O festival reúne apenas grupos de rap e é exemplo de organização e sucesso de público
Eduardo Ribas
Se você é daqueles que balança a cabeça ao ouvir o grave das batidas do rap gringo ou nacional, então provavelmente já deve ter ido ao Indie Hip Hop. O festival de rap é realizado anualmente, no Sesc Santo André, e sempre traz o melhor do estilo musical para o público. Este ano, os organizadores trouxeram um dos grandes nomes do rap norte-americano: Talib Kweli. Além disso, contou também com os principais nomes nacionais no estilo.
Para início de conversa, faremos um resgate da história do evento para que você conheça melhor. O festival chegou agora a sua sétima edição e tem foco nos grupos do chamado rap underground ou alternativo. Nesse tipo de rap, a ideia se volta principalmente às reflexões, provocações e mensagens positivas, deixando de lado os clichês do gênero. Sempre há atrações nacionais que seguem essa linha e um grande nome do rap internacional, geralmente vindo dos Estados Unidos, berço do estilo e da cultura Hip Hop.
“O Indie surgiu em 2002 em um momento conturbado. Por um lado, era o auge de umas festas de black pop, e por outro lado, o rap nacional também tava num momento bem forte”, conta Rodrigo Brandão, MC do grupo Mamelo Sound System e um do organizadores e idealizadores do evento.
Apesar de conturbado, o momento foi extremamente propício, já que importantes lançamentos de CDs apareceram na mesma época, como Racionais MC's (Nada como um dia após o outro), Xis, RZO e outros. Isso ajudou a mostrar a força do rap por aqui.
A primeira edição tinha outro nome: Nos porões do Hip Hop. A partir da segunda virou Indie Hip Hop, e apesar do Sesc não ser favorável a reedições de eventos, teve o aval principalmente pelo seu grande sucesso de público e crítica. Grupos como Blackalicious, Hieroglyphics, Jurassic Five e De La Soul (que já se apresentou no Tim Festival), fizeram apresentações que significaram a realização do sonho de vários admiradores do estilo. Isso sem contar com os grupos brasucas, como Mzuri Sana, Instituto, Inumanos e artistas solo conhecidos como Kamau ou revelações como Doncesão.
Sobre a edição de 2008
Talib Kweli pode ser considerado um dos grandes nomes celebrados pelo público que aprecia rap de qualidade. O MC de Nova Iorque possui discos clássicos como o Blackstar, feito em parceria com outro grande nome do rap, o MC e também ator (entre outras coisas) Mos Def.
Talib, que é conhecido pela poesia e a forma como estrutura suas rimas, fez mais de 5 mil pessoas levantarem suas mãos (gesto conhecido por aqueles que frequentam shows de rap) nos dois dias de festival. Foram disponibilizados 2.500 ingressos por dia, e casa estava notavelmente lotada, tanto no sábado quanto no domingo.
No primeiro dia, se apresentaram Doncesão, rapper, de 22 anos, que surge como uma das revelações da cena, além do MC Sombra e o grupo Subsolo. Esse último é na verdade um retorno dos integrantes do famoso grupo Quinto Andar, que fez muito sucesso graças a propagação de seu trabalho via internet. A diferença é que antes o tom das rimas era mais sarcástico e agora tem um discurso mais reflexivo e sério.
Já no segundo dia, se apresentaram Projeto Manada, Enézimo, que é um MC de Santo André (ABC Paulista) e Kamau, que fez um dos shows mais emocionantes e empolgantes da noite.
Em se tratando de emoção, o segundo dia foi marcado pela homenagem feita ao Dj Primo, que já trabalhou com vários nomes do rap nacional, inclusive Marcelo D2. Ele faleceu em setembro, aos 28 anos, e deixou saudade para muita gente, dentro e fora do rap. A homenagem foi feita por cada participante do festival, cada um a sua maneira.
O Dj Kl Jay, do Racionais MC's, fez um set especial que contou com imagens em um telão, que mostrava Primo em diversas ocasiões. Até o próprio Talib Kweli dedicou as duas noites ao Dj que partiu.
Talvez você esteja curioso sobre como é feita a escolha dos grupos que fazem parte do festival. “A partir de 2005, começamos a trabalhar com uma regra: o artista tem que ter lançado um disco oficial no ano, e ter tido destaque. Nas últimas três edições, funcionou desse jeito. O grande problema é que estamos na era do mp3”, reflete Rodrigo Brandão. Realmente, isso é um problema, já que a indústria musical paga cada vez menos para os artistas que lançam discos. Mas não é isso que impede o rap de continuar trilhando seu caminho.
Artistas novos surgem e encontram soluções próprias e genuínas para propagar suas ideias. Às vezes é necessário produzir a batida para depois rimar em cima, fazer a arte da capa do CD, vender o produto final de mão em mão, e ainda sim não perder o fôlego.
Muita gente ainda não conhece o trabalho dos MC's desse chamado rap alternativo e preferem continuar ouvindo apenas o que vem de fora. No entanto, eventos como o Indie Hip Hop servem para coroar, reconhecer e difundir o trabalho dos representantes deste tipo de rap. De quebra, ainda reúne muita gente bonita, no estilo, e permite acesso fácil aos representantes dessa cena.
Se você ainda não conhecia o Indie Hip Hop ou perdeu a edição deste ano, fique atento e não perca a próxima! O que você achou do festival? Comente!
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