Nóis Tudo Hip-Hop


por Marcelo Buraco*

A primeira premiação do movimento hip hop da região do grande ABC foi um evento marcante e reuniu uma seleção de grandes artistas, produtores e militantes do movimento da região que fizeram e fazem à história do hip hop no ABC paulista.


Buraco, comemora o prêmio Guerrilheiro Cultural

A iniciativa pioneira foi da rapaziada do selo “Pau de dá em doido” que também se destaca na cena do movimento e marcaram um golaço ao juntar toda esta galera, trazendo a lembrança seus feitos e legados. Eu não poderia faltar nesta festa e me fiz presente. De quebra fui um dos homenageados e vou narrar pra vocês como foi a premiação intitulada “Nóis Tudo Hip Hop”.

Dia 5 de dezembro de 2008 às 18 horas começam a chegar manos e minas das sete cidades que compõem a região do Grande ABC paulista: Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. O local escolhido para o evento foi o Saguão do Teatro Municipal de Santo André.

Pra quem nunca veio a região do ABC paulista, vale a pena destacar a importância econômica, cultural e social da região que possui uma população de quase 3 milhões de habitantes. Extensos corredores de vias urbanas interligam toda região com a capital na qual faz limite de um lado, e do outro lado à baixada Santista que possui o maior porto do Brasil. O que acontece aqui reverbera em todo Estado de São Paulo e consequentemente no país. Perguntem ao torneiro mecânico onde ele trabalhava antes de ir pro Palácio do Planalto.

Com o movimento hip hop no ABC a parada foi à mesma. Os grupos daqui se organizaram logo no inicio do movimento no Brasil. Várias casas de shows animavam as noites da galera. As sedes e praças dos bairros e cidades eram tomadas aos finais de semanas pela galera que se reunia pra se divertir e apresentar suas músicas, danças e graffites. E foi assim que artistas da região marcaram presença destacada neste movimento sócio-cultural que foi tomando conta das periferias em São Paulo.

Mesmo que relativamente próximos um dos outros, é mô treta reunir no mesmo evento tantos manos e minas que já fizeram várias correrias no movimento, e até por isto mesmo, geralmente estão organizando algum evento, atividades, nos corres de trabalhos ou tarefas pessoais, não é fácil reunir esta nata, a maioria com mais de 15 anos de atuação no hip hop.

Aí a galera do selo “Pau de dá em doido” capitaneado pelos manos: Enézimo que é vocalista do grupo Armagedom, grupo revelação do rap em 2000, Arnaldo Tifu que vem se destacando São Paulo a fora nos eventos de rap free style e o DJ Nato PK, tiveram a idéia de realizar a primeira premiação do movimento hip hop da região do grande ABC. E nesta primeira de muitas outras edições, como eles fizeram questão de frisar, iniciou homenageando aqueles que se destacaram aos longos dos anos devido à importância ou contundência de seus trabalhos.

Som rolando, a galera chegando se cumprimentando, interagindo e os manos avisaram: Vamos chega todo mundo no Anfitetro porque vamos dar inicio a noite de premiação.

Telão preparado e monitorado pelo DJ Nato PK, no palco reluzia as condecorações e os Mestres de Cerimônias Tifu e Stefânie deram inicio a premiação.

Outra grande sacada foi a particularidade com que chamaram cada premiação: ao DJ que marcou a história do movimento na região a nomenclatura do prêmio foi chamada de “Baileiro”, em função dos grandes bailes realizados pelos DJ’s que reuniam a galera pras festividades. Ao MC deram o nome de “Sonzera” devido ao peso que significou a música na cabeça da galera. E a cada premiação se abria no Telão o mano Enézimo fazendo um breve relato sobre o hip hop, aquele elemento cultural que estava em premiação e fazia também um relato do homenageado.

Só pra vocês terem uma idéia, quando eu tinha 13 anos saia de casa na madruga pra ver o DJ Tubarão que recebeu a homenagem de “Baileiro” tocar no Clube House, uma antiga casa de shows que sacudia as noites de fim de semana. Hoje ele toca pelo Brasil inteiro e já gravou com grandes nomes até da MPB.

Vocês se lembram daquele Rap: Alguém pague uma cerveja agora pra mim/ Já fui a outros bares, agora estou aqui/ Só foi 5 cervejas que eu bebi/ Mas ih daí... quem vai pagar pra mim?

Estou falando de Mister Théo que recebeu o prêmio “Sonzera” e vinte anos atrás foi tocado de norte a sul do Brasil com o rap da cerveja, criada em cima da melodia do rap The Doctor de Kool Moe Dee. A galera foi à loucura quando o mano que há muito tempo não víamos, cantou no palco acompanhado no compasso das palmas.

Outra pegada nervosa foi quando o mano Déxter direto do exílio falou ao radinho agradecendo a homenagem pro grupo “509 E” na premiação “além da quebrada” se destacando com principal grupo de rap do ABC no cenário nacional.

O Mano Nino Brow foi homenageado com o prêmio “História Viva” e aí nem precisa explicar muito o porquê, né? O cara simplesmente foi um daqueles que viveu a transição do “original funk” de James Brown e George Clinton para o rap de hoje.

Foram vários os destaques da noite, aliás, a noite toda foi de destaque, mas gostaria de falar de mais um que foi o prêmio “Quilombo 20” que representa o local ou projeto que marcou a cena do hip hop da região por reunir cotidianamente a galera das periferias de todo ABC, a Casa do hip hop de Diadema, reconhecida mundialmente.

Enfim manos e minas, a fita foi pesada e terminou regado de muito hip hop com a Back Spin Break Crew, DJ Nato PK, o rap do Armagedom com participação do Polemikaos. Fica o convite pra próxima edição do “Nóis tudo Hip Hop” que até no nome traz a marca da mistura do singular com o plural, e do erro proposital na concordância por parte daqueles que nunca ou pouco tiveram oportunidades, mas aí criaram pra si mesmo a sua própria chance.

Eu e o Beto Teoria que compomos a Nação Hip Hop Brasil e somos da região do Grande ABC fomos homenageados na premiação, eu com o prêmio “guerrilheiro cultural” e o Beto Teoria com o prêmio “resistência”. Agradecemos aos manos e minas do “Selo Pau de dá em doido” pela homenagem, e mais do que isto, por escreverem mais esta bela página da história do movimento. E o fizeram com muita criatividade, esforços pessoais e coletivos, muita competência na produção e união.

Segue na íntegra a relação de todos os homenageados pelo “Nóis Tudo Hip Hop”.

Baileiro - DJ Tubarão
Sonzera - Mister Theo
Black Power -Paradise
Arrisco um Risco (graffite) - Guerra de Cores
Role Certo (Casa de Baile) – Clube do Rap
Quilombo 20 - Casa do Hip-Hop de Diadema
Mulher Hip-Hop - Neuza
Multimídia Alternativa – Rádio Zumbi
Guerrilheiro Cultural – Marcelo Buraco
Literatura Hip-Hop – Livro ABC RAP
Vanguarda – Mc´s Black
Coletivo – Posse Hausa
Resistência – Beto Teoria
Dança Urbana – Back Spin Crew
Além da Quebrada - 509-E
História Viva - Nino Brown




*Marcelo Buraco, Membro-fundador da posse Negroatividade de Santo André


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