Ações para o início de 2009

Julio Gomes de Almeida, Professor de economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
É importante sublinhar certas perspectivas abertas nesta virada de ano para que a política econômica tenha maior atuação, com o objetivo de suavizar os impactos negativos da crise internacional sobre a produção e emprego na economia brasileira. A crise nos atingiu tão fortemente no último trimestre do ano que é provável que o crescimento econômico seja negativo nesse período, devido ao fraco desempenho da indústria.

Esta vinha tendo uma evolução brilhante até o terceiro trimestre do ano, mas os seus segmentos líderes, especialmente automóveis e máquinas e equipamentos, foram muito sacrificados pela restrição do crédito e pelo colapso das decisões de investir dos empresários. Em parte, os setores de serviços e de comércio, que têm um grande peso na formação do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, devem ter sustentado algum dinamismo na economia, que, do contrário, teria tido uma queda vertiginosa no quarto trimestre de 2008.

A perspectiva quanto ao crescimento não é boa. O emprego que, já começara a dar sinais de declínio nos meses finais do ano passado, deve cair acentuadamente, transformando uma retração até então localizada no setor industrial em um problema geral. As expectativas empresariais e a confiança dos consumidores não param de cair. Essa menor confiança de empresários e consumidores deve aprofundar a redução dos investimentos e do consumo. Por isso, é muito provável que o primeiro trimestre de 2009, repetindo o último trimestre do ano passado, acuse retração do PIB, o que configuraria uma recessão na economia. A despeito deste quadro desfavorável, há um caminho a ser trilhado pela política econômica, que vem se notabilizando pela timidez, sobretudo na área monetária, o que concorreu para que a economia brasileira ficasse tão exposta à crise externa e dela absorvesse os efeitos mais negativos.

Mas alguns resultados recentes sobre a inflação e contas públicas autorizam uma atuação muito mais incisiva da política econômica, o que deve ser levado em conta como um fator contrário ao movimento depressivo da economia desenhado para o início deste ano. A inflação está dando mostras de um significativo recuo, devido à redução de preços de commodities no exterior e à própria retração da economia doméstica. Outro receio das autoridades monetárias caiu por terra com a divulgação do grau de utilização na indústria para dezembro: somente 79,9% de sua capacidade total de produção, contra 84% em novembro de 2008, o que sinaliza uma grande queda da demanda. Os crescentes índices de utilização registrados até agosto (86,3%) eram difundidos como justificativa para o aperto da política monetária, por indicarem aumento da demanda sem o correspondente crescimento da oferta, ensejando tendência de elevação futura de preços.

Esses fatos permitem que a política monetária promova rapidamente a redução de juros e contribua para recuperar o crédito. Na política fiscal, os resultados de novembro foram muito positivos. O balanço entre receitas e despesas não financeiras do setor público acumulou em 2008, até novembro, saldo recorde de 5,08% do PIB, resultado que confere margem muito maior de segurança para uma mais ousada ação de política fiscal. Em suma, o início de 2009 não deverá ser lembrado como um período favorável para a economia brasileira, mas nele o governo poderá agir como até agora não o fez para socorrer o crescimento e o emprego.

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