Ismaelitas e Israelitas


O mundo anseia que ismaelitas e israelitas se abracem
José Nazareno Ataíde - Advogado, filósofo, teólogo, professor na Faculdade de Direito de Ipatinga-MG
Ao folhearmos a Bíblia, encontramos, no livro do Gênesis, a partir do capítulo 12, a história de Abraão, por volta do ano 1850 a.C. Ele foi um dos 10 patriarcas, nome dado aos primeiros chefes de família no Antigo Testamento. Abraão, que significa pai de uma multidão, é um ponto de referência no cenário bíblico. É o protótipo de homem fiel, leal e obediente à inspiração divina, mesmo quando isso lhe custa muito. Característica de Abraão é ser aceito e reverenciado tanto pelos judeus como pelos cristãos e pelos muçulmanos. Quem sabe esse ponto de convergência ainda vai ser lembrado e usado na busca de paz no Oriente Médio, onde parece haver só divergência.
Abraão era casado com Sara, também judia, que se revelou estéril. Não ter filho, na cultura da época, era constrangedor, sinal de frustração, de maldição. A própria Sara sugeriu a Abraão que ele se unisse a Agar, uma de suas escravas, egípcias, para que tivessem filho. De Agar, a mulher escrava, nasceu Ismael, do qual se originaram os ismaelitas, que são os palestinos. Tendo Sara recuperado a fecundidade, gerou Isaac, do qual nasceu Israel, segundo nome de Jacó. De Israel, neto de Abraão, se originaram os israelitas, que são os judeus. Portanto, a descendência de Abraão se bifurcou: ismaelitas, originados de Ismael, filho de Abraão e Agar, a escrava; israelitas, descendentes de Israel, que descende de Abraão e Sara, a mulher livre. Isso foi o germe de uma discriminação, de uma rivalidade que a poeira do tempo ainda não conseguiu apagar: os descendentes da mulher livre e os descendentes da mulher escrava nunca se afinaram, apesar de terem um pai comum, Abraão. No tempo de Jesus, a geografia daquele território era outra: ao norte, Samaria, dos palestinos; e, ao sul, Judeia, dos judeus. Sempre vizinhos, sempre rivais e antagônicos.

Jesus, que é judeu, fez tudo para as duas etnias se aproximarem, alargando a visão de mundo e de Deus. O Deus anunciado por Jesus não é um Deus tribal, fruto de um exacerbado nacionalismo. É Deus de todos, universal, à semelhança da chuva, que cai sobre todos, à semelhança do Sol, que a todos ilumina. Deus sem fronteira. Quando Jesus, à beira de um poço, conversava com uma mulher samaritana, os judeus o flagraram e o censuraram pela sua atitude, sendo ele um judeu. Ela mesma manifestou estranheza pelo fato de Jesus ter-se dirigido a ela (Evangelho segundo João, cap. 4º ).

Quando quis ensinar que o amor não tem limites nem restrições, Jesus contou uma história (parábola) em que um judeu viajante caiu nas mãos de ladrões, que o saquearam, deixando-o quase morto à beira da estrada que liga Jerusalém a Jericó. Vários judeus, ligados à hierarquia religiosa, por ali passaram e seguiram em frente, sem dar atenção ao ferido. Mas houve alguém que parou e lhe deu todo o socorro de que precisava. E quem deu socorro ao judeu foi um palestino, um samaritano (Evangelho segundo Lucas, 10, 29-37). Essa visão de Jesus, eclética e globalizante, foi mal recebida pelos judeus, caiu como remendo novo em roupa velha, tornando-se o epicentro das razões que levaram à sua condenação. Vê-se, pois, que a rixa entre judeus e palestinos é muito antiga. O mundo anseia que ismaelitas e israelitas se abracem, que os filhos de Sara e os filhos de Agar se entendam. Pai Abraão e mestre Jesus vão sorrir.

Um comentário:

Anônimo disse...

vc sintetizou todo o conflito da maneira mais simples possivel, Jesus não é e nem foi um Deus Tribal, mas pai de todas as nações, ama todos da mesma maneira.
Mas a questão hoje entre Israel e Palestina tomou rumos diferentes.
A introdução do Estado de Israel no Oriente Médio pela ONU, ou melhor, "pelos estados Unidos", só serviu para utilizar o Povo Judeu para construir uma fortaleza americana na região mais estratégica, rica culturalmente e também rica em pétroleo. É claro que os EUA financia a guerra, está do lado de Israel. Mas o povo Judeu nesse contesto não está herdando a terra, não é o cumprimento da promessa que muitos batem no peito pra dizer.
Deus não iria oprimir os palestinos como está aconteçendo hoje para cumprir uma Promessa. A terra santa não é uma terra profanada com sangue, é uma terra que ainda não conheçemos que ele está preparando para todos nós.