A 1ª Bienal Internacional de Grafite de Belo Horizonte, que tem deslumbrado os visitantes na Serraria Souza Pinto, ganha adesões. Além da programação oficial, duas mostras voltadas para a arte de rua estão em cartaz na capital. São elas: Lote 999, na Belizário Galeria de Arte, e Rua paralela, na Gesto Gráfico. Ambas até trazem grafites, mas enfatizam a diversidade do gênero e mostram outras inovadoras possibilidades da arte de rua.
O uso de adesivos e intervenções urbanas pontua, indiretamente, o flerte dos autores com práticas vindas da arte conceitual e da experimentação. Rachel Schembri tem 24 anos, é formada pela Escola Guignard, grafita há cinco anos e está na mostra Lote 999. Ela gosta de trabalhos que tenham relação com o espaço onde estão inseridos. Vem daí a prática de criar imagens em locais abandonados, em vias de demolição, fazendo com que funcionem a favor desses trabalhos as paredes sujas, “com sua carga de tempo e história”, como explica Rachel. Os bichos (peixes, lobos e cachorros) estão presentes em várias obras dela. A artista conta que, só com o passar do tempo, percebeu que essas eram personagens recorrentes. E, por isso mesmo, prefere deixar para o espectador a questão do significado das imagens.
Maria Clara Xavier/Divulgação |
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Obra de Alex Valauri integra mostra da Galeria Gesto Gráfico |
“Lote 999 reúne obras com visualidades variadas, é mostra jovem e bem contemporânea. Os trabalhos dialogam entre si, mas também deixam ver a personalidade de cada artista”, observa Rachel, creditando esse aspecto ao perfil etário e estético dos participantes. “Não se trata, simplesmente, de trazer a rua para dentro da galeria, mas de fazer o grafite circular por outros espaços”, completa.
Para ela, a troca de ambientes desperta as pessoas para a valorização e a aceitação do grafite. Na exposição, Rachel apresenta pintura criada na área externa da galeria, com lobos uivando e fazendo com que a iluminação ganhe ares noturnos.
Dereco/Acervo pessoal |
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Trabalho do artista plástico Dereco, exposto na mostra Rua paralela |
ADESIVOS Dereco tem 21 anos, é estudante de filosofia e expõe na mostra Rua paralela. Ele também considera importante a troca de contexto: “A exposição tira as imagens da rua, onde elas podem passar despercebidas e consideradas sem importância, e as leva para lugar asséptico, limpo, de contemplação. Isso faz com que recebam atenção e permite que se perceba que há algo sendo falado nas ruas”, explica. Ele apresenta adesivos com rostos de pessoas com bigodes na série Cidadão comum.
“O título já indica o que é a obra: o trabalho de um cidadão comum querendo o olhar de outro cidadão comum”, afirma Dereco. “Ninguém está reivindicando autoria, privilégio de um suporte, nem contemplação, mas a busca de cumplicidade”, acrescenta. “A arte de rua lida com a realidade, é mais sincera e tem verdade”. Na opinião dele, a soma de todos esses elementos faz a força da arte de rua.
O QUE VER
• RUA PARALELA
Obras de Alex Valauri, Dereco, João Maciel, João Teodoro, Ricardo Tatoo e grupo Colundria Armada. Galeria Gesto Gráfico, Rua Orange, 43, São Pedro, (31) 3225-7628. De segunda a sexta-feira, das 14h às 20h. Até dia 26.
• LOTE 999Obras de Daniel Ovlha, João Teodoro, Tatoo, Gton, João Maciel, Manoel Carvalho, Rachel Schembri. Belizário Galeria de Arte, Rua Ceará, 999, Funcionários, (31) 3224-5634. De segunda a sexta-feira, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 14h. Até dia 13.
• 1ª BIENAL INTERNACIONAL DE GRAFITE DE BHVários artistas. Serraria Souza Pinto, Avenida Assis Chateaubriand, 809, Floresta. Diariamente, das 9h à meia-noite. Até domingo. Entrada franca.
PALESTRAHoje, às 16h, na Bienal do Grafite, na Serraria Souza Pinto, Roberto Carlos Madalena, coordenador do programa Educação para o mundo do trabalho, do Projeto Quixote, fará palestra sobre o tema Criatividade e cidadania. Ele vai abordar o grafite a partir da experiência desenvolvida na Agência Quixote Spray Arte, voltada para o trabalho e desenvolvimento da cidadania junto a jovens em situação de risco.
Um comentário:
A 1a. Bienal de Graffiti foi muito bom para o graffiti nacional, vários jovens hoje vêm nessa arte além de uma forma de expressão uma fonte de geração de renda.
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