A luta contra o crime não é questão partidária, mas de política de governo |
GLÁUCIO SOARES
ESPECIAL PARA A FOLHA
Os dados recém-divulgados sobre o decréscimo da violência no Rio de Janeiro mudam a estratégia eleitoral para os próximos pleitos. Até então, o único caso claramente exitoso era São Paulo, com uma drástica redução da criminalidade violenta que atravessou quatro administrações (e três governadores) estaduais, todos do PSDB.
Outro Estado que mostrou dados promissores, mas muito aquém de São Paulo, é Minas Gerais, que, no último quadriênio, reduziu a taxa de crescimento dos homicídios, que aumentaram mais devagar, e, nos últimos dois anos, a diminuiu.
Os crimes violentos baixaram. Como há e houve outras administrações tucanas sem bons resultados na luta contra a violência, é óbvio que não bastava ser tucano, mas a propaganda partidária sugeria que era necessário ser tucano para vencer a luta contra o crime.
Bravatas políticas
O cenário das administrações de outros partidos era negativo. Explosões de violência em Estados com administrações partidárias diferentes, como Alagoas, Bahia e Paraná. Em Pernambuco, a violência desafiou diferentes governadores, de diferentes partidos. Houve muita bravata política e poucos resultados.
A divulgação de que, nos nove primeiros meses do ano, os homicídios no Rio de Janeiro atingiram um nível muito baixo (alguns afirmando que era o mais baixo desde 1991), trouxe um brado partidário de alerta: afinal, era uma administração peemedebista, que sucedeu duas administrações catastróficas, igualmente peemedebistas, que obteve esses bons resultados.
Além da redução nos homicídios e nos furtos e roubos de automóveis, os autos de resistência (mortos pela polícia), calcanhar-de-aquiles da política de segurança do governador Sérgio Cabral, caíram um pouco em 2008, embora se mantenham num nível inaceitável. Os furtos e roubos de veículos, cujos dados são confiáveis, continuaram caindo, mas os grandes ganhos foram anteriores, nos primeiros 18 meses dessa mesma administração.
Falta de consenso
A segurança pública se transformou num tema eleitoral relevante, num momento em que poucos governadores apresentam ou apresentaram bons resultados. Ter um governador peemedebista com resultados positivos na luta contra o crime e a violência e algumas administrações tucanas com resultados negativos simplesmente demonstrou que não se trata de questão partidária, de que um partido teria know-how, bons gestores, e, os demais, não.
Não é o partido, mas as políticas de segurança adotadas pelo governador e, mais especificamente, pelo seu secretário de Segurança Pública.
As políticas adotadas no Rio de Janeiro são consideradas duras, pela maioria dos analistas sérios, e até enfrentacionistas, pelos mais críticos. Diferem das implementadas em São Paulo, cuja explicação tampouco é consensual.
Há argumentos que enfatizam o crescimento do número de presos em São Paulo, outros que enfatizam a elevação da qualidade técnica e moral da polícia, outros que apontam para a redução da coorte jovem, mais inclinada aos crimes violentos, outras ainda apregoam os ganhos educacionais e muitas mais.
Não obstante, as políticas implementadas no Rio produziram resultados, inclusive algumas focalizadas, como as usadas em favelas e outras áreas específicas, os exemplos da favela Dona Marta e da Cidade de Deus sendo os mais recentes.
O crime e a violência, elementos-chave da segurança pública, entraram no debate político para ficar. A relevância está indicada pela mídia. O fato de o debate ter atingido a mídia acarretou sua melhora.
Já não bastam citações eruditas, afirmações ideológicas ou bravatas políticas: o debate, em alguns Estados, já se faz com dados, com análises estatísticas crescentemente sofisticadas, nas quais quem afirma tem que demonstrar. São boas notícias.
GLÁUCIO SOARES é sociólogo e pesquisador do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro. É autor de "Não Matarás" (FGV).
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