O aumento da violência nas escolas públicas e particulares brasileiras, em geral, tem sido atribuído à omissão das famílias na educação dos filhos, quando, na verdade, pode ser conseqüência da falta de adaptação das crianças e dos jovens ao mundo. Os valores de quase toda sociedade contemporânea vinculam-se à produção e ao lucro, mas, já que a criança e o jovem não os geram, passaram a ser vistos apenas sob a ótica de consumidores. Embora vivam melhor do ponto de vista do conforto material que a tecnologia oferece e de certa liberalidade que podem ter no comportamento, as pessoas de todas as faixas etárias sentem que sua participação social restringe-se a consumir o supérfluo. O que é particularmente doloroso para quem não tem dinheiro para exercer esse papel indigno destinado aos cidadãos. Além disso, frente ao discurso amoroso das religiões, a desigualdade social é uma contradição difícil de ser compreendida pelos mais jovens, que ainda não aprenderam a lidar com a hipocrisia.
A vida verticalizou-se; não há mais casas com quintais, na periferia pobre das grandes cidades do País. A maior parte da população vive em apartamentos pequenos e em ruas barulhentas, ou em condições piores, nas favelas. Os pais e as mães precisam sair para trabalhar fora, deixando as crianças sozinhas. Fechadas em pequenos espaços, em virtude da violência, elas acabam ficando muitas horas sob o domínio da televisão, que lhes estimula o consumo. O lazer é caro para as famílias que não dispõem de recursos financeiros sequer para se alimentar, por outro lado, as mais afortunadas têm poucas opções além da ida ao shopping, nos fins de semana.
A sociedade brasileira ainda não se deu conta de que está sonegando às crianças e aos jovens outra parte da vida, que foi tão importante para as pessoas de outras gerações. Trata-se do contato com a natureza, que não pode ser substituído por qualquer outra atividade, pois é por meio dele que as pessoas conseguem transcender à dimensão meramente material da existência. A globalização produziu cidadãos alienados para o consumo de toda espécie, e fez a todos reféns. Assim, na escola, a educação, que se mostra liberal na aparência, continua, em sua essência, autoritária, pois não consegue apresentar alternativas de vida para as novas gerações. Aquelas professoras e professores que eram amados porque levavam seus alunos a querer transformar o mundo, e que inspiraram homens e mulheres que deram e ainda estão dando uma contribuição valiosa para nossa história, quase não existem mais. Quando uma menina de 11 anos escreve de Ibirité, cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte, para o “Papai Noel dos Correios”, desejando que ele viva mais mil anos, vem-nos o temor provocado pelo aquecimento global. Quando, porém, pede cadernos de desenho e conta, com entusiasmo, que costuma compartilhar seu material escolar com seus colegas de turma, vizinhos e primos, a chama da utopia volta a iluminar a noite do planeta. |
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