Tudo parece normal, apenas parece

Gilson E. Fonseca - Consultor de empresas
O Brasil que se desenvolveu tanto em todas as áreas científicas e tecnológicas, sendo destaque em muitas delas, tem nos decepcionado com a perda de valores morais e éticos, jamais imaginada. A corrupção ocupa o 5º lugar no mundo e as principais causas são problemas crônicos como a impunidade, educação precária, grupos de oligopólios e cartéis com grande influência governamental e a política comandada por “coronéis” que são verdadeiros sanguessugas do estado. O prof. Pierre Weill, falecido recentemente, grande estudioso do comportamento e valores humanos, diante de tantos desmandos e inconseqüências, inteligentemente, utilizou-se do neologismo normose para expressar tudo aquilo que é anormal e se vê como normal. A gerência holística, tão sonhada por ele, está longe de ocorrer: Brasília não deixa. Os três poderes da república estão contaminados e as notícias recentes, como no judiciário do Espírito Santo, são estarrecedoras.

Pessoas de bem estão extremamente preocupadas e tudo terá que começar pela educação das crianças, porque mudar adultos sem princípios morais é quase impossível. A aliada seria a Justiça, mas como a impunidade está generalizada, não se pode contar com ela. Quando pensamos que nada ruim pode ocorrer, depois de determinado fato, somos surpreendidos com outros piores e, parece, também, que a sociedade se cansou tanto que entregou os pontos e pouco reage e aí está o perigo de ela ver tudo normal.

Em 1994, com a desculpa de conhecer as riquezas do país, a Receita Federal permitiu declaração de bens sem comprovação de origem e de renda. Os sonegadores ganharam a legalidade, igualmente aqueles que sempre cumpriram com suas obrigações. Agora, a Receita irá anistiar quem deve até 10 mil reais. Como a carga tributária é de cerca de 40%, provavelmente, seja a causa dessa inadimplência. Até aí é aceitável, mas, desanimador mesmo é o governo federal declarar que estuda permitir a todos que mantêm contas no exterior, não declaradas, poder repatriá-las, sem comprovação de origem, pagando apenas 8% de Imposto de Renda. A alegação é de que o país precisa dar liquidez ao mercado , pela falta de crédito que a crise internacional está gerando, e estima-se que há US$ 70 bilhões no exterior escondidos. O estrago moral não seria muito pior? A maioria a ser beneficiada é de políticos corruptos, sonegadores, contrabandistas, traficantes, doleiros e deveria é estar presa. Outro fato intrigante é que se fala quase só dos corruptos, passando a idéia de que o corruptor não comete o mesmo crime. Um hospital sempre nos inspirou o maior respeito, mas não para os formandos em medicina do Paraná, que promoveram a maior baderna, inclusive soltando foguetes dentro do pronto-socorro, na casa que será deles, sem se importar com os doentes. As evidências do estado de normose são tantas que nosso futuro está seriamente comprometido pela falta de bons exemplos, que deveriam vir de cima e as primeiras vítimas são os jovens.

Nenhum comentário: