THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O intuito dos vestibulares ao exigirem do candidato a redação de um texto é selecionar pessoas que tenham grau de maturidade intelectual suficiente para bem aproveitar a experiência que a universidade deve propiciar ao jovem, qual seja a da reflexão e da construção do conhecimento.
Resultado de um percurso que começa na prática da leitura e da discussão de temas, a redação constitui importante instrumento de avaliação.
Neste espaço, publicam-se textos capazes de suscitar observações úteis aos estudantes em geral, não apenas ao seu autor. Podem apresentar algum tipo comum de dificuldade ou mesmo uma resposta adequada ao tema proposto.
Desta vez, propôs-se como tema de reflexão a importância de conhecer a vida privada dos candidatos a cargos públicos. A maioria dos estudantes demonstrou acreditar que a pessoa, com seus valores e seus hábitos, não se dissocia do exercício da atividade pública.
O texto selecionado, como a maioria dos demais, revela preocupação com a construção (introdução, desenvolvimento e conclusão), mas realiza esse procedimento de maneira escolar. A tentativa de "definir" o que seja um político resultaria interessante se fosse criada uma definição original ou se de uma definição muito simples fosse derivado algo original. Do modo como está, soa ingênua.
Além disso, a locução "sendo assim" faz pressupor que se vá apresentar uma conseqüência da definição, mas o que se lê é uma afirmação vazia.
Frases de sentido vago são constantes no texto ("colocar no poder alguém que tenha totais condições de exercer sua função", "saber um pouco da vida dos políticos pode esclarecer muitas coisas").
Nos quatro parágrafos a contar do inicial, o redator repete idéias que não desenvolve; no final, em lugar de uma conclusão, o parágrafo inicia-se por um conectivo de oposição ("no entanto"), que introduz uma ressalva ao que vinha sendo dito. Essa idéia deveria estar na introdução e ter sido desenvolvida no decorrer do texto. É comum o estudante alinhar as idéias de acordo com a ordem em que lhe vêm à mente. O resultado disso é um texto desorganizado. O ideal é fazer um rascunho e reformular esse texto "bruto" que surge num primeiro momento.
Organizar o texto pressupõe hierarquizar as idéias, agrupá-las de modo a distinguir as principais das secundárias, estabelecer entre elas relações semânticas e, sobretudo, criar uma linha de raciocínio.
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO, consultora de língua portuguesa do Grupo Folha-UOL, é autora dos volumes "Redação Linha a Linha" (Publifolha) e "Uso da Vírgula" (Manole).
Um blog para discussão de temas pertinentes a Cena do Hip Hop em toda a sua abrangência como forma de Cultura e instrumento de luta e afirmação.
REDAÇÃO
Texto requer organização do raciocínio
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