Próstata exige prevenção

Dairton Miranda, médico, especialista em patologia
A estimativa de novos casos de câncer de próstata nos próximos anos tem despertado cada vez mais a atenção para a importância dos exames preventivos. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Brasil registrou em 2008 aproximadamente 50 mil casos de câncer de próstata. O número serviu de alerta para os mineiros, que estão mais preocupados com esse tipo de tumor e informados sobre a doença e a necessidade da prevenção. Um levantamento realizado por um laboratório especializado em anatomia patológica e citopatologia apontou aumento de 15% ao ano – de 2002 a 2008 – no número de exames para detecção de câncer de próstata. O fato comprova que o sexo masculino está mais atento para a seriedade desse câncer e realiza a prevenção cada vez mais cedo.

Erroneamente, há alguns anos, este exame preventivo fazia parte somente da rotina daqueles que se enquadravam na terceira idade. Porém, como os mais jovens não estão isentos de ter esse tumor, o número de homens na faixa dos 45 anos que passaram a se prevenir cresceu significativamente. É fundamental ressaltar que, mesmo ocorrendo esse salto quantitativo de testes, ainda é grande o número de mineiros que não se conscientizaram sobre a gravidade deste tipo de tumor. Afinal, sem considerar os tumores de pele não-melanoma, o câncer de próstata é o mais frequente em todas as regiões do Brasil. Em termos de valores absolutos, esse câncer é o sexto tipo mais comum no mundo e o mais prevalente em homens, representando cerca de 10% do total de câncer.

O Inca aconselha a população masculina que procure fazer avaliação anual com exame clínico (toque retal) e com a dosagem do antígeno prostático específico (PSA – sigla em inglês). Caso haja alguma alteração nos dois exames, é recomendada a realização de uma biópsia prostática, com auxílio do ultrassom transretal. Apesar dos ótimos exames disponíveis no mercado, ainda não houve sucesso, até o momento, na redução da mortalidade e das inúmeras cirurgias desnecessárias que causam prejuízos tanto financeiro quanto em qualidade de vida para os pacientes.

Examinamos quase 1 mil biópsias prostáticas por ano. Detectamos que, em cerca de 500 pacientes diagnosticados e operados nos últimos cinco anos, 8,6% (42 pessoas) tinham menos de 50 anos e 31,2% (146 homens) apresentavam PSA inferior a 4,0 mg/ml. Tal fato é reflexo tanto de uma maior incidência da neoplasia quanto da maior procura de serviços médicos pelos pacientes, de maneira cada vez mais precoce. Este comportamento de antecipação dos exames é de extrema importância, já que, caso o tumor exista, as chances de o câncer não se alastrar, com o tratamento imediato, é menor. Mesmo considerando o câncer da terceira idade, uma vez que cerca de três quartos dos casos de câncer de próstata ocorrem a partir dos 65 anos, é preciso continuar a informar o restante da população masculina sobre sua ocorrência em indivíduos mais jovens.

As ações de tratamento são a cirurgia de prostatectomia radical, que pode ser realizada por via convencional ou laparoscópica, a radioterapia, a quimioterapia, hormonioterapia e a chamada “observação vigilante” (watchful waiting). Os resultados em relação ao tratamento são variáveis de acordo com as populações e os serviços médicos, mas é fato que, quanto antes diagnosticado e tratado, maiores são as chances de cura. A mortalidade por câncer de próstata é relativamente baixa, o que reflete, em parte, seu bom prognóstico. As taxas são 2,5 maiores nos países desenvolvidos, comparadas às dos países em desenvolvimento em certas regiões do mundo. A sobrevida média mundial estimada em cinco anos é de 58%.

A dieta tem sido apontada, em alguns estudos, como fator importante na etiologia deste câncer. Uma alimentação com base em gordura animal, carne vermelha e cálcio tem sido associada ao aumento no risco de desenvolver câncer de próstata. Já uma dieta rica em vegetais, selênio, vitaminas D e E, licopeno e ômega-3 tem indicado proteção para o desenvolvimento desta neoplasia. Outro fator apontado como de risco para a mortalidade por câncer de próstata é a obesidade. Para vencermos a luta contra o câncer de próstata, é preciso que as pessoas passem a associar uma alimentação saudável com acompanhamento médico e outros exames preventivos.

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