Encantadores e Presidários

Rodrigo Albert/ Divulgação



As pessoas se emocionam, comparecem, elogiam, o
que nos satisfaz muito e demonstra a importância
do que fazemos

Rosana Mont’Alverne, contadora de histórias


Entre as pioneiras do gênero, Rosana Mont’Alverne também é a responsável pela criação dos Encantadores de Histórias, da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac), de Itaúna. O grupo reúne presidiários, que já se apresentam profissionalmente em várias regiões. “Esse grupo tem sido fonte de grande aprendizado para mim, e o trabalho com eles dá imenso prazer. Nunca fui tão feliz como sou realizando essas oficinas semanais com eles”, afirma a contadora, que há quatro anos dirige os Encantadores. Ela conta que muitos detentos e egressos encontraram alternativa na lida com a palavra. “Eles se identificam com a figura do herói, conseguem resignificar suas trajetórias. O projeto desencadeia sentimento de inclusão social e ajuda a humanizar pessoas que, ao contrário do que muitos pensam, não são feras”.

O acesso ao trabalho criativo também favorece o relacionamento dos presos com familiares, alimenta a auto-estima, estimula hábito de leitura e se oferece como incentivo para a retomada das salas de aula, segundo a diretora. “É uma caminhada bacana. Nem todos dão continuidade, ou se tornam contadores, mas a passagem pelo grupo sempre ajuda de alguma forma”, diz, lembrando recente lançamento do livro O segredo da caixa, escrito pelos Encantadores. Neste sábado, o Aletria também lança o livro Feira de histórias, na feira Tom Jobim, resultado de outro projeto regular da instituição.

O instituto, que conta com cerca de 50 alunos em formação, tem professores com histórias de vida que se assemelham às dos personagens. A professora Nina Quirino, fundadora do grupo Colar de Flor, está entre eles. A dona-de-casa, que não havia concluído sequer o ensino fundamental, voltou às salas de aula, à revelia da vontade do marido, mas motivada pelos filhos. Depois do supletivo, ingressou na escola de contação de histórias e vem acumulando prêmios, como o destaque recebido em concurso realizado pela Fundação Municipal de Cultura. Ele ficou em primeiro lugar, recebeu troféu no Encontro das Literaturas, e agora se prepara para receber novo reconhecimento, como talento da maturidade, no Recife. “O mundo precisa dos contadores que resgatam a presença física, a importância do olhar dado como um presente. Contar histórias é uma maneira de resistir numa sociedade cada vez mais pasteurizada”, afirma Rosana Mont’Alverne.

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