Rio tenta evitar expansão de favela com muro de 650 m


Líderes comunitários dizem que muralha significa uma forma de segregação

Morro Dona Marta vem sendo apontado pelo governo como a 1ª favela do Rio em que a polícia acabou com o tráfico de drogas

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

O governo do Estado do Rio decidiu construir a partir deste mês um muro de quase 650 m de comprimento, com altura de 3 metros, em parte do morro Dona Marta (Botafogo, zona sul). De acordo com a explicação oficial, será uma forma de conter a expansão da favela. Para líderes comunitários, a muralha de concreto significa uma forma de segregação.
A ordem partiu do governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), de acordo com o presidente da Emop (Empresa de Obras Públicas do Estado), Ícaro Moreno, para impedir a devastação da floresta vizinha.
O Dona Marta vem sendo apontado pelo governo como a primeira favela do Rio em que a polícia conseguiu acabar com o tráfico de drogas, desde a ocupação policial ocorrida em 19 de novembro. A floresta é tradicional rota de deslocamento dos criminosos.
Para o presidente da associação de moradores do morro, José Mário Hilário, a explicação oficial não convence. Ele disse que em nenhum momento os líderes comunitários, que representam cerca de 7.500 habitantes, foram consultados.
"Nós da comunidade, oficialmente, não sabemos de nada. Para nós, o muro não quer dizer nada. Aquele limite [com a floresta] sempre foi respeitado", disse Hilário, por telefone.

Cabral
A Folha tentou ouvir o governador sobre a muralha. Sua assessoria transmitiu por e-mail pronunciamento de Cabral Filho sobre a questão.
"Estamos investindo, como nunca antes no Rio, recursos do governo do Estado em parceria com o governo federal. Recursos esses que vão melhorar a vida do povo das favelas com escolas, habitação, saneamento, acessibilidade. Por outro lado, também estamos investindo na ordem pública, enfrentando o tráfico de drogas e as milícias, impondo limites ao crescimento desordenado. Os ecolimites vão ao encontro dessa política de investimentos sociais com ordem pública", diz a nota.
A presidente da Associação de Moradores de Botafogo, Regina Chiaradia, disse considerar a construção do muro inócua se os moradores não forem conscientizados da necessidade de preservar a floresta, que se espalha pela parte alta do morro, até o Corcovado.
"O ecolimite é positivo para a própria favela. Mas só vai haver efeito se for uma medida pactuada entre governo e comunidade. Não deve ser uma coisa imposta de cima para baixo. O ecolimite não pode ser nunca um muro de segregação, uma faixa de Gaza. Quando há pacto, pode ser uma cerca-viva."
A construção do muro, prevista para só uma das laterais da favela, está orçada pela Emop em R$ 980 mil. Na outra lateral, já há um plano inclinado e muros de propriedades particulares, o que, para o governo estadual, impede a expansão da comunidade.
O presidente da Emop anunciou que no próximo dia 5 serão abertos os envelopes da licitação. "A proposta é de proteção ao meio ambiente. Quando não há rochas ou outros protetores naturais, a comunidade avança na mata."

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