O guerrilheiro da poesia

Carlos Herculano Lopes
Renato Weil/EM/D.A Press


Sou um cara pacato e não
gosto de aparecer. Daí
que o sucesso relativo
entre os meus pares
dá pro gasto. Aparece
muito quem badala muito


Tião Nunes, poeta


Para comemorar os 70 anos do poeta, designer gráfico, publicitário e editor Tião Nunes, completados na semana passada, e os 40 da publicação do seu primeiro livro, Última carta da América, será lançado hoje, na Quixote Livraria e Café, o volume Sebastião Nunes (Editora UFMG), organizado pelo poeta e professor de literatura Fabrício Marques.

A edição integra o projeto de pesquisa Acervo de escritores mineiros, coordenado pela Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, e faz parte da coleção Inéditos e esparsos, dirigida pela professora Eneida Maria de Souza.

Com cerca de 20 livros publicados, entre eles Somos todos assassinos e História do Brasil, Tião Nunes nasceu em Bocaiúva, no Norte de Minas, mas há muitos anos mora em Sabará, onde dirige as editoras Dubolso e Dubolsinho (dedicada ao público infanto-juvenil).

Fabrício Marques explica que o volume traz ensaio sobre a obra de Nunes – “um guerrilheiro mamaluco” –, fotos raras relacionadas à trajetória do escritor e a reprodução de várias cartas que ele trocou com escritores e intelectuais como Glauco Mattoso, Sebastião Uchoa Leite, Antonio Candido, Millôr Fernandes, Carlos Drummond de Andrade e Augusto de Campos, entre outros.

ENTREVISTA Outro bom momento do livro, que conta com texto inédito do próprio Tião, é a longa entrevista concedida por ele a Fabrício Marques. “Sou um cara pacato e não gosto de aparecer. Daí que o sucesso relativo entre os meus pares dá pro gasto. Aparece muito quem badala muito. Todas as atividades que exerci confluíram, na verdade, no sentido de que eu mesmo faço de cabo a rabo meus livros, isto é, desde escrever até editar, inclusive no acompanhamento gráfico. Creio que são raras as pessoas que têm competência para tal abrangência, embora, hoje em dia, quase todo escritor se considere editor”, declarou o homenageado.

Feliz por ter desenvolvido o projeto, sobretudo porque admira a obra de Tião Nunes, Fabrício afirma que, ao publicar seu primeiro livro, o poeta inaugurou forma única de expressão artística e intelectual, poucas vezes obtida na literatura brasileira. “Ao completar 40 anos de produção de poemas e de ficção experimental, construídos sob a tensão permanente entre texto e imagem, ele mantém coerência rara entre seus pares, colocando sob suspeita um sistema de valores estabelecidos e elegendo como alvos de sua guerrilha pessoal a classe média, a publicidade, os poderes, enfim, a grande tragicomédia que é a existência humana”, conclui o organizador de Sebastião Nunes.

SEBASTIÃO NUNES
Livro de Fabrício Marques. Lançamento hoje, a partir das 19h, na Quixote Livraria e Café, Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi. Informações: (31) 3227-3077.

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