Da resistência à ofensiva



por Marcelo Buraco*

Tem situações que são únicas nas nossas vidas, pelo conjunto dos fatos colocados elas não mais se repetem na mesma proporção e valor de importância.

Podemos dizer que vivemos esta situação neste exato momento, pois nunca o movimento hip-hop se deparou com tal situação que comunga a nosso favor.



Vamos analisar o cenário de 2002 pra cá o movimento hip-hop vem ganhando as páginas dos principais diários, revistas, tablóides e noticiários. Isto porque soubemos aproveitar o momento e começamos a ocupar espaços nunca dantes pisados pelos pés da juventude da periferia.

Fomos recebidos no palácio do planalto pelo primeiro Presidente operário deste país, muitas conversas, projetos e sonhos foram discutidos, e saímos de lá com uma certeza: este presidente é dos nossos, alguma coisa pelo menos mudou.

Muita coisa esta mudando na verdade, a própria evolução do hip-hop demonstra isso, e podemos mostrar uma série de resultados e avanços.

Os vários pontos de cultura subsidiados pelo Ministério da Cultura coordenados pelas entidades nacionais de hip-hop, as casas de hip-hop que vem sendo criadas em várias cidades, além de projetos desenvolvidos pelas posses de hip-hop locais financiados pelas secretarias de educação nos municípios para trabalharem o hip-hop dentro das escolas, os projetos de esportes radicais incentivados pelo Ministério dos Esportes. Os milhares de manos e minas das periferias que entraram nas universidades através do PROUNI, e tantos outros que vem recebendo bolsas para fazerem cursos no Pró Jovem.

E no campo das idéias o hip-hop vem pautando a discussão sobre adolescência e juventude como no caso do documentário: “Falcão meninos do tráfico” da CUFAS, e nos vários debates sobre as FEBEM’s que a Nação Hip-Hop Brasil vem fazendo em São Paulo.

Muita coisa precisa ser feita, afinal de contas forma 502 anos de governos das elites, e os homens do capital financeiro insistem em retomar o espaço perdido com a eleição de Lula. É por isto que podemos afirmar que a bola esta quicando na marca do pênalti e não podemos vacilar, o momento é de ocupação dos espaços, de avançarmos as nossas lutas em prol da juventude da periferia.

Participarmos ativamente do processo eleitoral é fundamental e mais importante ainda é entendermos que existem apenas dois projetos em disputa. Um representa o avanço das forças populares e movimentos sociais organizados, que com a eleição de Lula em 2002 deram um passo à frente. O outro representa o retorno do poder governamental nas mãos daqueles que sempre governaram este país em favor daqueles que possuem o poder econômico.

Mais do que isto, é preciso nos identificarmos com os representantes nas Assembléias Legislativas, Senado e Câmara Federal que de fato lutam a favor dos projetos populares.

E aqui em São Paulo o divisor de águas é bem definido, de um lado estão aqueles deputados que representam o que há de mais conservador e que defendem mais represão policial, cadeias e febem’s, como é o caso dos: Afanasios, Contes Lopes, Edsons Ferrarinis, Erasmos Dias, Curiatis.

Do outro lado aqueles que nos apontam o caminho da mudança de rumo no Estado de São Paulo e propõem que o Governo invista no ser humano. Dentre estes destaco a candidatura para deputado estadual de um mano do próprio hip-hop o Aliado G do grupo de Rap Face da Morte.

Eleger Aliado é mais uma prova do avanço do movimento hip-hop que sugere os caminhos que a juventude da periferia precisa trilhar. É ocupar os lugares que nos foram sempre negados e que agora queremos conquistar com muita luta, é mostrar para aqueles que duvidam da nossa capacidade que nós podemos ir mais longe do que eles pensam.

Chegou à hora de partirmos da resistência pra ofensiva, temos um mundo a mudar, uma vida a ganhar e um país pra construir. Pela periferia, pela juventude e pelos nossos ancestrais que lutaram...

...Somos Todos Aliados.




*Marcelo Buraco, Membro-fundador da posse Negroatividade de Santo André


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