A nova ameaça à segurança no Rio de Janeiro vem justamente de quem deveria proteger o cidadão. Policiais e políticos são acusados de chefiar as chamadas “milícias”, que se espalham pelas regiões mais pobres para explorar a população.
Alguns moradores são expostos a situações de humilhação. Na reportagem do " Jornal Hoje " desta segunda (8), um homem conta que viu a milícia chegar para dominar a favela onde mora.
“A entrada da milícia foi assim, uma ocupação militar. E eles, a princípio, não cobraram nada. Inclusive, chegaram oferecendo cesta básica para as pessoas mais necessitadas. Aí, depois fizeram uma grande reunião com o pessoal da comunidade e daí eles começaram a ditar as regras que iam funcionar daqui pra frente”, disse um morador não identificado pela reportagem.
E as regras dos grupos de milícia são duras, como conta outra moradora. “A lei é deles. A gente só tem que obedecer, igual bandido. Só que a diferença é que a gente tinha que pagar. Pagar por nada, porque nada era feito. Justiça nenhuma, lei nenhuma”.
Enquanto as zonas Sul e Norte do Rio sofrem mais com os traficantes de drogas nos morros, na Zona Oeste o domínio é das milícias.
A reportagem do "Jornal Hoje" esteve em uma favela que era controlada por um grupo de milicianos. Até há pouco tempo eles mandavam no transporte alternativo, na venda de gás e de TV a cabo pirata. Além disso, o grupo extorquia dinheiro dos moradores e comerciantes da região, cobrando taxas de segurança.
“A gente, que é de baixa renda (eles cobravam), R$ 15. As pessoas que tinham mais condições, R$ 20. E a antena, R$ 35”, disse outro morador.
Medo
E, mesmo com a prisão de parte da milícia e a presença ostensiva da polícia, o medo ainda é grande. “Se você atrasasse o pagamento da TV a cabo, você já tomaria uma advertência e seria suspenso. Se no próximo mês você não pagasse, você teria que sair da sua residência e arrumar um outro local para ficar”, conta uma testemunha.
Um levantamento já identificou pelo menos 150 milícias atuando no Rio. E segundo uma investigação policial, só o grupo mais forte, que atua na Zona Oeste, é responsável por 105 mortes nos últimos anos.
“Eu mesma tenho um parente sumido agora, há poucos dias. Por isso, eu estou aqui hoje muito revoltada. Esses monstros aparecem por aí e fazem isso na vida das pessoas”, disse uma moradora.
Delegado que investiga milícia
O delegado Marcus Neves, da 35ª DP (Campo Grande), é o homem mais protegido do Rio atualmente, porque é ele quem comanda a guerra contra um grupo de milícia que age na Zona Oeste. O grupo é conhecido como Liga da Justiça.
A própria delegacia foi atacada por uma bomba há três meses. A investigação apontou que o atentado foi ordenado pela milícia da região. Quarenta e cinco pessoas já foram presas, inclusive policiais.
“A grande complexidade que envolve o combate a esses crimes e essas organizações criminosas é justamente a participação de policiais, agentes públicos nesses grupos. Esses grupos são formados na sua maioria por policiais civis e militares, eventualmente bombeiros, agentes penitenciários, eventualmente militares das forças armadas também, e com ramificação dentro da atividade política do estado”, disse o delegado.
Fonte: G1
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