de trabalho. Só isso já atraiu para o projeto profissionais qualificados de todo o país. Ampliaram-se as atribuições dos diretores, que passaram a gerir recursos, elaborar currículos, afastar professores faltosos ou desmotivados, selecionar seus docentes e serviços de apoio. Cada escola tem uma equipe de apoio educacional e equipes de segurança, sobretudo para os pontos de tensão em corredores e escadarias.

Foram criados mecanismos de avaliação dos diretores, com admoestação aos mais fracos e eventual afastamento caso não se recuperem. Os candidatos a diretor são treinados por outros mais experientes na chamada Academia de liderança. A rede escolar de Nova York começou a recrutar jovens talentos recém-formados para lecionar as matérias mais difíceis. Os alunos passaram a ser testados quatro vezes por ano e as famílias convocadas quase semanalmente para integrar o projeto das escolas. Resultado: diminuiu a violência, aumentou o aproveitamento escolar; reduziu-se o número de alunos com a idade inadequada à série que frequentam.

Não sei se a experiência será implantada integralmente em todas as áreas de risco de São Paulo. É que educação tem um preço alto e os administradores não querem ou não podem pagar salários compatíveis com a função e muito menos com os riscos. Tanto que o teto salarial dos professores tornado lei aguarda um pronunciamento definitivo do Supremo Tribunal Federal, arguido de inconstitucionalidade pelos estados. Continua letra morta o aumento a 1/3 da carga horária a ser paga pelo trabalho extraclasse. Ouço de autoridades e até de educadores que o salário não é o elemento que mais motiva os professores. Se não é, me expliquem por que estão vazios os cursos particulares de formação de professores. Se o salário mal dá para pagar a faculdade particular, o que levará os nossos jovens a escolher uma carreira tão sublime? Sabemos que a falta de feijão não sustenta os mais lindos sonhos, nem desvairados amores.

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