Mensagem de Natal

São muitas as solicitações e também as deturpações que se inserem na compreensão do sentido mais verdadeiro da festa
Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
Esta mensagem é uma reverência inspirada na delicadeza de Deus, o Pai de todos os homens e mulheres, a maior delicadeza, a delicadeza insuperável, a delicadeza de enviar Jesus, o seu Filho Amado, ao mundo. Ele vem ao encontro: “Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei, e todos recebemos a dignidade de filhos” (Gl 4,4). A delicadeza de Deus, na encarnação do Verbo, Jesus Cristo, estabelece diálogo direto entre corações, divino e humanos: “Muitas vezes e de muitos modos, Deus falou outrora aos nossos pais, pelos profetas. Nestes dias, que são os últimos, falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual também criou todo o universo” (Hb 1,1-2). A grandeza desta delicadeza de Deus, Jesus Cristo feito homem, Deus conosco, nos sustenta e inspira para que “corramos com perseverança na competição que nos é proposta, com os olhos fixos em Jesus, que vai à frente de nossa fé e a leva à perfeição” (Hb 12,1b-2ª).

Com os olhos fixos em Jesus! Faço votos que o tempo do Natal seja vivido assim por nós todos. Tendo os olhos fixos n’Ele, seremos sensibilizados por esta delicadeza de Deus, compreendendo o sentido de nossas vidas e vivendo a certeza de que n’Ele está a fonte de toda alegria duradoura. Não é fácil, em se considerando as circunstâncias atuais, fixar os olhos em Cristo Jesus, razão única e insubstituível das festas natalinas. Não é fácil porque são muitas as solicitações; também as deturpações que se inserem na compreensão do sentido mais verdadeiro da festa. A tendência é fixar o coração no que está do lado de fora. As confraternizações são vividas, tantas vezes, apenas como um momento de encontro e de desfrute que pouco alimenta uma fraternidade solidária. A fraternidade solidária é muito mais do que o congregar-se já tradicional para comer, beber. A fraternidade solidária nasce de uma redobrada atenção a esta presença de Deus Conosco.

A alegria desta presença faz brotar no coração um modo novo de ver as coisas e de sentir. Gera os propósitos novos e indispensáveis para qualificar melhor a vida que se tem como dom deste Deus que vem ao nosso encontro para, oferecendo a própria vida, garantir o resgate definitivo da vida de todos nós. Penso, neste momento, especialmente, nas crianças, também nos jovens. Mas particularmente nas crianças. Seus corações estão alimentados pelo folclore em torno de Papai Noel. Esta dimensão folclórica das festividades natalinas tem também seu sentido. Suas origens, tantas vezes pouco conhecidas, remetem ao sentido do bem e da solidariedade, ao compromisso com a alegria que se pode devolver ao coração das pessoas. Contudo, não pode substituir a razão primeira, única, central, insubstituível, inigualável da festa deste tempo do Natal: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). Não há outra razão mais importante para este tempo de festa.

É necessário, pois são estes os verdadeiros votos para que seja abençoado este tempo do Natal, colocar no centro de nossas comemorações e festividades, no centro de nossos corações e de nossas vidas, como está no centro do presépio, Cristo Jesus. Cristo é a luz verdadeira. Ele é a garantia de que “o povo que andava nas trevas viu uma grande luz, para os que habitavam as sombras da morte uma luz resplandeceu” (Is 9,1). Esta luz fulgurante, presença amorosa de Deus Conosco, ilumina os cenários que dolorosamente emolduram o Natal do Senhor deste ano, de cada ano. Estes cenários fazem desfilar diante de nós todos os sofrimentos da humanidade, as dores de homens e mulheres, os escárnios lançados sobre os pobres, as perversidades que perpetuam as brigas e desavenças, a incapacidade de transformar ódios em perdão e reconciliação, os descasos, a ganância que chafurda tantas pessoas na lama da corrupção e dos interesses espúrios.

A delicadeza de Deus, Jesus Cristo, o Salvador, que vem ao nosso encontro, tem força para recuperar a sensibilidade perdida, a convicção de que é bom ser bom e o empenho por uma sociedade justa e solidária, enquanto caminhamos com Ele, indo ao encontro do Pai, que o envia, nossa vida definitiva. Faço votos de que este tempo de Natal seja um exercício meditativo e orante, muito profundo, desta verdade. Este exercício encharcará o coração e fará dele uma fonte inesgotável de delicadezas, grandes e pequenas, nos gestos e palavras, nas partilhas e pelo comprometimento com grandes projetos para o bem de todos, pela vida, a vida, em razão da qual o Senhor Jesus veio: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10). Seja esta a experiência do nosso Natal. Assim, nosso Natal será Santo, abençoado. São estes os meus votos, de coração, reacendendo em todos nós a chama da esperança.

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