CIDADANIA
Morro das Pedras inaugura biblioteca comunitária e aposta na formação cultural para ajudar a prevenir criminalidade
| Cristina Horta / EM/ D.A Press | | Uma das organizadoras do espaço, Elaine Silva quer ver maior doação de livros de apoio a cursos superiores | Dom Casmurro, Dom Quixote e até Dom Pedro I já têm endereço certo no Morro das Pedras, na Região Oeste de Belo Horizonte. E tanta nobreza foi recebida com a devida pompa e circunstância. O aglomerado inaugurou ontem, com música e festa, sua biblioteca comunitária, que passa a funcionar na Praça do Sereno. O espaço cultural Fala bem morro! é pequeno, mas é fruto de um sonho grande: surgiu da demanda do cursinho pré-vestibular comunitário e tem apoio de diversas instituições que apostam na formação cultural para prevenir a criminalidade. O Morro das Pedras é uma das comunidades com altos índices de violência na capital.
“São vários os fatores que propiciam a criminalidade. Não adianta culpar só o tráfico de drogas, por exemplo”, acredita Ludmila Maia, técnica do programa de mediação de conflitos da superintendência de Prevenção à Criminalidade da Secretaria de Estado de Defesa Social, que acompanhou o desenvolvimento do espaço cultural. De acordo com ela, resolver questões como a desigualdade social, a falta de acesso ao lazer, à arte, ao conhecimento e à saúde são ações verdadeiramente preventivas, nesses casos.
É por isso que os dois mil livros nas prateleiras da biblioteca são tão significativos para a comunidade. Neles está o trabalho das organizadoras Elaine Silva, Rosimary Oliveira e Cristiane Ribeiro, todas nascidas e criadas no morro, depois de um ano mobilizando esforços para concretizar o espaço cultural. Tudo que está ali foi doado: as prateleiras, o computador, os livros.
A origem da biblioteca foi o cursinho pré-vestibular comunitário, que atende 25 alunos do aglomerado. O nome Fala bem morro! é emprestado de outro projeto que viabiliza a troca de cartas entre os moradores das sete diferentes vilas que compõem o Morro das Pedras. A idéia é integrar as comunidades, para além das fronteiras do tráfico. A biblioteca começou com apostilas relacionadas ao vestibular e logo veio a necessidade de expansão.
O porteiro João Marques, de 47 anos, não pensa em entrar em nenhuma faculdade, mas aprovou a inauguração. Passou mais de 30 minutos folheando vários livros e soltando exclamações como “Nossa, Guimarães Rosa é show!”. Marques defende que a leitura seja hábito incentivado em casa: “Meus filhos adolescentes preferem desenhos na televisão, mas também gostam de ler”. O autor favorito do porteiro é Paulo Coelho.
De acordo com Elaine, uma das organizadoras do espaço, o futuro é investir nas prateleiras dedicadas aos livros de ensino superior. Com 27 anos, ela cursa o 3º período de psicologia na PUCMinas e foi uma das fundadoras do cursinho comunitário. Acredita que uma vitória leva a outra: “Não adianta só dar a base, tem que ter continuidade. Porque existe uma galera boa que já precisa de apoio também na faculdade”. O Fala bem morro! já abriga títulos de administração, psicologia, direito e economia. | |
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